Francis Ponge, garimpeiro dos sonhos | Pedro Maciel

busca | avançada
85620 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições | 3ª edição do Festival Vórtice
>>> “Poetas Plurais”, que reúne autores de 5 estados brasileiros, será lançada no Instituto Caleidos
>>> Terminal Sapopemba é palco para o evento A Quebrada É Boa realizado pelo Monarckas
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> 2007 enfim começou
>>> Depeche Mode 101 (1988)
>>> Borges: uma vida, por Edwin Williamson
>>> Why are the movies so bad?
>>> Histórias de gatos
>>> Microsoft matando o livro
>>> A TV paga no Brasil
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> Change ― and Positioning
>>> Retrato de corpo inteiro de um tirano comum
Mais Recentes
>>> Maria Anjinha Borboleta - Lidando Com as Perdas de Sandra Witkowski pela Tocando A Vida Com Leveza (2022)
>>> Urupês de Monteiro Lobato pela Globo (2007)
>>> Emilia no Pais da Gramatica de Monteiro Lobato pela Brasiliense (1981)
>>> Amoris Laetitia - Sobre O Amor Na Familia - Exortacao Apostolica Pos-sinodal Do Papa Francisco - Colecao Magisterio de Papa Francisco pela Paulus (2016)
>>> Deus - Coleção Deus para Pensar 3 de Adolphe Gesché pela Paulinas (2004)
>>> A Experiência Da Mesa - O Segredo Para Criar Relacionamentos Profundos de Devi Titus pela Mundo Cristao (2023)
>>> Jogos Vorazes de Suzanne Collins pela Rocco (2010)
>>> O Livro das Cartas Encantadas de Índigo pela Brinque Book (2007)
>>> Lovers and Dreamers 3-in-1 - Dream Trilogy de Nora Roberts pela Berkley (2005)
>>> O que é ideologia - Coleção Primeiros Passos de Marilena Chauí pela Brasiliense (1981)
>>> Disciplina Positiva de Jane Nelsen pela Manole (2015)
>>> Mindhunter - O Primeiro Caçador De Serial Killers Americano de Jonh Douglas / Mark Olshaker pela Intrinseca (2017)
>>> Raio X de Gabriela Pugliesi pela Reptil (2014)
>>> Cidadania Cultural o Direito à Cultura de Marilena Chauí pela Fundação perseu abramo (2006)
>>> Subindo para Jerusalém - Subsídios para um Retiro de Manuel Eduardo Iglesias pela Loyola (2001)
>>> Capitaes da Areia de Jorge Amado pela Record (1983)
>>> Alice No País Dos Números de Carlo Frabetti pela Atica (2024)
>>> Vidas Secas - 62 ed de Graciliano Ramos pela Record (1992)
>>> Vidas Secas de Graciliano Ramos pela Record (1994)
>>> Papéis de Shimon al-Masri - em arabe أوراق شمعون المصري de Osama Abdel Raouf ElShazly pela Dar Alruwaq ( (2024)
>>> Damianas Reign -Arabic - em arabe de Osama Abdel Raouf ElShazly pela Dar Alruwaq (2024)
>>> O Visconde Partido Ao Meio de Italo Calvino - Nilson Moulin tradutor pela Companhia das Letras (2006)
>>> Matematica Elementar II- Situações de Matemática do Ensino Médio de Marcelo Gorges - Olimpio Rudinin Vissoto Leite pela Iesde (2009)
>>> Livro Da Psicologia de varios Autores pela Globo (2012)
>>> Dignidade! de Mario Vargas Llosa e outros pela Leya (2012)
ENSAIOS

Segunda-feira, 5/5/2003
Francis Ponge, garimpeiro dos sonhos
Pedro Maciel
+ de 5500 Acessos

Francis Ponge é, por excelência, o poeta das coisas que exigem definições, das coisas partidas, das coisas naturais, das coisas inanimadas e animadas. Ele descreve o universo, os meteoros, a chuva, o fogo. Encanta-se com os moluscos, ostras, caracóis. Busca a todo momento dar voz às coisas silenciosas. Traz à luz o mundo mágico da natureza. No Proemas, Ponge diz que “o homem julga a natureza absurda, ou misteriosa, ou madrasta. Bem. Mas a natureza não existe a não ser pelo homem”. Ele projeta, idealiza o homem harmonizado com os quatro elementos: a terra, o fogo, a água e o ar.

Os breves e apaixonados 32 textos de “O Partido das Coisas” (Ed. Iluminuras), escritos entre 1924 e 1939 são um exercício lúdico, uma tentativa de fundação de um novo humanismo. Em Caracóis, o poeta filosofa: “Mas qual é a noção própria do homem: a palavra e a moral. O humanismo”.

