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Domingo, 17/11/2002
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Esquerdices
Marcelo, se sou "de direita", o sou por acreditar num sistema de governo que preze acima de tudo a liberdade - política e econômica. Capitalismo, meu caro, pleno (não essa palhaçada que temos no Brasil, graças à intervenção das esquerdas), aliado à democracia - só assim algum país é capaz de prosperar, e qualquer pessoa de bom senso sabe disso. Somente uma mente muito alterada por drogas ou propaganda rasteira pode acreditar no intervencionismo babão pregado pelas esquerdas. Se sou de direita, o sou justamente graças a pessoas como Paulo Francis, Roberto Campos, Milton Friedman, e por acreditar em países como EUA (ditadura de partido único!!! Meu Deus, how low can you go?) e Inglaterra, Alemanha, onde se vê que o lucro e o dinheiro não fazem mal, como os ressentidos pregam. Ah, claro, mas pra vocês bom é Cuba. Ou Pyongyang.
Agora é engraçado como na tacanha mentalidade da esquerda brasileira quem desaprova Lênin e Stálin tem de necessariamente venerar Hitler e Pinochet. Quem disse que todas essas ditaduras militares são "de direita" e, ainda que o fossem, o que o faz pensar que eu as aprovo? Não sou dominado por ideologias, ao contrário de vocês, mas sim pela razão; obedeço somente à fria constatação dos fatos, e não sigo nenhuma cartilha ou livro vermelho. Submeto-me apenas a essa coisa, tão desagradável pra vocês, chamada realidade, e tenho este hábito tão estranho para alguns de não conseguir viver fora dela.
Por falar em tirar a máscara, vejo com certo pesar e temor que a carapuça lhe serve também. Você abre seu texto justificando o uso da força pelos regimes de esquerda com argumentos absurdos, que só revelam no fundo vocês não passarem de sonhadores invejosos e infantis com delírios de grandeza, ávidos por controlar a vida dos outros e colocar as garras em riquezas que não lhes pertencem. Que esperar de gente com os valores e a moral tão deturpados por anos de lavagem cerebral esquerdista que minimizam os regimes responsáveis pelos maiores genocídios da história da humanidade, dizendo que as revoluções russa e chinesa "tiveram seus acertos"?

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Rafael Azevedo
17/11/2002 às
07h53

qual é o problema??
Eu adoro Paulo Francis, tenho 31 anos e voto em Lula desde 1989, e daí?! qual é o problema?? precisa ser de direita para se gostar de alguém como Francis?

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Anderson
17/11/2002 às
03h26

Como um mantra
Risível os argumentos que se repetem. Como um mantra. Apesar de cair em contradições, a Juliana, embotada neste discurso insosso, não percebe e segue em frente. O assassino do pai de Nabokov era de direita e participou do governo de Hitler que, segundo você, não era de direita. Bonito isso. Depois ela vai querer justificar isso, dizendo que foi uma ironia, são tão previsíveis. Quanto ao perigo dos bolcheviques, vários escreveram sobre isso e com muito mais autoridade, inclusive Bakunin, Makhno e Rosa Luxemburgo. Uma só folheada em qualquer livro deles já ajudaria muito a pensar direito. Era o perigo da realização de uma revolução socialista em um país atrasado como a Rússia. Aliás, existem vários textos do próprio Lenin e do Trotsky falando sobre a mesma coisa. Se você quisesse fazer análises honestas, poderia lê.los. Tudo bem que, para alguém que é incapaz de entender o que é socialismo, portanto afirma que o nazismo é um regime de esquerda (sem apontar sequer uma medida socializante de Hitler, comparando-a com a URSS de Lenin), será de pouca valia tentar explicar o que são e pensam os trotskistas ou os anarquistas, por exemplo. Como já falei, eu não fecho os olhos e nem tenho medo de discutir abertamente os erros e os acertos da esquerda. Não fujo ao debate. Sim, os regimes comandados por Stalin e seus clones no mundo inteiro cometeram erros e mataram muita gente. Não nego nada disso. Agora, causa riso, como vocês, dandis, ficam se escondendo dos seus próprios mortos e dos seus regimes assassinos. Seriam menos patéticos se tivessem a coragem de assumir seus erros e não inventar histórias da carochinha que só a sua "comunidade" acredita. Já que o ídolo de vocês leu e estudou Trotsky e não cometia tantos despautérios, vocês deveriam seguir o exemplo. Mas para quê, não é mesmo? O objetivo é a polêmica por si mesma. Pelo menos o Francis era inteligente. Vendeu sua alma mas ganhava em dólares, vocês ainda pagam o acesso à Internet. Realmente no meu último comentário, eu exagerei um pouco. Vocês não se tornarão Carmonas e Pinochets, é preciso mais capacidade. Para terminar, Juliana, para mim o Jabor é tão de direita quanto você.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por marcelo
17/11/2002 à
01h53

