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Quinta-feira, 3/10/2002
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse
Heitor De Paola

As raposas devem estar se moendo de inveja dos políticos brasileiros. Estes conseguiram o que elas vêm tentando, sem sucesso, há milênios: convencer as galinhas de que devem se deixar depenar, serem comidas, baterem palmas e ainda continuarem elegendo as raposas para administrar o galinheiro.

Em alguns dias seremos chamados às urnas para escolher o novo Presidente e outros cargos. Em quem pode votar um eleitor liberal? Não tem opção. Os quatro candidatos fazem questão de ser cada um mais socialista do que o outro. Todos prometem que vão continuar a depenar as galinhas que votarem neles. Falam em manter o déficit sob controle, mas seus programas 'sociais' envolverão, necessariamente, aumento dos gastos públicos. Eles conseguiram convencer as penosas de que 'gastos sociais' têm alguma coisa a ver com as ditas (ou seja: nós mesmos). Só que eles, e as demais raposas, sabem muito bem o que isso significa: depenam-se mais as ditas galinhas para aumentar os privilégios extorquidos (que chamam de 'direitos adquiridos') diretamente da casta 'peluda': a nomenklatura dos funcionalismo público e das Estatais.

Privatizar os mostrengos que restam? Nem pensar, pois seria anti-social e anti-nacional. Seria dilapidar o patrimônio 'público', como acusam o atual Governo de ter feito. É verdade que o fez, porém sem a mínima convicção, pois se trata de um Governo social-democrata, que apenas viu que não havia outro jeito: para manter os privilégios das raposas mais importantes era necessário sacrificar algumas. E quais são as mais importantes? Exatamente aquelas pelas quais um programa liberal de desestatização teria começado: a Petrossauro, o Banco do Brasil, a Previdência Social, as Centrais Elétricas, a Infraero, além de uma desregulamentação geral da economia, com uma verdadeira abertura ao comércio internacional e a extinção desse mamute de planejamento socialista centralizado que é o BNDES, digno de rivalizar com o GOSPLAN da URSS.

O que dizer então das relações exteriores? Todos prometem continuar a pseudo-diplomacia do atual Governo que se resume em meter o pau na 'globalização', nos Estados Unidos e no FMI, votar sempre contra os interesses dos Países verdadeiramente democráticos e desculpar ditaduras, como ao se recusar a votar a favor da proposta Uruguaia de condenação da ditadura castrista. Não percebem que o melhor aliado que podemos ter é exatamente os Estados Unidos e que aderir à ALCA só poderá nos beneficiar como Nação privilegiada junto ao mais rico mercado consumidor que jamais existiu! Não, pelo contrário, nosso Presidente vai à Assembléia Nacional Francesa e, em plena campanha para Secretário Geral da ONU, critica o protecionismo americano. Logo aonde, terra do Bové e do Le Pen!

Todos os candidatos aplaudiram o discurso 'soberano', como aplaudem e prometem reforçar o MERCOSUL, uma união de pobres para vender uns aos outros seus produtos. Diz minha assessora para assuntos culinários (atenção: inventei esta forma politicamente correta de se referir às cozinheiras), iletrada porém mais conhecedora de pobreza do qualquer sociólogo ou economista, que 'se juntar com pobre, só se for p'ra pedir esmola'.

E o que têm feito estes Países senão exatamente isto: a cada miraculoso plano econômico fracassado, estendem o chapéu para o FMI, sendo que na Argentina já roubaram até o chapéu. Protesta-se contra o FMI, queimam-se bandeiras americanas, exalta-se Fidel, Sadam, Arafat e o bebê chorão da Coréia do Norte. Mas pede-se grana para quem? Para os Estados Unidos e para o FMI. Se estes negam é porque o 'neoliberalismo' e o 'discurso hegemônico' de Washington querem nos matar de fome; se dão a esmola, protesta-se também porque há exigências a cumprir que 'ferem a nossa soberania', quer dizer, nossa gastança irresponsável. Se o dinheiro desumano dos investidores estrangeiros entra, é para nos explorar; se sai, é prova da desumanidade do capitalismo e da necessidade de uma união mais solidária!