Segundo Michel Peterson, no texto de abertura de O Partido do Poeta, a poesia pongiana qualifica-se como “científica e sensual, descritiva e proverbial, anarquista e pompidouística, barroca e clássica, preciosa e natural, objetivista e autobiográfica, narcisista e cética, analítica e prolixa, mimética e inventiva, concretista e abstrata, formalista e gnômica, protestante e auto-irônica”, e tudo mais que o leitor quiser espreitar desses sonhos reflexivos e oraculares.

O poeta do ciclo das estações é um garimpeiro dos sonhos, da lembrança submersa, da escritura das metáforas, das imagens da vigília que nos inspiram sentimentos. Ponge descreve, aproxima, contempla as coisas que se fragmentam e morrem. O tema da morte trespassa quase todos os poemas. É a partir do verbiário da morte, da “palavra em estado nascente”, que o poeta descreve os objetos e os seres do mundo, decanta o saber e a verdade das coisas que morrem e renascem.

O Partido das Coisas tornou-se um clássico da poesia francesa. Ponge é herdeiro da tradição da poesia científica do século XVI e, especialmente, das “pequenas invenções” de Rémi Belleau. Nem toda a crítica reconhece que a fusão entre poesia e ciência na poesia pongiana iria muito além da precisão lexical das descrições e do recurso sistemático à etimologia.

O poeta das definições e dos provérbios, da linguagem em êxtase, da poética do tatear, propõe uma reflexão da escritura e da palavra.

A presente coletânea, aberta com a epígrafe de Christian Bobin, diz que “o pardal Ponge pousou em 27 de março de 1899 no rebordo do mundo. Levantou vôo em 6 de agosto de 1988. Deixou sua canção perto de nós, no frescor da noite. Sua luz de canto puro”.

Ponge é antes de tudo um poeta que sobrevoa o instanteluz das coisas, um pássaro que alça vôo antes das coisas se desfazerem, antes do sol encarnar-se nas nuvens sombrias; um pássaro que “se voa, traça signos de fogo no céu; se cai, deixa uma cauda de sons na terra: ouvimos seu rumor mas não vemos sua forma”.

As Amoras; O Partido das Coisas, de Francis Ponge
Nas sarças tipográficas constituídas pelo poema numa estrada que não conduz para fora das coisas nem ao espírito, certos frutos são formados por uma aglomeração de esferas que uma gota de tinta preenche.

*

Pretos, rosados e cáqui juntos no cacho, oferecem antes o espetáculo de uma família arrogante em suas idades diversas do que uma vivíssima tentação para a colheita.

Vista a desproporção entre as sementes e a polpa os pássaros os apreciam pouco, tão pouca coisa no fundo lhes resta quando do bico ao ânus são por eles atravessados.

*

Mas o poeta, no curso de seu passeio profissional, colhe um grão exemplo com razão: “Assim, pois, diz consigo, frutificam em grande número os esforços pacientes de uma flor mui frágil embora por um rebarbativo emaranhado de silvas defendida. Sem muitas outras qualidades, - amora, perfeito, madura se amora - como também este poema é feito.”

O Fogo; O Partido das Coisas, de Francis Ponge
O fogo estabelece uma classificação: primeiro, todas as chamas se encaminham em uma direção...

(Só se pode comparar a andadura do fogo à dos animais: é preciso que desocupe este lugar para ocupar aquele outro; caminha a um só tempo como ameba e como girafa, o pescoço Pa frente, os pés rampantes)...

Depois, ao passo que as massas metodicamente contaminadas se aniquilam, os gases liberados vão-se transformando numa só rampa de borboletas.

Nota do Editor
Ensaio gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, em dezembro de 2000.


Pedro Maciel
Belo Horizonte, 5/5/2003
Mais Pedro Maciel
Mais Acessados de Pedro Maciel
01. Italo Calvino: descobridor do fantástico no real - 8/9/2003
02. A arte como destino do ser - 20/5/2002
03. Antônio Cícero: música e poesia - 9/2/2004
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa - 14/7/2003
05. Nadja, o romance onírico surreal - 10/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Infanto Juvenis Animais de Todos os Lugares
Lilian Pluta
Ciranda Cultural



Magritte
Pere Gimferrer
Polígrafa
(1986)



Livro Psicologia Uma Breve História da Psicologia
álvaro Cabral / Eduardo Pinto de Oliveira
Zahar
(1972)



Iluminação, Sexo e Coca Cola: Desafios no Caminho Espiritual
Sabrina Fox
Pensamento
(2007)



Rubaiyat
Omar Khayam
Jangada
(1944)



Corpo em Obra
Rafael Kalaf Cossi
Nversos
(2011)



As Fabulosas Águas Quentes de Caldas Novas
Vários Aut - Organizada pelo Editor Taylor Oriente
Oriente
(1982)



Vida Selvagem
Richard Ford
BestSeller
(1990)



Diálogo Dança
Marcia Tiburi
Senac
(2012)



Livro de Bolso Literatura Brasileira Coisas Da Vida
Martha Medeiros
L&pm Pocket
(2009)





busca | avançada
85620 visitas/dia
2,0 milhão/mês