deixa o volodya fora disso
Obrigada pela menção, Alexandre. Não sou de maneira alguma uma “escritora” – mas o título não cairia mal num país em que a Marilena Chauí é considerada uma .... filósofa!!! O outro porém: o Martim tem razão. Ser "de direita" é falar exatamente a língua da "esquerda". Talvez eu seja “de direita” - mas a "direita" de que talvez façamos parte – me recuso a pensar que somos uma “comunidade” - é incompreensível ao Marcelo Barbão, por exemplo, que insiste em nos martelar com "fatos" nos quais um dia já tivemos a inocência - disfarçada de argúcia - de acreditar, assim como próprio Francis. Como já ouvi dizer por aí, quem nunca foi "de esquerda" não tem coração. Quem continua na esquerda acaba por ficar sem cérebro. O Marcelo insiste em dizer que a "direita" (ardilosos vampiros do mal e seres das trevas) trabalha na calada da noite. Risível, risível. A esquerda,esta sim – ainda segundo o Marcelo - trabalha às claras, de martelo e foice na mão, revolucionando o mundo. Podemos deduzir dos argumentos do Marcelo que a esquerda não precisa usar desses artifícios subversivos para “mudar o mundo”. Não dá pra acreditar é em tamanha inocência, Marcelo. A esquerda, em sua tradição marxista, sempre foi a melhor nos truques do esconde-esconde, do newspeak, da sutil lavagem lingüística e ideológica. E, sim, o pai do Nabokov foi assassinado por um “direitista” insano - só que parece que mais uma vez você varre fatos para debaixo do tapete. O tiro que matou Vladimir Dmitrievich Nabokov não o fez senão por acaso. O alvo era o amigo que Nabokov tentara proteger, Pavel Nikolaevich Milyukov, também um antidéspota – título que para você, imagino, deve automaticamente ser equiparado a “ser de esquerda”, assim como deve ter sido automática sua conclusão de que os novos “escritores” de blog serão Pinochets e Pedro Carmonas no futuro. Milyukov era historiador e escreveu sobre o perigo que os Bolcheviques representavam. O sonho dos Kadets, ao instituir o “Pervaya Duma”, ou Primeiro Parlamento, era fazer da Rússia uma República ou uma monarquia constitucional como a Inglaterra. Sob o paradoxal regime tzarista, o pai de Nabokov foi proibido de participar nas eleições públicas, mas podia ainda trabalhar em publicações “esquerdistas”. Como disse o próprio escritor, àquela época “justice and public opinion could still prevail occasionally in old Rússia; they had only five years to go” ou, ainda, “The history of Russia could be considered from two points of view: first, as the evolution of the police (a curiously impersonal and detached force, sometimes working in a kind of void, sometimes helpless, and at other times outdoing the government in brutal persecution); and second, as the development of a marvelous culture. Under the Tsars, despite the fundamentally inept and ferocious character of their rule, a freedom-loving Russian had had incomparably more means of expressing himself, and used to run incomparably less risk in doing so, than under Lenin”. Mas claro que todo mundo prefere entender errado. Você parece ser outro que prefere acreditar no mundo cor-de-rosa dos esquerdistas bonzinhos e sonhadores contra direitistas malvados e inescrupulosos. O pai de Nabokov não era um “esquerdista” no fétido sentido – redolente aos que salivam de emoção romântica ao ver o “filho do povo” chegar à Presidência, tão semelhantes aos servos hipnotizados por um Lenin, um Hitler, um Mao, um Stalin – que a esquerda brasileira imprime à coisa. E veja que curioso: o assassino do pai de Nabokov era tão “de direita” que foi nomeado por Hitler como o administrador da “busca” alemã aos eventuais emigrés que deixassem a Rússia – gente, por exemplo, como Véra Nabokov, judia, e nada menos que a mulher do escritor cujo pai fora assassinado. Claro que você, como defensor da sacrossanta esquerda, acredita que o Nazismo era “um regime de direita”, não é mesmo? Ah, sim: meu caro Antonio Castellane, se conviveu mesmo com o Francis, dele não aprendeu nada. Aliás, para ter convivido com Francis, você tem de ter pelo menos uns 30 anos de idade – o que estranhamente não condiz com seu infantil hábito de mandar e-mails a pessoas que desconhece, chamando-as de “apple-polisher”. Vai lustrar o sapato do Jabor que você lucra mais, meu filho.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Juliana
17/11/2002 à
01h40

