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Quarta-feira, 3/5/2006
Entrevistas, a entrevista
Julio Daio Borges

1. Entrevistas não são, em matéria de jornalismo, uma idéia óbvia? Por que então elas demoraram tanto a aparecer no Digestivo Cultural?
Por pudor; por excesso de zelo. Para você ter uma idéia, nos primórdios do Digestivo, nós discutíamos se seria só um entrevistador ou se seriam vários... Ao vivo (com gravador) ou por escrito? Fora que a preocupação central é a mesma de sempre em todo o site: manter a periodicidade e a qualidade. Eis o porquê de uma nova seção.

2. Quem serão os entrevistados?
Essa também foi, durante anos, uma questão. Seriam entrevistas-de-uma-vida-inteira (como, por exemplo, as da Caros Amigos) ou seriam entrevistas atreladas a um produto ou a um evento cultural. Optamos pela segunda opção. O Digestivo é eminentemente jornalístico e não tem a ambição de ser assim tão definitivo. Logo, o propósito das Entrevistas não é montar uma antologia da obra do sujeito e, sim, retratar aquele momento em especial. (Respondendo objetivamente agora: escritores, jornalistas, músicos, cineastas, homens de teatro, artistas em geral, pensadores, agitadores culturais... empreendedores!)

3. Existe já um formato fixo?
Ainda, não. Como tudo no Digestivo, a seção vai ganhando forma à medida que for acontecendo. No início, parece que o atual formato – de dez perguntas em uma página – é bom. Entrevistas longas demais, na internet, cansam. E entrevistas curtas demais, geralmente, não dizem nada. O objetivo, de novo, é agregar valor.

4. E quem vai entrevistar?
Eu mesmo vou começar entrevistando, como comecei aliás, no site, a maioria das seções... À medida que a seção for ganhando corpo, vamos descentralizando. Mas vai ser um processo lento... Meu medo era nem sempre conseguir arrancar coisas interessantes dos Entrevistados, mas acho que estou sendo bem-sucedido na empreitada – então vou exigir, dos demais Entrevistadores do Digestivo Cultural, que também o sejam...

5. Por que havia essa relutância em publicar entrevistas nas demais seções do site?
Porque fazer uma entrevista e fazer uma matéria, eu penso, são coisas diferentes. Nas Colunas, eu quero ver textos dos Colunistas – e não eles entrevistando outras pessoas apenas... Aconteceu; porque a seção Colunas era mais fluida; porque eu não me importava tanto... Nesse sentido, concordo com o Ivan Lessa: entrevista não é, necessariamente, jornalismo.

6. O que vai acrescentar para o Leitor (a nova seção)?
Bem, eu, como leitor de outras publicações, tenho tendência a invariavelmente ler uma entrevista se o entrevistado em questão me interessar – mesmo que não me interesse o entrevistador. Ou seja: o repórter pode até ser meio medíocre, mas, se o entrevistado for bom o suficiente, sempre sobra alguma coisa... Numa publicação de tanta gente relativamente nova, como é o caso do Digestivo, essa característica das entrevistas por servir de chamariz. Às vezes, você – Leitor novo – não conhece nenhum dos Colunistas do Digestivo Cultural, e não quer se arriscar na leitura – então parte para os Ensaios e, agora, para as Entrevistas...

7. E a periodicidade?
Vai ser, por enquanto, mensal. Como eu disse, as Entrevistas têm de acrescentar alguma coisa. Se forem feitas muito em série, perdem a qualidade e deixam de chamar a atenção. Uma grande Entrevista por mês está mais do que bom, não está? Na verdade, é também uma espécie de crítica à banalização do gênero na imprensa. Felizmente, os Entrevistados – até agora – também estão percebendo isso... (ou seja, que é uma seção muito especial para nós).

8. E como você desperta isso, esse sentimento, no Entrevistado?
Bom, preparando as perguntas, se preparando para a Entrevista, coletando informações, quebrando a cabeça para não soar óbvio, e para fazer com que o Entrevistado não soe óbvio... Na realidade, a reação do Entrevistado não dá para prever, mas as experiências que temos tido até aqui são plenamente satisfatórias. (Traduzindo: mesmo quando a seção não existia ainda, os Entrevistados já haviam entendido toda a história.)

9. A idéia é publicar sempre em conjunto com outro veículo?
Nem sempre, mas, no caso das duas primeiras entrevistas, aconteceu. No caso específico do Milton Hatoum, eu fiquei particularmente impressionado com o resultado e quis vê-lo também publicado – e o Suplemento Literário de Minas Gerais nos acenou com essa possibilidade. Já no caso do Daniel Galera (próximo Entrevistado, de junho), eu mesmo tomei a iniciativa de sugerir ao Rascunho. Porque eu acho que: assim como o Galera é um escritor-símbolo da nossa geração, o Rascunho é o veículo literário símbolo da nossa geração. Mas vamos ver caso a caso... Independentemente dos dois exemplos citados, talvez seja importante – ao menos, no começo – ter esse impulso de outras publicações.

10. O que as pessoas têm achado de você como Entrevistador?
Ainda é cedo pra falar, mas eu sei que sou bastante verborrágico. De certa forma, a Entrevista surge para mim como um brainstorm. Acho que até canso os Entrevistados, mas o objetivo maior é estimulá-los a falar. O Milton Hatoum, quando leu, parou e pediu alguns dias para dar as respostas. Já o Galera disse que ficou "cansado só de ler", perturbou-se com alguns juízos meus... mas respondeu no dia seguinte. Vamos ver os próximos... Como tudo, é um aprendizado. Vamos ver, também, se os Leitores vão gostar...!

Julio Daio Borges
Quarta-feira, 3/5/2006

 

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