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Segunda-feira, 11/4/2005
A Verdade Sobre o Digestivo Cultural
Ricardo de Mattos

Como eu acabei incluído na equipe de colunistas do Digestivo Cultural é algo já explicado no editorial do Julio Borges. N’um domingo de manhã eu lia a Sinopse do Daniel Piza, interessei-me por uma citação e acessei o sítio nos áureos tempos em que o computador de casa funcionava. Continuei acessando a página regularmente, revirando todos os textos de todos os colunistas de então. Mais ou menos ao mesmo tempo, escrevia eu despreocupadamente um texto/ensaio/diário sobre o convívio com os livros. Quando ficou pronto, pensei no que fazer com ele. Não é por poltronismo que confesso ter pensado primeiro na imprensa virtual que na física. Escolhi um título à Montaigne: "Do Comércio Com Os Livros", localizei o Julio através do seu "Curriculum Vitae" e arrisquei o envio.

Lembro-me bem que enviei a primeira coluna e viajei para Minas Gerais. Viajei esperando uma resposta mais ou menos assim: Prezado Ricardo, agradecemos o envio do seu texto, que publicaremos assim que possível. Entenda-se: quando não houver nada melhor para publicar. Para minha real surpresa, quando retornei a coluna já havia sido publicada e encontrei também uma mensagem estimulante do Julio, dando-me até o número do telefone para contato.

No contato telefônico, combinamos que eu enviaria textos assim que estivessem prontos. Como eu havia lido Oblomov, arrisquei escrever especificamente sobre ele. Foi um verdadeiro risco, pois nunca havia resenhado um livro. Nova publicação. Ei! Não gosto apenas de livros! Decidi escrever sobre música, optando então pelo popularíssimo oratório Juditha Triumphans. Coisa de quem vive retirado da sociedade. Nova publicação, e d’esta data em diante fui posto entre os colunistas fixos. Simplesmente vim parar n’um sítio totalmente dedicado à Cultura que eu acompanhava com entusiasmo e ao lado de pessoas que sabiam apreciar aquilo sobre o que escreviam. Sou do tempo em que duas colunas eram publicadas por dia.

Nem tive tempo para hesitações. A cada resenha escrita, eu recebia e recebo um comentário do Julio. Como além de elogiar ele também critica, confiei inteiramente a ele o controle de qualidade, dizer se o trabalho está de acordo com o procurado pelo Digestivo Cultural. Nem sei se ele sabe d’isso. As opiniões não são convergentes no total, mas devo ser uma das três ou quatro pessoas do mundo que podem ser criticadas sem guardar rancor. Além d’isso, quem tem experiência com Internet e maior envolvimento com o “fazer” jornalismo é ele, não eu.

Todas as minhas colunas são experimentos individuais. Devido à variedade de livros que já chegaram-me às mãos, nunca tive a preocupação de seguir uma fórmula. Romances, contos, teatro, religião, filosofia, história. Se elogio ou se ataco, é de leitor para leitor. Não exigi e nem exijo ser chamado de crítico. A verdade é que escrevo por não ter com quem falar, porque as poucas pessoas com quem poderia abordar o assunto estão distantes ou não lêem as mesmas coisas. Vez ou outra escrevi sobre música. Homenageei minha cara Ursa, hoje acompanhada por sua filha Cigana – os olhos ardem quando lembro-me d’elas. Suprema pretensão, encaixei alguns contos ao final de algumas colunas.

Já tive surpresas várias. O texto sobre o livro de Carlos Castaneda – que eu não altero uma letra – rende-me ataques até hoje, mais de um ano após a publicação. Vez e outra um perebento manda-me para aquele lugar assim, assim. Já a coluna sobre A Sombra Do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, mal foi notada.

Espero estar ligado ao Digestivo Cultural enquanto ele existir. Escrever sem pretensão e sem preocupações acadêmicas (a nota de rodapé nº 314 traz a página exata de onde foi tirada a citação?). Atualmente voltei à posição de colaborador para não precisar obedecer à regularidade quinzenal. Será uma fase até eu encerrar determinado projeto. Falei ao Julio em particular: no casarão do DC, eu fiz uma retirada estratégica no sótão.

Ricardo de Mattos
Segunda-feira, 11/4/2005

 

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