O patrocínio agradece
Parece que a estratégia de escrever artigos polêmicos continua funcionando. Até quando? Só que desta vez o intelectualoide escreveu asneiras demais.E olhe apesar de não comungar com o estilo do Francis, convivi com ele aqui em NY, e tenho certeza ele não gostaria da maioria dos dublês de escritores que vc citou.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Antonio Castellane
16/11/2002 às
22h16

Uma teoria
Parece-me que o Alexandre fez uma descrição interessante, mas pecou na análise. Por que essa nova geração de escritores é mais de direita? Tenho a teoria de que toda geração se define em oposição à geração anterior. A geração romântica surge em oposição ao racionalismo do neo-clássico e do iluminismo de Voltaire. Minha geração era libertária e de esquerda porque a geração anterior era de direita e ditatorial. Na eleição de 1989, meu tio passeava de carro pela cidade, vendo onde tinha boca de urna do Lula e chamando a polícia... Claro que eu só poderia ser de esquerda. Aliás, falou-se muito que a esquerda preza a igualdade e a direita preza a liberdade (afinal, o Alexandre está falando de direita ou de neo-liberalismo?). Mas há a opção anarquista, que preza tanto a igualdade quanto a liberdade...

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Gian Danton
16/11/2002 às
21h21

Discutir com neo-direitistas
Discutir com os neo-direitistas é muito divertido. O Felipe Ortiz chama o PFL de "traidor do liberalismo". O partido mais arraigado ao estatismo e ao clientelismo que já se viu no mundo. E não foi uma mudança nos "ideais" do partido, eles sempre foram assim. Grande análise. Depois, ele continua afirmando que existem dois liberais: os exploradores e os "dândis". Ou seja, existem aqueles que exploram a mais-valia e a usam para adquirir mais propriedades e ficar mais rico, e há outros que exploram a mais-valia e a usam para adquirir livros e escrever blogs. Isso é considerado "atualizar as potências humanas". Ironicamente (e longe da verdade), este ser dandesco que do alto de sua torre observa e comenta o mundo, segundo Felipe, não gosta de política e nem do poder. Mesmo assim, os blogs de direita citam mais o nome do Lula, do MST, do PT e de outros esquerdistas, do que qualquer jornal e site "normais" (não-claramente de direita, quero dizer). Que contradição é essa? Por que o choro dos vencidos, dos incapazes e dos hipócritas precisa ser tão alto, se nenhum de vocês gosta de política ou do poder? Parem de chorar e comecem a agir como adultos! O comentário do Felipe me lembra aquelas discussões infantis. Uma criança tenta fazer alguma coisa e não consegue, assim, para responder à zombaria das outras crianças, responde: mas eu não queria mesmo! Patético. A direita é incompetente e inepta. E qual é a resposta? "Ah, a gente prefere ficar contemplando o mundo, não queria brincar mesmo!!!". Cuidado, futuros Nabokovs, lembrem-se que o pai do escritor, foi assassinado por direitistas insanos. Infelizmente, nestes blogs gestam-se os novos Pinochets, Videlas e Pedro Carmonas. Porque ninguém acredita nestas baboseiras contemplativas, mas todo mundo sabe que a direita atua conspirativamente, na calada da noite mais covarde, prendendo, matando, jogando bombas. Como sempre fizeram, aliás. Ah, Rafael, eu nunca falei que os regimes de direita eram liberais, aliás, nem você acredita nisso. Eu falei que eram de direita. E a direita traveste-se da ideologia que mais lhe serve. Porque, em geral, só visa à manutenção de seus privilégios e do lucro de suas empresas e, para consegui-lo, a ideologia é o que menos importa. Saddam, Kadhafi, Arafat, são todos felizes defensores do capitalismo. No caso de Saddam, sempre foi um feliz aliado dos EUA até o final dos anos 80. Kadhafi fez as pazes com as potências ocidentais e todos felizes exploram petróleo e as riquezas naturais da Líbia numa explosão de capitalismo liberal (para eles, pelo menos), os fundamentalistas islâmicos têm as mesmas posições da direita americana em relação às minorias, aos gays, às mulheres, ao aborto e aos estrangeiros, chamá-los de esquerdistas é brincadeira de quem não ver a realidade. Também querem um capitalismo liberal para os muçulmanos, assim como os direitistas americanos querem muito liberalismo para os EUA. O Hamas, por exemplo, que nasceu financiado por Israel, ataca e mata os militantes comunistas palestinos. Quanto aos "institucionais" do PRI mexicano, foram eles que iniciaram a abertura liberal, assinaram o NAFTA, por que não seriam de direita? Por que você não quer? Não se preocupe, você é jovem e aprende: todo direitista é liberal quando fora do poder e um estatista quando sente o gosto das tetas do Estado. Você chega lá. O Khmer Rouge instaurou um governo de terror que, em nenhuma das suas medidas lembra nem vagamente o que falava Marx (ah, como Paulo Francis faz falta, ele, pelo menos havia lido Trotsky e entendia um pouco da coisa, seus pupilos por outro lado...), sem falar que tudo isso era de conhecimento e fora aprovado pelos EUA e pelas potências ocidentais. A situação foi tão calamitosa que a loucura só foi parada com a invasão dos "assassinos sanguinários" vietnamitas. Sim, aqueles comunistas horrorosos que derrotaram os americanos, tiveram que invadir o Camboja para derrubar o Khmer pró-americano e acabar com o genocídio. Viva os liberais dos EUA! Sem me estender muito: só uma palavra para esta falsa e anacrônica dicotomia entre igualdade e desigualdade - solidariedade. Por fim, perdoe-me se falar a verdade insulta sua inteligência e memória.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por marcelo
16/11/2002 às
16h12

