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Terça-feira, 28/5/2002
Dois palmos de céu
Rafael Lima

Quando o segundo sol chegar
Planetas alinhados
Saíamos da exposição do Nássara, ao pôr do sol, quando ele me parou para mostrar uma coisa no céu: a Lua, os planetas Júpiter e Vênus. Eu, que sempre tive dificuldade para localizar qualquer coisa mais complicada que Cruzeiro do Sul no céu, fosse constelação, cometa, ou planeta, fiquei impressionado por conseguir discernir os 3 corpos celestes. O degradé do crepúsculo compunha um belo pano de fundo para a rara chance de vê-los alinhados, conferindo a perfeita idéia de um plano no qual eu também me encontrava, além daquela tal inclinação do eixo terrestre que a gente sente nas estações do ano, mas nunca vê cadê. Meu amigo apontou para a Lua e disse, "amanhã ela vai estar ali; a Lua anda mais ou menos 2 palmos por dia" - medindo a distância com a mão aberta - e depois mostrou os planetas, avisando que logo Marte estaria visível... Dois palmos de céu!

Não foi o Di
Roda de Samba por Lan
Os desenhos de Lan foram os primeiros que vi ocuparem os muros de um museu - o Museu Nacional de Belas Artes - vindos não de um pintor ou gravurista, mas de um chargista de jornal. Agora, quando completa aniversário de 50 anos de desenhos entre comentários políticos, humorísticos, cenas de rua, de carnaval e de tango, e inúmeras!, inúmeras mulatas, Lan ganha, novamente, uma retrospectiva, e o melhor: uma página na internet totalmente dedicada ao seu traço: era inconcebível que ainda não houvesse coisa assim, dada sua envergadura artística. Di Cavalcanti acabou ganhando renome por retratar mulatas, mas segundo Carybé, "quem inventou a mulata, não foi o Noite de Tango, por Lan português, foi o Lan". Dá até para imaginar aquele italiano vindo do Uruguai e chegando aqui - por aqui subentende-se a (ainda mais naquela época) maravilhosa cidade do Rio de Janeiro - em 1952, completamente desconcertado com a intensa profusão de curvas cheias de sensualidade, movimento, vida, nos contornos da paisagem e nos corpos das mulheres, os quais fundiria em pleno delírio em cartuns futuros, enxergando mulheres reclinadas na silhueta do Pão de Açúcar, mulheres deitadas no Corcovado, na Gávea e no Dois Irmãos, mulheres se revirando no Cara de Cão, mulheres... Será que esse cara só vê mulher para todo lugar que olha? E tem coisa melhor para se apreciar, diria ele...
Carlos Lacerda, o corvo, por Lan Na verdade, os retratos femininos eram apenas as pausas mais agradáveis de Lanfranco Vaselli entre 2 charges políticas, seu ofício por mais de 30 anos, onde, por mais entediado e irritado com os desmandos do poder, encontrava talento para redescobrir a verdadeira face dos políticos, como no famoso retrato de Carlos Lacerda como um corvo (que acabou lhe pregando o apelido para o resto da carreira), tão simples que não esconde o jeitão nas coxas do nanquim rápido, nas coxas, em que foi feito. A mesma alegria com que capturou a paisagem e as cenas urbanas - o que Lan chama de "cariocaturas" - está presente nos lápis que fez para rodas de samba, alegorias de carnaval, alas de baianas, ou mesmo jogadores de futebol, as duas paixões que dividem seu coração: a Portela e o Flamengo. Foi para o Campeonato mundial de interclubes vencido pelo último em 1981 que Lan fez o que talvez seja sua mais impressionante charge: toda uma cidade, os prédios, as árvores, o trânsito, se contorcem fundindo-se na boca e nos punhos cerrados de um torcedor que parece explodir no grito de vitória: Mengo! Um grito visual.
Cariocatura por Lan
Apesar do aspecto macumba para turista (mulatas, samba, futebol) que seu trabalho possa ter à primeira vista, Lan foi reconhecido um dos grandes retratistas da alma carioca no século que se passou; que tenha gasto grande parte de seu talento no universo perecível das redações, é uma das grandes ironias de nosso tempo. Felizmente, o tempo lhe foi generoso o suficiente para recriar no papel, os temas bem mais caros e universais das cenas cotidianas, uma hilariante coletânea de charges sobre o amor (publicadas na 2 capa da Bundas), e a imensa galeria de personalidades cujas feições traduziu. Lan é o Al Hirshfeld brasileiro.

