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Quarta-feira, 19/6/2002
Ludopédio em Pindorama
Renata Marinho

Gritaria embalando a aurora, nosso povo está em festa. Os fogos de artifício confundem-se com as balas perdidas da favela. Que maravilha! Nada melhor do que uma grande lona de circo para cobrir nossas mazelas... O pão a gente troca pela cachaça que embala nossa comemoração indigente.

Ó, que horror! Sai pra lá urucubaca! Tem sempre alguém pra defender o direito à letargia. Mas urucubaca é a realidade em que vivemos, a putrefação psico-físio-sociológica que nos domina. Por que não defendemos condições básicas humanas para todos os brasileiros? Por que só nos atraímos pelo que nos achata?

Sim, claro, este discurso é velho, coisa de gente mau-humorada que não sabe curtir a vida. Bom, se você consegue viver em paz no Brasil, parabéns... começo a acreditar em realidades paralelas num nível muitíssimo mais concreto do que o das nossas configurações idiossincráticas.

Enfim... o papo é velho, porém parece que ainda não entendemos nada. Mais um indício da idiotia característica dos brasileiros. É lamentável a imagem daqueles homens porcamente alfabetizados, vestidos de amarelo, com a mão no peito e a boca mexendo aleatoriamente, tentando nos enganar que sabem o hino nacional com seus balbucios. Mestiços reformados: dentes tratados e cabeça raspada. Representantes de um país parasitado pelo primeiro mundo lutando pela forra.

O deprimente é que nos vingamos servindo de palhaços no picadeiro alheio. Brasileiro é mesmo muito simpático. Eles nos desumanizam e nós damos a volta por cima mostrando como nos tornamos animais exemplarmente adestrados, no caso, para jogar futebol.

A questão é: a copa do mundo não tem toda essa importância que lhe conferimos. Temos coisas mais urgentes para nos ocupar e pré-ocupar. Podemos acompanhar os jogos, torcer, confraternizar; no entanto, esses eventos não podem funcionar como uma grande dose de morfina pan-difundida.

E não esqueçamos que, independente de chegarmos ao penta, já somos campeoníssimos de miséria e de desigualdade social.

Jung ajuda?
Eu tenho um spray paralisante de uso "exclusivo" da polícia alemã. Paralisa de dor, fique claro. Comprei ilegalmente na Europa porque considerei muito útil para transitar no Rio de Janeiro. Lá, várias mulheres andam à noite com um spray na mão que, por sua vez, geralmente, está dentro do bolso do casacão devido ao frio. O meu tubinho está sempre na bolsa; e na mão em momentos, digamos, mais inseguros.

Noite passada, sonhei que precisei utilizá-lo e o lance não funcionou. Será que isto quer dizer algo?

Aniversário de Casamento
Antes de assistir ao filme, cheguei a ler uma "crítica" no jornal informando que Aniversário de Casamento seguia os preceitos do Dogma 95; e isto aumentou bastante meu interesse. Na verdade, não se trata de um Dogma. Dois votos de castidade não são cumpridos, a saber, 1. o diretor não deve ser creditado e 2. qualquer intervenção sonora deve ser gerada na própria cena. Entretanto, é claro que isto não desqualifica a película. Jennifer Jason Leigh e Alan Cumming dirigem e protagonizam a trama sem entraves, com maestria. A vacuidade existencial de nossa época é mostrada na festa do casal para comemorar seis anos de casamento. As angústias características da contemporaneidade são retratadas nos diversos convidados e nas relações que estabelecem entre si. O resultado é extremamente envolvente e mostra que malabarismos técnicos e efeitos especiais podem ser dispensados sem comprometer a obra. A parte em que eles tomam ecstasy e alucinam pareceu-me tão bem feita que até fiquei com vontade de experimentar. Mas isto já é outra história...

Crítica Educacional
Domingo, fui almoçar na casa de uns amigos. Lá, havia uma adolescente idêntica à Miss Piggy, dos Muppets.

Por ser completamente auto-centrada, a garota era especialista em comentários desagradáveis e em assuntos desinteressantes. Para ela, a refeição teve início e não teve fim. Como acredito que a comida influencia o comportamento, não pude deixar de diagnosticar naquela ingestão incessante de alimentos um foco daquela existência infecciosa. Depois, fiquei me perguntando o que levaria os pais da citada a não interferirem na situação. Pela normalidade com que a compulsão era tratada, deduzi que deva ser diária. Logo, ou os genitores não ligam a mínima para o futuro da criatura ou utilizam aquela indiferença como instrumento de vingança. Os motivos? Desconheço. Parece-me não haver solução infalível para o problema, mas isto não justifica a desistência explícita.

Será que essas pessoas têm filhos para disseminar o sofrimento e piorar o mundo?

Netiqueta
É coisa de debilóide. Bom mesmo é ser suficientemente educado para saber agir sem se tornar uma ameba.

Para ir além
Língua de Fel

Renata Marinho
Rio de Janeiro, 19/6/2002

 

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