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Sexta-feira, 7/3/2003
A dama do crime
Gian Danton

Certa vez, tentei ler Agatha Christie em uma edição de banca e odiei. A tradução era horrível, a edição idem e a história parecia fútil. Quando recebi A Noite das Bruxas para resenhar, reclamei. "Faça uma tentativa. Dê uma chance à dama do crime", respondeu-me o editor do Digestivo Cultural. Resolvi seguir seu conselho e não me arrependi. O volume tem tudo que faltava ao meu primeiro contato com a autora inglesa: edição primorosa, com um belo cuidado gráfico, boa tradução e uma história que nos fisga desde as primeiras páginas.

A Noite das Bruxas faz parte de uma coleção que reúne as obras completas de Agatha Christie. São 68 volumes padronizados com a assinatura da autora em alto relevo na capa. É uma tentativa, certamente bem-sucedida de voltar a transformar a dama do crime em um best seller tupiniquim.

O livro em questão conta a história de uma festa de Hallowen. Uma das personagens é Ariadne Oliver, um paródia da própria Agatha. Ariadne também é uma autora famosa de histórias policiais. A escritora resiste à tentação de dar glamour à sua versão literária e a mostra como uma senhora desajeitada e dispersiva. Durante o preparo da festa, uma das meninas, ao saber que a convidada é uma autora de histórias policiais, gaba-se de já ter presenciado um assassinato.

Como não poderia deixar de ser, a garota aparece morta, afogada em um balde de água cheio de maçãs. É quando a senhora Oliver chama à cena seu amigo Hercule Poirot. Daí para frente, a história segue o caminho que já foi eternizado pelo cinema: o inspetor belga deverá investigar todas as pessoas que estiveram na festa e tentar desvendar não apenas um, mas dois assassinatos.

Agatha Christie é a escritora mais bem sucedida do século XX. Seus livros já venderam um bilhão de cópias em língua inglesa e mais um bilhão em traduções para outros 45 idiomas. Algumas de suas muitas histórias foram adaptadas para a TV e o cinema, com destaque para Testemunha de Acusação (dirigido por Billy Wilder, 1957) e Assassinato no Expresso do Oriente (de Sidney Lumet, 1974).

A Noite das Bruxas, apesar de ser uma história policial, tem uma narrativa calma e bucólica. Há uma tendência por parte da autora de ser repetitiva. Na página 75, por exemplo, uma personagem diz: "Bem, era uma mulher rica, muito rica mesmo. Sua morte não foi inesperada, mas foi súbita. Foi tão de improviso que surpreendeu o próprio dr. Ferguson". Alguns parágrafos depois, outro personagem diz: "Sua morte não foi surpresa, dado seu estado de deficiência cardíaca, mas foi súbita". Erro típico de quem produz muito. Mas nem isso tira o prazer da leitura. Um bom livro para um domingo de chuva.

Para ir além




Gian Danton
Macapá, 7/3/2003

 

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