argentinos e a sociedade
Caro Eduardo, Preciso dizer que o teu artigo me decepcionou profundamente, pelo que vejo voce conhece muito pouco da Argentina e do Brasil tambem. Acredito que seus comentarios superficiais e agresivos refletem a sua frustracao pessoal com argentinos e a sociedade em geral. Sendo um Argentino que mora no Brasil ha apenas 5 anos posso dizer q conheco e adimiro o Brasil muito mais que voce. Va morar na Argentina por alguns anos, com certeza voce mudara de ideia Juan

[Sobre "Uma verdade incômoda"]

por Juan Guzman
16/11/2002 às
17h14

preciso fazer uma correção
Já falei muito mais do que convinha, mas me perdoem: preciso fazer uma correção. Eu disse aí em cima que todas as ditaduras de direita apontadas pelo Marcelo eram falsamente liberais. Fui injusto. Quase todas. É que algumas não tinham nem o mero discurso liberal. Ah, Marcelo, não tente empurrar para o nosso lado os revolucionários mexicanos do PRI, Saddam Hussein, Muammar Kadhafi, o Khmer Vermelho (juro que não acreditei quando li...), Yasser Arafat e os terroristas palestinos em geral, que isso não vai colar não. Esses pratos foram vocês que sujaram. Quer discutir? Vamos discutir; mas sem insultos à inteligência e à memória, por favor.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Felipe Ortiz
16/11/2002 às
13h54

