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Quinta-feira, 26/4/2001
O cavalo e as moscas
Rafael Azevedo

"A fly, Sir, may sting a stately horse and make him wince; but one is but an insect, and the other is a horse still." - Samuel Johnson.

É notável e louvável, embora beire o exagero, a disposição do governo Fernando Henrique Cardoso em aceitar e tolerar os ataques infundados e as ofensas injustificáveis lançadas sobre ele pela sua oposição política, que, sob o disfarce da tão-invocada "liberdade de expressão" julgam-se no direito de ofender e caluniar qualquer um que se ponha entre eles e seus interesses. Fernando Henrique tem suportado calado toda espécie de difamação, vinda tanto da extrema direita representada por Antônio Carlos Magalhães e seus asseclas até a extrema esquerda dos PSTU da vida, passando por moderados como José Genoíno e seus jagunços, e figuras carimbadas como o genial Aldo Rebelo, que agora quer realizar uma reforma completa na língua de nosso país, abolindo certos "estrangeirismos" (aqueles que, segundo ele, ainda não foram definitivamente assimilados à língua - de acordo com o critério dele...), o que, se levado a sério, e seguido à risca, provavelmente nos obrigaria a falar a língua paleolítica da Luzia, aquele fóssil de 30.000 anos descoberto na Bahia, primeiros habitantes conhecidos do território brasileiro.
Mas, como não poderia deixar de ser, é da esquerda que as críticas mais ofensivas e infames vêm. Tem se tornado a coisa mais comum hoje em dia ver na TV petelhos, comunistas, integrantes da intelligentsia do MST e outros seres fisicamente repulsivos reclamando aos brados na televisão sobre a necessidade de se afastar do poder (Fora FHC) o presidente que foi, pela primeira vez na história do país, eleito pela maioria do voto popular por dois mandatos consecutivos. Isso, por si só, já seria considerado subversão ou algo similar em qualquer país minimamente civilizado; é inimaginável que um partido político inicie uma campanha nos EUA com o slogan "Out with Clinton!" ou "Raus Schröder!", na Alemanha... tais pessoas, se tivessem uma idéia tão esdrúxula, e se por um acaso conseguissem botá-la em prática, já estariam sendo devidamente indiciadas criminalmente, e respondendo por todas as bobagens que falaram... não consigo imaginar uma coisa dessa acontecendo em nenhum outro lugar do mundo, com a possível exceção da Itália, cuja política é uma tremenda palhaçada como a nossa. Mas desconfio que mesmo lá "eles" não têm essa audácia e tamanha cara-de-pau. Ultrapassam sem pudor algum esta tão pouco tênue linha que existe entre a crítica racional e a ofensa pessoal. Confundem, ou fingem confundir, liberdade de expressão, preceito básico de uma democracia, e a liberdade para ofenderem e esculhambarem quem bem entenderem. O que é inaceitável. Não se pode ofender de tal maneira os governantes justamente eleitos de um país desta maneira; não estamos falando de sátiras humorísticas, ou simples e inofensivas críticas - são sim virulentos ataques à pessoa, à honra e à dignidade da pessoa escolhida pela grande maioria dos brasileiros pelo voto direto. E o pior é que estes esquerdistas trapalhões, embora ainda não consigam convencer a maioria das pessoas a votar neles, têm grande poder de influência junto à mídia, especialmente a imprensa escrita, tomada por hippies petistas de pochete na cintura e livro do Che embaixo do braço. Assim, faz-se a população crer que a situação está terrível, que atingimos o "fundo do poço", ignorando a estabilidade econômica visível e palpável, e as notáveis benesses que o governo atual trouxe ao nível de vida de grande maioria dos brasileiros, numa bizarra e grotesca tentativa de se mudar a realidade, que seria engraçada, não surtisse ela razoável efeito, derrubando a cada dia os índices de popularidade do sr. Cardoso. É óbvio que o Brasil está longe de ser um país próspero e agradável para se viver, mas é inegável que, apesar de tudo, vivemos um dos melhores, ou melhor, um dos "menos piores" momentos de nossa história recente. Ou alguém duvida que as coisas estão melhores que há alguns anos? Se duvida, deve ser jovem ou burro (quem sabe os dois...) demais para se lembrar dos planos Sarney e Collor, e outras relíquias de nosso passado não muito remoto.
