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Sexta-feira, 11/5/2001
Em Defesa do Funk - ou nem tanto
André Pires

Atualmente a onda não é mais o funk, mas sim falar mal do funk. A imprensa parece que resolveu criar colunas quase que diárias para detonar o ritmo e tudo que o cerca (ex.: Xexéo, Mauro Rasi, DOMINGO, Fritz Utzeri...). Mas é preciso que seja dito algo em defesa deste gênero musical tão incompreendido.

Para começar, se o funk está na moda é por que nós o colocamos. As grandes emissoras de rádio e TV só embarcaram numa onda que já dominava, não só a Zona Sul do Rio, como São Paulo e outras cidades. Não há quem negue que é "impossível ficar parado" ao som de diversas batidas funk, e hinos como "Xatuba de Mesquita" são no mínimo hilários e cativantes, trilha sonora ideal para zoar com os amigos, mesmo para quem não é fã do estilo. É inadmissível pensar que, sábado de manhã, alguém prefira sintonizar a BAND para ver a Furacão 2000 ao invés de ir a praia. Mas flipando pelos canais, morgado na cama, numa manhã chuvosa, após a ressaca de sexta-feira, é impossível não dar pelo menos uma paradinha no canal pra conferir a animação das preparadas e tigrões no Castelo das Pedras.

É claro que o funk carioca (não confundir com o "real funk" de George Clinton e James Brown) tem suas características tristes, podres e estúpidas. A começar pelos seus atuais pais, (digo atuais porque o funk não se resume a essa nova onda, remetendo aos tempos imemoriais de DJ Marlboro e Steve B nos anos 80), Veronica Costa, a mãe loira do funk, que realmente chama os funkeiros de "meus filhos" !? E seu comparsa Romulo Costa, quase 50 primaveras nas costas, ostenta um rabinho de cavalo ridículo em seu cabelo duro, é assiduo freqüentador dos bailes de suburbio e das páginas policiais dos jornais do Rio. Pais estes que usam seu filho legítimo Johnatan (da nova geração) para ganhar um extra com a moda que ajudaram, e muito, a criar. O moleque, do alto de seus 8 anos canta que "já tá pegando um filé com popozão". Imaginem o futuro desse pobre funkeiro. No mínimo um barangueiro da pior estirpe.

Mas analisando efetivamente, as letras não tem lá grande profundidade é verdade, mas e daí? Qual o problema? A musica é feita para dançar e zoar e não para se ouvir em casa estudando cada verso como se fosse Chico Buarque. Cada estilo musical se encaixa em um determinado momento. Ninguém quer ouvir Duran Duran, "Smooth operator" numa festa de carnaval, e nem É o Tchan, "Na boquinha da garrafa" em um jantar a luz de velas. E mais, de letra merda o Brasil tá bem servido, seja no axé, no sertanejo, no pagode... isso não é privilégio do funk.

E tem aqueles que reclamam do apelo sexual das danças. Pra mim o forró, que todo mundo pela o saco como ressurgimento das raízes do nordeste, é bem mais sexual do que o funk. Todos hão de convir que é muito mais provável uma forrozeira engravidar chachando atracada com seu parceiro do que uma tchutchuca fazendo a coreografia da danca do Tigrão. No funk as meninas apenas provocam, já no forró elas vão pro roça-roça mesmo. As letras falam só de sexo? São degradantes para as mulheres? Ok, beleza... O Zeca Baleiro vai lançar um CD de músicas eróticas e todo mundo acha o máximo só porque o cara é queridinho da mídia! Isso é preconceito com a negrada do funk. Longe de mim comparar Zeca Baleiro com Cidinho e Doca, mas a temática é a mesma.

Muitos se esquecem que até pouco tempo o funk populava as manchetes de jornal devido aos tiros e a porradaria nos bailes, ao som de letras estimulando a violência no salão. Antes estimular o sexo do que a violência, né não? Deixa o funk lá, quem não gosta que vá escutar outra coisa (como eu faço).

Tudo é válido como fonte de cultura, por pior que seja. Guardadas as devidas proporcões, é claro. Tudo tem seu valor: do Chaves ao Fellini, do funk ao Chopin.

É claro que, se você for se limitar a uma coisa só, que seja pela de melhor qualidade, e maior nível intelectual. Mas a limitação nunca é boa. Bom mesmo é a variedade. Quanto mais elementos melhor para se formar opinões e conceitos que servirão de base para o crescimento pessoal e para encarar a vida.

André Pires
Rio de Janeiro, 11/5/2001

 

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