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Segunda-feira, 14/9/2009
Fim da Web como Terra Prometida
Tiago Dória

A tirania do e-mail será o próximo livro a entrar nas livrarias com críticas à chamada cultura digital. Faz parte de um nítido crescente movimento, ainda sem nome, de escritores e "media thinkers" com uma postura mais crítica em relação às transformações causadas pela internet.

No livro, John Freeman faz um manifesto contra a comunicação "em tempo real". Num pensamento parecido ao do movimento "slow food", Freeman argumenta a favor de uma comunicação mais interpessoal e menos fascinada pela velocidade. Para o Wall Street Journal, recentemente o escritor produziu um artigo com alguns pontos que serão abordados no livro.

Freeman argumenta até contra o uso em excesso do smartphone BlackBerry. Antes uma ferramenta libertadora (posso trabalhar de qualquer lugar), se tornou um instrumento de controle (a empresa está em contato comigo 24 horas e pode me encontrar em qualquer lugar).

Portanto, em outubro, quando o livro será lançado, Freeman entra para o "clube" de escritores que têm uma visão menos romântica em relação à internet, do qual já fazem parte Andrew Keen, Nicholas Carr e Lee Siegel, que, no ano passado, lançou Against the Machine, livro em que faz um julgamento negativo em relação à digitalização. Uma espécie de versão mais embasada de O culto do amador, de Keen.

Dois aspectos ficam evidentes com esses lançamentos:

Um deles é o vazio em relação a esse assunto por aqui. Enquanto que, pelo que percebo, no Brasil, acadêmicos e "media thinkers", em geral, têm uma visão mais evangelizadora do que científica em relação a esses fenômenos, lá fora a postura já começa a mudar um pouco. Por aqui, é muito comum você ler posts e textos incensando o jornalismo cidadão e as mídias sociais, mas pouquíssimos fazendo uma crítica mais contundente a esses fenômenos.

O que de nenhuma forma é uma postura absurda ou anormal. Sempre quando uma tecnologia surge é comum que, no início, ela seja repleta de teorias otimistas, de profecias positivas e por que não utópicas demais. Normalmente, no início, essas teorias funcionam como uma eficiente ferramenta para vender uma tecnologia como a "terra prometida". Depois, descobre-se que tal tecnologia trouxe muitas vantagens, mas também pouco do esperado e prometido.

Portanto, dentro do contexto da "história das tecnologias", é normal estarmos passando por uma fase otimista em relação às transformações que a internet está proporcionando. Da mesma forma, no início, as teorias mais otimistas em relação à energia elétrica e à invenção do carro não cogitaram que a eletricidade seria utilizada também para torturar pessoas e nem que os carros causariam tanta poluição e engarrafamentos.

Outro aspecto evidente com o lançamento desses livros, como o de Freeman, é que ele abre espaço para uma espécie de novo ludismo, meio capenga, e que trata as tecnologias como um contraponto natural ao homem, como se tecnologia e humanismo nunca tivessem andado juntos, como se garfos, facas e o papel também não fossem tecnologias.

O que acho uma visão totalmente incompleta por tratar apenas como tecnologia computadores e outros apetrechos tecnológicos mais recentes.

Mas, por outro lado, é mais do que necessária a leitura desses livros. Até porque você não vai formar nenhuma visão crítica ou ter uma postura mais científica apenas lendo textos e livros que incensam as mídias sociais, os blogs e o jornalismo cidadão (para pegar 3 exemplos mais em voga).

Conforme comentei em outro texto, acredito que a verdade sobre essas transformações que a internet está proporcionando esteja no meio termo.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no blog de Tiago Dória.

Tiago Dória
São Paulo, 14/9/2009

 

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