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Terça-feira, 2/7/2002
Uma proposta radical
Vicente Tardin

Perdeu a graça a história da distribuição de música pela internet. As mais interessantes iniciativas foram adquiridas pelas gravadoras, junto com os antigos sonhos de mudar a dinâmica do mercado e promover artistas mais variados e menos comerciais. Sites como MP3.com, EMusic.com e RollingStone.com não são mais independentes e hoje pertencem à gigante de mídia Vivendi Universal. É só um exemplo.

Se os inovadores morreram na praia, as gravadoras também não saíram da água, pois continuam a gastar milhões de dólares para segurar a internet, até agora em vão.

Atualmente todas apostam as fichas em serviços pagos e preparam sistemas seguros. Foi divulgada uma estimativa sobre o tamanho deste mercado. Segundo a IDC, os fornecedores de serviços pagos podem chegar a receitas de US$ 1,6 bilhão em 2005, desde que ofereçam amplo conteúdo e flexibilidade ao consumidor. Pode parecer muito dinheiro, mas há senões no caminho.

É só comparar com outra pesquisa, divulgada em 2001 pela Webnoize Research. Apenas em um mês foram baixados quase dois bilhões de arquivos pelos usuários dos serviços Kazaa, MusicCity e Grokster. Estes são apenas alguns dos serviços que assumiram o lugar do Napster, fechado na justiça e adquirido pela Bertelsmann a alto custo.

O movimento (1,81 bilhão de arquivos) foi 20% maior do que no período anterior (1,51 bilhão). Comparando estes números, dá para perceber que as gravadoras estarão vendendo apenas uma fração do que hoje as pessoas obtém de graça.

Apenas nestas três aplicações, 1,3 milhão de usuários participaram da rede peer-to-peer através de software licenciado da FastTrack, empresa baseada em Amsterdam. O número de usuários só cresce e deverá ainda superar o Napster em sua época de maior movimento, que foi de 1,57 milhão de usuários.

Naturalmente as gravadoras e estúdios de cinema também processaram os serviços por infração de direitos de autoria, o que por outro lado faz aumentar o número de usuários.

Agora vamos a outras duas pesquisas, realizadas nos Estados Unidos e divulgadas pela Philips Consumer Electronics e pela Sony Computer Entertainment America. Por mais que procurem valorizar os produtos que vendem, os estudos de mercado estão certos ao apontar que os objetos de desejo dos consumidores continuam sendo os DVD players, os consoles de games e os aparelhos de áudio digital.

Estes últimos, principalmente, vão buscar conteúdo, boa parte ilegal. É um mercado em crescimento e as gravadoras não vão se beneficiar.

Sinuca de bico? A história da música na internet é um sucesso e um fracasso ao mesmo tempo. Nenhuma gravadora consegue vender pela internet de verdade, mas os HDs em todo o mundo estão cheios de arquivos de música. Aparentemente o público não se interessa em pagar pelas canções, apesar de pagar pelo acesso à internet de alguma forma, comprar computador e outros aparelhos de áudio e vídeo digital.

Coisa mais chata essa de contratar advogados, criar sistemas contra cópias e tudo o mais para evitar que as pessoas baixem músicas. Talvez fosse a hora de um consultor daqueles bem caros propor uma abordagem radical.

Como só se ganha na internet de forma indireta, ele diria para os grandes grupos de mídia, que controlam gravadoras e estúdios de TV e cinema, que adotassem um novo modelo de negócios. Que parassem já de jogar fora milhões e milhões de dólares em advogados e software seguro e usassem este dinheiro para comprar todos os provedores de acesso banda larga que puderem e ainda não possuem.

Depois comprariam os fabricantes de HD e aparelhos de áudio digital (a Sony já está bem adiantada neste aspecto).

Em seguida e ao mesmo tempo colocariam de graça em seus sites todas as músicas, de todos os discos. Tudo bem feito e grátis. Tudo com muitas fotos, encartes, letras, clips e arquivos grandes para encher bem o HD e fazer o público desejar máquinas mais velozes.

Depois poriam também os filmes do cinema, todos, de graça, para fazer vender bastante conexões banda larga.

Dariam um jeito de remunerar autores e artistas, claro, e aguardariam o benefício na venda de hardware e conexões de internet. Não sei se vai dar certo, não sou consultor. Mas olhando assim pode valer muito mais a pena do que esperar até 2005 para faturar muito menos que estão gastando agora, na tentativa de evitar o que milhões de pessoas fazem espontaneamente.

Nota do Editor
Vicente Tardin é editor do Webinsider, onde este texto foi originalmente publicado.

Vicente Tardin
Rio de Janeiro, 2/7/2002

 

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