Como eles se sentem cheios de si e onipotentes por terem convencido as galinhas de que eles as protegem, acham que os investidores também são galinhas e que vão também se deixar iludir com 'compromissos com as metas de inflação', 'manutenção dos contratos' e outras mentirinhas para inglês ver, para depois se apropriarem do capital via 'moratórias soberanas', 'renegociação da dívida' (leia-se calote, como bem demonstrado por Gilberto Simões Pires em seu site PONTOCRITICO), e outras bobagens, para depois pedir mais dinheiro ainda, num ciclo interminável.

O Bush custou mas entendeu que todo o dinheiro que vai para a Palestina não serve para o povo Palestino pois vai parar no bolso do Arafat e sua máfia. E aqui, é diferente? Cadê o dinheiro dos investidores e das privatizações? Ora, na PREVI, na PETROS, nas aposentadorias milionárias dos servidores (sic) públicos (sic).

Examinemos o item segurança e criminalidade. Todos partem do princípio de que a criminalidade é fruto da miséria e prometem 'ações sociais', reforma agrária, 'ocupação social' das áreas de bandidagem. Ao invés de mais polícia, sociólogos. Ao invés de mais armas sofisticadas, assistentes sociais. Ao invés de leis mais rígidas, psicólogos e, de quebra, Estatuto da Criança e da Adolescência, que todos apóiam, e que permite que qualquer bandido até as vésperas de completar dezoito anos possa matar a vontade que nada acontece. Mas depois dos dezoito também nada acontece, pois são considerados pobres vítimas da Sociedade, numa inversão de valores malévola que leva a aprovar uma Lei de porte de armas que impede os cidadãos de se defenderem.

Dartagnan Zanela, em seu artigo 'As mãos que balançam o berço', põe o dedo na ferida: o tráfico e a bandidagem não são um poder paralelo ao Estado, como dizem nossos sociólogos, mas a própria mão canhota do Estado, e aponta o caso notório, mas pouco divulgado, do Governador do Rio Grande do Sul que recebe com honrarias e a portas fechadas os líderes das FARCs; e também a suspeita ineficiência das ações contra o tráfico nos morros do Rio.

Se um bandido mata várias pessoas, as esquarteja e enterra num cemitério clandestino é um ato socialmente explicável; se um policial mata um bandido, ou uma vítima reage, é um Deus nos acuda. Todas as ONGs dos 'direitos humanos' se revoltam. Ao mesmo tempo, organizam passeatas pela paz e contra a violência. Estas, unidas às últimas medidas 'sociais' nos morros, parecem indicar que a estratégia secreta das 'otoridades' é a de matar os bandidos... de riso!

E qual dos quatro apresentou um plano consistente nesta área? Qual deles disse que vai reprimir as ações das FARCs que, aliadas ao MST, parece que até já financiam candidatos a cargos legislativos?

Por pouco não votei na eleição de 1960 - completei a maioridade no dia exato da eleição - posteriormente, sempre votei naquele que achei o melhor ou, se não houvesse um, no 'menos ruim'. Mas desta vez, não sei. Ouço os candidatos, leio o que dizem e cada vez mais me convenço que estamos frente aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse:

FOME para os mais pobres via expropriação de impostos e/ou retomada da inflação ou arrocho salarial para aumento dos 'gastos sociais';

PESTE, com o recrudescimento de doenças infecto-contagiosas já consideradas extintas, como a dengue, a tuberculose e outras;

GUERRA já temos nos morros e nas principais artérias do Rio, São Paulo e de outras grandes cidades, e pelos planos até agora apresentados, vai piorar muito;

MORTE, pois já se morre mais no Brasil devido à violência do que no Oriente Médio.

É claro que o Brasil não vai acabar com a eleição de nenhum deles, mas que pode piorar muito, pode.

Heitor De Paola
Rio de Janeiro, 3/10/2002

 

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