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2,0 milhão/mês
Terça-feira, 23/4/2002
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Bruno Garschagen

Procura-se homens e mulheres, entre 20 e 30 anos, que ainda não tenham sido embalsamados por algum pretenso pensamento único ou qualquer ideologia que o valha; que sejam inquietos; que tenham necessidade de se mover além das paredes sem acabamento que limitam a vontade; que vejam muito mais graça na maldição do que na bênção; que achem de um desperdício sem precedentes qualquer reunião pretensamente séria com mais de três pessoas; que não tolerem discursos, inclusive os próprios; que achem desnecessária qualquer forma de fé no imponderável (ou improvável); que acreditem sem reservas que acreditar em algo sem reservas é de um absurdo inominável; que não tentem aplicar a dialética hegeliana para provar que o refrigerante diet tem o mesmo paladar do confrade açucarado e calórico; que transformem suas fragilidades em algo menos sem sal, mesmo que com Biotônico Fontoura; que tenham a certeza de que títulos e diplomas só servem para provar de maneira irrefutável que, a exemplo dos cães, até os idiotas podem ter pedigree; que saibam que o pedigree nada mais é do que o atestado documental e falso de que filhos de uma cadela são os outros; que achem que o grande problema da direita é o de ser essencialmente canalha e, o da esquerda, é não ser vermelha aos daltônicos; que nunca digam que álcool serve para socializar - é, fundamentalmente, um produto que serve à embriaguez, apenas; que considerem festas o modo mais estranho que os humanos encontraram para se expor ao ridículo - por isso, o alto consumo de bebida nesses locais; que não sejam ingênuos a ponto de imaginar que alguém que lê John Grisham vá, necessariamente, ler Lawrence Sterne; que não façam de suas vidas privadas uma revista Caras; que saibam que colocar os pingos nos "is" é uma figura de linguagem desgastada e fora de moda (e ainda sem serventia); que enxerguem nas abomináveis fotos de formatura muito mais um bibelô chinês - objeto criado para ser devidamente escondido no armário - do que a lembrança de uma conquista; que gostem de frivolidades; que bebam uísque e chope preto; que desconfiem de qualquer elogio gratuito; que não sejam ingênuos ao achar que entidade estudantil possa fazer mais do que emitir carteirinha de meia-entrada; que reconheçam que a meia-entrada salvou o movimento estudantil após o fim da ditadura militar; que não tenham como meta na vida serem estampadas em colunas sociais; que duvidem sistematicamente de todos os que não conhecem algo e mesmo assim gostam, do ki-suco ao croissant (se é que vocês me entendem); que ignorem solenemente todos os chatos, que se julgam tão importantes a ponto de afirmar que não gostamos deles; que nunca digam "on the rocks"; que riam da vaidade, mas não achem nem um pouco de graça em pavão que relincha e dá coice; que desliguem seus celulares e pagers no teatro, cinema e motel; que não se reunam só para beber - falar mal de alguém é sempre um exercício prazeroso; que saibam que curso superior é o ponto de partida e que, o de chegada, por uma dessas finas ironias, não foi inventado; que lembrem-se que metralhadora na mão de macaco é um perigo danado (o dicionário chama o acontecimento de zoopsia); que descubram que o insólito é a insolação do lugar-comum; que admitam que o lugar-comum não poderia ter outro nome; que reconheçam que o dicionário não é tão essencial numa sociedade de surdos, mudos e cegos; que não tenham dúvidas da frustração intelectual de todos os que escrevem "intelectualóides" no intuito de parecerem melhores do que são; que ainda não inventaram melhor ato do que aquele que se pratica em perfeita sintonia com a necessidade; que não vejam problema em saborear um Chica-Bon na praça ao invés de dar milho aos pombos.
É condição essencial ser livre ou, no mínimo, ter vontade de.
Procura-se uma geração.
Paga-se bem.

Meu amigo Stanislaw
O mais gracioso dos Ponte Preta vivia de reunir histórias verdadeiras que dessem toda a pinta de terem sido inventadas. Era o máximo expor o ridículo aos ridículos. No Febeapá 2, pinço a pérola:
"Mas bacaninha mesmo, quando se trata de besteira, é a televisão - célebre máquina de fazer doido. Disputava-se em diversas capitais do País o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, de futebol. A Emissora Continental, do Rio, fazia as transmissões (por rádio e tevê) sob o patrocínio da Cervejaria Brahma. Acontecia que o Clube Atlético Mineiro tinha, entre os seus jogadores, um zagueiro conhecido por Grapete. E, como o Grapete é um refrigerante de outra fábrica, o locutores da Continental só chamavam o rapaz de Guaraná. Palavra de honra! Guaraná".

Meu amigo Stanislaw 2 (dedicada ao Rafael Lima)
Me fez lembrar um prefeito de uma pequena cidade do interior do Espírito Santo (estado conhecido hoje como Ai, Jesus!) que teve seus cheques devolvidos em compras feitas numa viagem a Noviorque. O banco não quis pagar os "voadores" por problemas na assinatura. Amocim Leite, orientado por assessores de que deveria se comunicar somente em inglês, ficou aborrecido com o incidente. Não entendia como rejeitaram uma rubrica tão bem desenhada e traduzida: Loveyes Milk.

Meu amigo Stanislaw 3
É difícil ter bom-humor com originalidade neste estado. A concorrência é das brabas e ganha por não ser intencional. Na lei orgânica de Cachoeiro de Itapemirim há uma máxima que merece estudo sério e profundo: "Os tempos são imunes".

Pergunte ao Houaiss
Afinal, que diabos o windows quer dizer com "inicializando"?

Drinks
Numa dessas incursões praianas, em que um quiosque a oferecer sombra, álcool e comida é uma necessidade deselegante, mas bem-vinda, uma informação intrigante. No final da lista de bebidas, garranchado com alguma Bic nativa, constava lá "bebidas analgéticas". Não, não perguntei ao rapaz que me atendia tão solicitamente o que era aquilo. Temi pela minha integridade física.

Eufemismo
Boas idéias diferem das demais, principalmente, pela aceitação pública. Nem sempre são as melhores. De qualquer forma, nunca vi uma boa idéia ruim.

Bruno Garschagen
Cachoeiro de Itapemirim, 23/4/2002

 

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