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Quarta-feira, 18/12/2002
O lado negro da internet
Vicente Tardin

Nosso pequeno mundo se sacudiu um pouco com uma reportagem publicada na revista Isto É Dinheiro. Segundo a matéria, a Catho, empresa que atua na área de recursos humanos, colocação profissional e mantém um site com currículos e ofertas de emprego, fez uso de práticas discutíveis. Uma deles seria a apropriação de conteúdo de sites concorrentes.

A empresa teria desenvolvido sistemas que "catavam" (trocadilho irresistível) automaticamente e aos milhares os currículos de outros sites concorrentes e os colocavam no seu. Concorrentes que perceberam o movimento e se sentiram lesados entraram na Justiça, que por sua vez autorizou a entrada de oficiais nas instalações da Catho. Ao copiarem o conteúdo de alguns HDs, constataram vestígios neste sentido.

A Catho, pelo menos inicialmente, não negou os fatos e seu presidente disse à reportagem que agia amparado pela lei. O webmaster citado na matéria, de apenas 21 anos, rebateu as críticas dos colegas em listas de discussão que freqüenta, mas não negou as ações, apenas pediu que sobre este assunto fossem conversar com o presidente da empresa. Bom, leiam a matéria, vale a pena. Agora os advogados das partes vão se entender.

Do ponto de vista jurídico, o caso é interessantíssimo. Um especialista com quem conversamos ficou excitado com tantos pontos novos que podem servir de luz para casos futuros.

Não entendo nada de Direito. Não sei se a Catho será considerada culpada ou se vai sair sem arranhões dessa. Mas entendo um pouco do que é manter um site e ver seu conteúdo rotineiramente chupado. Se você que está lendo também mantém um site, sabe muito bem do que estou falando.

Todo mundo tem mil histórias para contar, algumas horripilantes. Sistemas inteiros copiados. Layouts, logotipos, matérias. Além do Webinsider, sou bem próximo de outros dois sites. Os três têm sido copiados o tempo todo. Um é o Clickjobs, cujas ofertas de empregos e currículos volta e meia aparecem em outros sites, sem que as empresas ou candidatos autorizem.

Mais copiado ainda é o CliqueMusic, até mesmo dentro de portais grandes. As biografias dos artistas que foram desenvolvidas pelos jornalistas de CliqueMusic (com esforço, conhecimento e investimento) estão reproduzidas amplamente, mesmo em sites grandes, que alteram algumas palavras, incluem adjetivos e pronto. Uma vez a equipe de CliqueMusic percebeu que determinado site de música mantido por um portal copiava as notícias com freqüência religiosa, apenas disfarçando um pouco na redação. Um dia, por engano, CliqueMusic errou sem querer o nome do autor de um livro sobre um compositor nordestino (corrigido horas depois, a partir do alerta de um leitor). O que aconteceu? O site chupão mencionou o mesmo livro e colocou lá o nome errado do autor, que nunca existiu.

É muito chato ver isso e ter que escrever cartas educadas pedindo que parem de copiar. Geralmente elas resolvem, pois o autor do copy-paste fica receoso de um processo. Se o seu site é copiado assim, recomendo que reclame sempre e não deixe para depois.

As matérias do Webinsider também são copiadas aos quilos e reproduzidas em outros sites. Outro dia um site sobre tecnologia ostentava na sua home uns oito ou dez artigos copiados do Webinsider, sem mencionar a fonte e sem que os autores soubessem. Ora, se os caras dizem lá que vendem banners e que estão procurando patrocinadores, isso é uma coisa feia.

Algumas vezes argumentam que os artigos pertencem aos autores, ignorando todo o trabalho de edição, pauta, e copydesk desenvolvido pelo site original. E nem os autores são consultados.

Outras vezes os chupões dizem que a informação que está na internet é livre e pode ser copiada. Para confundir as coisas, citam conceitos de copyleft e livre circulação da informação. Somos a favor do copyleft, do software livre e de tudo o mais. Mas não se trata de nada disso aqui. Uma coisa é fazer circular a informação e para isso existem os links.

Ora, comente o texto que gostou e aponte um link para ele, pronto. Mas não é esse o ponto - o que querem é copiar a informação para dentro de seu site e tentar obter vantagens comercias com ela. Isso é roubo.

Imagine um programa de rádio, um debate esportivo, digamos. Já pensou se outra estação grava o programa e o reproduz em outra cidade, sem permissão, como se fosse seu? Isso não existe.

Um dia foi até engraçado. Um site de moda surgiu com o layout do Webinsider igualzinho, apenas com novas cores. Reclamamos educadamente, o responsável negou, ofendido e agressivo. Mas ao se clicar em determinada matéria, bem na home, abria a coluna do Daniel Chalfon. Uau!

Acredito que a exposição de praticas predatórias vai fazer muito bem ao ambiente de internet. Se você é designer e a direção da empresa em que trabalha pedir que copie igualzinho o design de determinado site, você se sentiria à vontade? Se você é redator e copia textos de outros sites dando aquela resumida básica deschavada, está à vontade com isso? E se você é webmaster e o presidente de sua empresa pedisse que desenvolva um sistema de propósitos pouco éticos, você faria? Talvez não valha a pena.

Se você quiser contar algum exemplo interessante no gênero, faça o favor. Gostaria de saber - pode me enviar que receberei com prazer. Talvez o desenlace do caso apontado pela revista Isto É Dinheiro ajude a mudar certas práticas. É mais do que hora.

Nota do Editor
Vicente Tardin é editor do Webinsider, onde este texto foi originalmente publicado. (Manteve-se a formatação original.)

Vicente Tardin
Rio de Janeiro, 18/12/2002

 

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