Eu não queria estragar a nossa amizade...
Ninguém gosta de levar um fora. Treinar cuidadosamente uma chegada, e levar um tôco da menina. Faz mal para o ego e para a auto-estima. E se tem uma coisa mais enervante do que o decidido e bem pronunciado não, é quando ela te dá condição, abre espaço, te ouve atentamente, e só depois corta. E, obviamente, o de campeão na categoria crueldade ao cair da madrugada é, indubitavelmente, aquela frase: "eu pensei que a gente era só bons amigos..."
Gustavo "Gustones" Almeida dedicou uma seção inteira da revista eletrônica Falaê! à essa triste modalidade de encerramento-de-namoros-que-nunca-houveram, com o inspirado nome "Te Vejo como um Amigo - a frase que estragou nosso verão". A seção aceita colaborações de leitores, na tardia oportunidade de um desabafo pessoal, de lavar a mágoa em lágrimas ou ao menos de trabalhar o recalque de uma maneira literariamente criativa (o próprio Gustavo tem sua versão pessoal desse tema). Solidariedade é o melhor que se pode prestar às vítimas dessas tristes histórias de desilusão, como aquela joaninha que quase acaba afogada...

Um dia eles todos se juntam e aí...
Não, fora de brincadeira, isso aqui é muito inusitado:
Eu sou um mini-cone laranja!
Faça o teste "Que tipo de cone você é?"
criado por sami

Estudo de caso
"O Hiro é uma daquelas pessoas que conecta um terço do mundo a outro terço" (Kazi)

eu também conheço o hiro
Agora o Hiroentregou o ouro, era tudo apenas um experimento de marketing viral, de infestação memética, de contágio de idéias. Pois bem, para quem leva estatísticas à sério: o número de page views da página do Hiro, para onde a foto acima aponta, quintuplicou em 3 dias. E tem gente que ainda acha que esse papo de meme é coisa de cientista maluco...
Mas voltando à vaca fria, a primeira vez que eu vi o Hiro na minha vida foi numa reunião que decidia quais curiosidades iriam entrar numa coluna singelamente chamada Cultura Inútil. Um cara tinha coletado aquelas frase iniciadas com Você Sabia? e, naquele momento, as lia em voz alta, submetendo-as ao escrutínio de todo mundo. Lá pelas tantas, ele começou uma frase assim: "Você sabia que maio, junho, julho e agosto..." no que foi bruscamente interrompido pelo Hiro:
-...São meses?!!!

Eu já sabia
Ondas quebrando contra uma falésia isolada. Um imenso campo de pasto verde. Tempestade numa noite de inverno. O nascer do sol. Imagens assim eram evocadas pela qualidade orquestral da música. As três, e não duas, guitarras, esculpindo texturas em camadas e níveis múltiplos, quase indecifráveis. A pressão acústica que saía dos alto-falantes era suficiente para empinar uma pipa. Distorções envolviam cada acorde, fazendo a apresentação do Sonic Youth de 2 anos antes parecer música de consultório. Perto daquela microfonia, Jimi Hendrix pediria desculpas e buscaria o extintor para apagar o fogo que tacou naquela guitarra. Ao fim do show, me abaixei, para catar pelo chão os caquinhos dos meus tímpanos rachados. Tinha acabado de assistir ao Mogwai.
Nunca ouviu falar? Vá perguntar ao cara do Radiohead onde ele se inspirou para fazer o último disco...

Rafael Lima
Rio de Janeiro, 28/5/2002

 

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