E ainda assim, para reforçar ainda mais a idéia de que o brasileiro espera tudo de (e credita todas as responsabilidades em) seu único governante, boa parte das pessoas põe cada vez mais toda e qualquer culpa, por toda e qualquer desgraça e problema que aflija nossa terra, no "todo-poderoso" presidente - o que faz de nós mais monarquistas e sebastianistas do que Portugal jamais foi! - sem que estas pessoas se lembrem, no entanto, que este mesmo presidente está lutando contra uma máquina administrativa sobrecarregada, um sistema político arcaico e corrupto, e uma economia afetada por décadas de mau gerenciamento. Na falta de argumentos, os "esquerdinhas" de nossa política recorrem aos batidos argumentos de sempre - Fernando Henrique é um entreguista, está vendendo nossos recursos para os imperialistas, e se desfazendo das empresas "estratégicas" (sempre quis saber por quê certas coisas são "estratégicas" pra essa gente!) a preço de banana, em suma, vendendo o nosso país. Enquanto isso, brigam para defender coisas absolutamente injustificáveis, como a manutenção de privilégios inaceitáveis para funcionários públicos, sistemas de previdência pública completamente ineficientes, concessões duvidosas e exclusivistas, e todo tipo de entraves arcaicos que ainda prendem nosso país à época de Getúlio Vargas, quando não à tempos ainda mais distantes. E tudo, os mais escusos e ilícitos interesses, mascarados pela sacrossanta desculpa da "defesa dos interesses nacionais". Se, como disse Samuel Johnson, o patriotismo é o último refúgio do canalha, ele nunca o foi mais em nenhum lugar e época da humanidade do que no Brasil.
Há alguns anos, passei uma temporada com minha banda em Sorocaba, e dividimos por algumas semanas uma casa com uns amigos de lá, entre eles um integrante do PC do B local. Os comunistas sorocabanos são conhecidos por sua "ferocidade", por exemplo, o sujeito que bombardeou o ministro Serra com um ovo certa vez era de lá. Pois bem, pude perceber numa série de conversas com essa pessoa o total despreparo dos "militantes" (e ele era uma pessoa bem "posicionada" na ala jovem do partido!), alguém que desconhece cabalmente os assuntos aos quais ele se propõe a devotar toda sua existência. Eu, se quisesse me tornar engenheiro, procuraria estudar engenharia. Se quisesse me formar um médico, estudaria a medicina. Agora somente na política podem existir pessoas que desejam seguir essa carreira, sem no entanto ter as mais remotas noções do que acontece nos âmbitos políticos, sociais e econômicos do mundo que os cerca. São baderneiros, profissionais do quebra-quebra e do oba-oba, legítimos representantes do "Hay gobierno? Soy contra." Inevitavelmente, em nossas conversas, o sujeito acabava sem argumentos e era obrigado a admitir, constrangido, que botar a culpa de tudo no "FHC" - como eles, de maneira quase infantil, chamam o presidente - era uma "tática de oposição", em suas palavras, ou seja: uma maneira de direcionar o ataque ao principal dos inimigos. Táticas de guerra, quase. Pelo menos tão sujas quanto.
Um outro integrante do PC do B, este mais notório, o sr. Aldo Rebelo pode ser visto xingando o presidente numa das vinhetas de seu partido, junto com mais uma penca de comunistas engravatados. Figuras ensandecidas, totalmente fechadas à qualquer discussão de idéias, e que, uma vez no poder, anseiam por exercê-lo com um vigor totalitário, fora de limites toleráveis, tal qual Stálin, Fidel e Mao fizeram; a proposta de banir palavras estrangeiras da nossa língua (como se uma língua pudesse ser controlada por leis e medidas!) é só uma pequena amostra do que a esquerda brasileira seria capaz de fazer se um dia chegasse ao poder. Graças a Deus, isto não poderia estar mais longe de acontecer.

Rafael Azevedo
São Paulo, 26/4/2001

 

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