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Quinta-feira, 25/4/2002
Figurinhas
Juliano Maesano


Quem aqui, quando garoto, colecionava figurinhas? Lembram dos álbuns, das figurinhas carimbadas, da ânsia de completar todas as páginas? Como estamos em época de Copa do Mundo, reparei que há muito tempo não se fazem álbuns de figurinhas como antigamente... Até que numa ou outra das últimas Copas fizeram uns, mas eram daqueles "meia-boca"... Acho até que meu irmão guardou com ele os nossos antigos álbuns, preciso ver... Tinha do Campeonato Brasileiro também...

Quando éramos bem novos, colecionávamos juntos... Eu, ele e meus pais. Depois teve a época que cada um quis ter o seu... Não havia um dia que passasse sem pararmos numa banca ou padaria para comprar uns envelopinhos. As vezes meu pai chegava do trabalho com envelopinhos de presente... Lembram dos envelopes antigos? Eram de um papel meio-jornal... lembro até do cheiro.

Cá entre nós, não tem como falar de figurinha sem falar no jogo de "bafo", não é? Acho que todos sabem do que falo, o jogo consiste em fazer montinhos de figurinhas e batê-las com a mão... As que virassem, com a pressão ou o vento, ficavam com quem bateu... Acho que não havia diretor de escola ou professor que não ficasse doido com isso, pois quase todos meninos da escola levavam suas figurinhas e armavam o circo... Isso quando os mais grandões não pegavam à força as figurinhas dos menores e quando os engraçadinhos não batiam na mão de alguém, só pra ver todas aquelas figurinhas saírem voando pelo pátio...

Outro evento eram as trocas de figurinhas... Pra completar o álbum fazia-se de tudo: trocar com amigos ou com desconhecidos... As mais difíceis ou carimbadas eram trocadas em sigilo, muitas vezes... E você tinha que dar várias figurinhas para pegar uma só, a que tanto faltava pra completar sua zaga ou um time inteiro... Ah, a cada time completo era uma festa!

- Pai ! Consegui o Dasayev! Completamos a URSS!

Para completar tudo isso, não posso deixar de falar do livro mais famoso entre os jovens do primário, publicado na década de 60 (se não me engano), O Gênio do Crime. Aposto que 80% de vocês sabem de que livro estou falando, uma obra prima da literatura juvenil, escrito por J.C. Marinho Silva.

Pois é, em clima de Copa do Mundo e figurinhas, comprei pela internet uma edição do Gênio do Crime, pois não sabia mais por onde andava o meu... Confesso que no site havia também uma nova edição, com uma chamativa ilustração de capa onde vê-se uma mão batendo figurinhas... Mas eu escolhi uma mais antiga mesmo (e até mais cara), onde a ilustração é a mesma de quando li pela primeira vez: dois meninos seguindo um par de pernas, muito misterioso...

Pra quem não leu ou não lembra, o livro conta a história de uma turma de garotos (Bolacha, Pituca e Edmundo) que tenta ajudar o dono de uma fábrica de álbuns e figurinhas a encontrar um falsificador, o Gênio do Crime... Reli quando o livro chegou em casa, um dia após a compra. Durou curtos trinta minutos...

Antes de ler eu me lembrava de cenas que me marcaram, como a banheira de ácido para dissolver Bolacha ou o método de perseguição do cambista (que deve ser o momento retratado na capa). Leiam essa passagem da primeira página, sobre as figurinhas:

"Deu mania, mania forte, dessas que ficam comichando o dia inteiro na cabeça da gente e não deixam pensar em mais nada. Quem enchia o álbum ganhava prêmios bons e jogava-se abafa pela cidade: São Paulo estava de cócoras batendo e virando. Batia-se de concha, de mão mole, de quina, com efeito, de mão dura, conforme o tamanho do bolo, o jeito do chão e o personalíssimo estilo de cada um."

Lembro também que li uma continuação, Sangue Fresco, onde Bolacha e a turma eram sequestrados e presos na Amazônia, onde um novo criminoso vendia o sangue das crianças. Vou comprar esse também, mas me lembro das passagens da jibóia que engolia a galera e das bombas napalm, se não me engano. Conversando com nosso colega, Alexandre Soares Silva, fiquei sabendo que a turma do Bolacha tem vários livros... que bom, acho que vou queimar o salário neles...




Juliano Maesano
São Paulo, 25/4/2002

 

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