Literatura e Política
Alexandre, meu caro, muito obrigado pela generosa referência ao meu blog, ao lado de tão boas companhias. As influências de Paulo Francis e de Olavo de Carvalho sobre nós são um excelente assunto. Mês que vem, quando eu tiver um pouco mais de tempo, vou escrever umas considerações pessoais a respeito. Outro assunto que também vale um artigo são as correlações entre política e literatura que você rastreou, e que o leitor Marcelo (que, segundo entendi, é o colunista Marcelo Barbão) questionou. Minhas impressões são as seguintes: não tenho dúvidas de que a esquerda, no Brasil pelo menos, é politicamente muito mais bem organizada do que a direita. Nisso o Marcelo tem toda razão. Considerem a disciplina tática de um PT, que enfim elegeu seu candidato à Presidência após uma persistente campanha de quase vinte anos (Lula é, aberta ou veladamente, o candidato oficial e permanente do PT desde as Diretas-Já). E comparem com a inconsistência de um PFL, há várias eleições sem candidato próprio, mais comprometido com esquemas patrimonialistas do que com as bandeiras liberais - e para tanto disposto inclusive a compor, durante oito anos, com um partido de esquerda moderada como o PSDB. É claro que o socialismo petista é sincero, ao contrário do liberalismo pefelista. E essa sinceridade tem sido o motor do permanente crescimento do PT na política nacional. Acontece que as razões desse fiasco político do liberalismo são diferentes das que o Marcelo aponta. O verdadeiro motivo são as diferenças de valores. Um esquerdista vê na igualdade o valor fundamental. Essa igualdade não pode surgir de forma espontânea nas relações sociais, que se dão entre pessoas não só conjunturalmente desiguais, pelas suas heranças, mas também naturalmente desiguais por seus talentos e méritos; as relações livres entre desiguais tenderão portanto a premiar e perpetuar essa desigualdade. A igualdade só pode ser imposta pela coerção estatal. É compreensível, portanto, que os esquerdistas tendam a ser tão interessados pela participação política, pela "construção" de partidos e "movimentos sociais" e pela tomada e manutenção do poder. Tirem de um esquerdista todas as possibilidades de ascensão ao poder e de reforma do mundo conforme seus planos igualitários e vocês verão um ser angustiado, destituído do sentido de sua vida, talvez propenso ao suicídio. Um liberal tem uma tábua de valores completamente diferente. Para ele, fundamental é a liberdade. Que se manifesta no exercício de seus atributos pessoais - ou, em outras palavras, no uso, fruição e disposição de sua propriedade (o termo é aceitável se o empregamos num sentido mais vasto, abrangendo todas as possibilidades de ação de um indivíduo que tenham a si próprio como fim). Um liberal, portanto, está ocupado essencialmente com a atualização de suas potências e com a persecução de seus próprios fins, com seus próprios meios. Daí podemos deduzir a existência de dois tipos de liberal: aquele que preocupa-se essencialmente com os fins - o uso de sua "propriedade" - e aquele que prefere dedicar suas energias aos meios - acumular mais e mais "propriedade", não raro às expensas dos outros. É claro que este último não é propriamente um liberal, mas um simples e imaturo egoísta. Este provavelmente gosta de política, um ótimo meio de se expropriar as outras pessoas. É o pefelista de carteirinha típico, sem dúvida um patrimonialista ardoroso - nessa categoria recaem todas as ditaduras supostamente "liberais" que o Marcelo mencionou. Já o primeiro é um liberal no sentido próprio do termo. Não quer expropriar ninguém, só não admite ser expropriado. Despreza a política e o poder. Importante para ele é "fruir sua propriedade" - por exemplo, mantendo blogs na Internet, dedicando-se à filosofia, à literatura, à história, às ciências puras, à arte, a tudo aquilo que seja atualização pura das potências propriamente humanas. É esse o ponto. Um esquerdista vê um liberal aprimorando seu estilo num blog, ensaiando os livros que futuramente escreverá - e só consegue enxergar nele um frívolo, um simples contemplador inerte e incapaz de impulsionar um "novo estágio das forças produtivas". O liberal devolve o olhar ao esquerdista, que está todo afobado com os mil e um compromissos políticos ativos que este assumiu - e se compadece desse pobre-diabo, tão crente de que pode "transformar a realidade", e que não compreendeu que a contemplação é o fim último da vida e o único modo de vida propriamente humano. Aí está o conflito: nos valores. Cada um dos dois faz - e tende a fazer bem - aquilo que lhe parece essencial. É compreensível, portanto, que tenhamos ótimas mentes táticas e revolucionárias em partidos de esquerda cada vez mais ativos - e brilhantes mentes contemplativas em blogs "de direita" cada vez melhores, à medida que seus autores amadurecem suas idéias e seu estilo. Nesse rumo, não é impossível que o futuro do Brasil seja uma espécie de União Soviética, uma máquina feroz (e, no curto e médio prazos, eficiente) de controle ditatorial da vida individual, movida pela busca obstinada por igualdade - e descrita, "ad perpetuam rei memoriam", nos romances e poemas de brilhantes gerações de escritores, todos exilados e todos "de direita". Os novos Nabokovs e Soljenitsins talvez estejam nascendo nos blogs da Internet brasileira. Tal como os nossos Stalins e Brejnevs já estão no ventre dos PT, do PSTU, do MST e de outros movimentos do tipo. Para finalizar esse enorme comentário, uma dica: uma maravilhosa exposição do liberalismo (e que por isso mesmo quase não fala de política, mas de valores) está no livrinho "O Saber dos Antigos", do filósofo italiano Giovanni Reale, Ed. Loyola. Estou recomendando-o para todo mundo: não custa nem vinte reais e marca fundo qualquer consciência. Esse, sim, é "revolucionário": pode mudar uma vida.

[Sobre "Filhos de Francis"]

por Felipe Ortiz
16/11/2002 às
12h35

Julio Daio Borges
Editor

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