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Segunda-feira, 17/9/2001
Eu - parte da história
Paulo Polzonoff Jr

Para mim tudo começou com uma carne-de-onça. No Bar do Pudim, que viria a falecer dali a alguns meses, eu comia uma deliciosa carne-de-onça com algumas cervejas, cujo número preciso a dosagem alcoólica me impede de dizer, quando um dos amigos presentes à mesa disse que eu tinha sido citado na coluna do Daniel Piza daquela sexta. Eu ri, achando que se tratava de mais uma brincadeira daqueles bêbados filhosdaputa. Só que eu estava enganado.

Achei que era brincadeira menos por modéstia e mais por insegurança. Sendo muito novo (a idade não revelo nem sub judice), desde muito cedo me acostumei com certos sonhos alheios transpostos para a minha pessoa. Como os que estavam naquela mesa eram aspirantes a jornalistas e intelectuais, seria natural que estivessem só "tirando uma" com a minha cara vermelha de falso judeu russo.

Fui para casa meio bêbado (o "meio" é um eufemismo, claro) e fui dar uma olhadinha da Gazeta Mercantil. Não achei meu nome na primeira lida. Nem na segunda. Possivelmente nem na terceira. Achei depois. E junto de meu nome havia o de J.D. Borges e mais o de um cara de quem não lembro. Sabe como é, a gente fica cheio de si quando lê um cara como o Daniel Piza dizer que "quem escreve bem é porque pensa bem, gente como Paulo Polzonoff Jr. e J.D. Borges". Vá lá. Eu sempre fui alguém carente de elogios. (Hoje um elogio do Daniel Piza seria só mais um elogio do Daniel Piza. O que eu queria mesmo era um emprego do Daniel Piza, mas...).

Naquela época, mais, mas muito mais mesmo do que hoje. Por isso, eu escrevia a torto e a direito e simplesmente esparramava meus textos na Internet. Primeiro num site chamado Proa da Palavra, que nem existe mais. Depois num outro chamado Fortuna & Virtude, que acabou. Depois no zine NÃO-TIL, de um pessoal de esquerda do Rio Grande do Sul (eu já disse que tive minha fase esquerdista burro. Peço desculpas por ter sido tão idiota durante tanto tempo). Até que fui convidado a escrever para o Nave da Palavra, onde colaboro até hoje.

O Digestivo estava distante ainda. Lembram daquela carne-de-onça? Pois é. Naquele dia, fundamos o Rascunho, um suplemento literário que tem sobrevivido às duras penas aqui em Curitiba. E que foi um dos grandes motivos de eu ter continuado vivo. Sim, porque eu jamais escondi de ninguém que sofria de depressão e que o fato de eu escrever se devia, em grande parte, a esta doença. Mais tarde, é bem verdade, eu descobriria que eu tenho é distúrbio bipolar e não depressão, mas serve.

No começo eu simplesmente mandava carradas de textos para o Digestivo. O Julio era quem escolhia. Por culpa dele vocês ficaram sem ler minhas opiniões sobre o Rubem Fonseca, por exemplo. Por outro lado, o Julio deu uma tacada de gênio quando resolveu publicar, extra-Digestivo, o "Está Consumado", aquela quase-carta de suicídio que escrevi. A quem interessar possa, digo que hoje estou praticamente curado, exceto por uma crise ou outra, como a que me acometeu este fim de semana. Paciência.

E foi assim que tudo começou. E tudo vai terminar com o Digestivo sendo um dos portais mais acessados da Internet e comigo e com os outros Colunistas podendo ganhar para escrever.

Não posso deixar de dizer neste texto que esta pequena comunidade virtual de que faço parte agora se tornou um pouco minha família. Principalmente o Paulo Salles, com seu verborrágico silêncio, a bela Daniela Sandler, minha paixão virtual, o Fabio Danesi Rossi, tão, tão... autêntico, e os Rafaéis, que eu sempre confundo, apesar de saber que eles são completamente diferentes. Estes são os que fazem parte da minha vida de uma forma mais contínua, mas ainda tem a Vera, a Adriana (sempre disposta a me odiar) e, claro, o Julio, me dando bronca por qualquer coisa.

Não é assim que tudo começou, meus caros; é assim que tudo vai acontecendo...

Paulo Polzonoff Jr
Segunda-feira, 17/9/2001

 

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