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Quarta-feira, 7/1/2004
Digestivo nº 156

Julio Daio Borges

>>> COM QUE BANDA EU (NÃO) VOU A “Informática Exame” fez matéria de capa sobre as opções de internet “banda larga”, mas ficou em cima do muro, como é de praxe. Todo mundo sabe que banda larga não funciona direito no Brasil, mas ninguém tem coragem de falar. Os investimentos em marketing são voluptuosos (vide Telefônica) e os “formadores de opinião” não querem ficar de fora do bolo publicitário das empresas de telecom. Quem teve, por exemplo, Vírtua (que é da Net, uma tevê a cabo) sabe que o sinal é fraco; as luzinhas de conexão piscam por qualquer coisa (chuva ou consertos de rua, por exemplo); e que os técnicos enviados ou não sabem nada ou, sabendo que a coisa não funciona mesmo, aplicam paliativos como “filtros” ou pseudo-“aumentos de sinal” na região. No fim das contas, quando o serviço não falha, opera a uma velocidade pouco maior que a da conexão discada (única vantagem portanto: não ocupa a linha – e só). É o mesmo caso do Speedy (da Telefônica), com o agravante que o software distribuído é pior do que vírus de computador – pois desconfigura uma porção de aplicativos (como o Internet Explorer e o Outlook Express), sendo que, para ele, não existe “vacina”. A única saída é apagar tudo (“reformatar” a máquina) e manter-se longe do suporte técnico (não se sabe qual é pior: se o telefônico ou se o “presencial”). No meio desse caos, parece haver, em São Paulo, uma luz no fim do túnel. (O consumidor não sabe se acredita, depois de tantas dores de cabeça...) Chama-se Giro e é da Vésper (outra “tele”; afinal, ninguém é perfeito). Ao que parece, trabalha com ondas: não gasta fio (telefônico, cabo ou fibra ótica); apenas uma tomada. Não cobre, infelizmente, toda a região metropolitana – mas, ao menos, não é vendido como a solução final. Se não funcionar, no dia seguinte o usuário pode devolver – sem qualquer custo. Não é um primor de velocidade, mas, pelo menos, é estável. Não foi suficientemente testado, mas, para quem quer fugir da ganância da concorrência, surge como a melhor opção. E, para completar, não exige que se contrate obrigatoriamente um “provedor”. Alea jacta est.
>>> Informática Exame | Vírtua | Speedy | Giro
 
>>> COMO PODE O PEIXE VIVO...? João Guimarães Rosa, ou Vovô Joãozinho, continua revelando surpresas do arco da velha. Desta vez, é a correspondência que trocou com suas netas por adoção: Vera e Beatriz Helena Tess, respectivamente, “Ooó do Vovô” (porque, muito antes de falar, apontava para as coisas e pronunciava: “O-o-ó!”) e “2-Neném” (simplesmente porque sua irmã, a preferida do Vovô, era a “Neném nº 1”). É esse o clima lúdico e brincalhão que permeia o caprichoso livro que tem projeto gráfico de Diana Mindlin, filha do bibliógrafo José Mindlin. Foi ele o responsável pela edição dos cartões postais e rabiscos do autor de “Sagarana”, e de suas netas, depois que quatro anos de insistência junto às mesmas. Vera e Beatriz, que procuraram Mindlin a fim de saber como conservar os originais de “Grande Sertão: Veredas”, não achavam que as gracinhas do Vovô Joãozinho pudessem “interessar a terceiros” – no dizer do ex-proprietário da Metal Leve, que, com Antonio Candido, assina o prefácio. Na noite de lançamento, na Livraria Cultura, Mindlin anunciou – à boca pequena – que está sendo preparada uma edição fac-similar do “Grande Sertão”, por ocasião dos 70 anos da Universidade de São Paulo (agora em 2004). Quem leu “Uma vida entre livros” (1997) conhece pelo menos a capa, desenhada à mão por Guimarães Rosa; e em breve vai conhecer também o interior, todo batido à máquina, mas com inúmeras correções. Já era pública a faceta do pesquisador da linguagem, que obsessivamente anotava os falares de Minas Gerais. O que o novo livro revela é um desejo incontido de se comunicar com as crianças: imitando o linguajar delas; fazendo observações sobre o discurso infantil; e promovendo representações gráficas simplificadas do mundo dos adultos. O resultado é comovente, e o livro termina deixando muitas saudades do Vovô Joãozinho – mesmo em que não foi neto dele.
>>> Ooó do Vovô - Guimarães Rosa/Vera e Beatriz Helena Tess - 69 págs. - Edusp/PUC Minas/Imprensa Oficial
 
>>> O CONSELHEIRO AINDA COME (E BEBE) Era uma vez o Nicola, que encarou a maior concorrência em matéria de bares dos últimos tempos: o Original, da rua Graúna. Ele tinha um apelo, uma arquitetura de primeira linha e um chope que não fazia feio. Estourou. Luiz Fernando, um dos três sócios-fundadores, garante que não era o “vácuo” do Original – embora assegure que os mesmos proprietários de outras casas, como o Astor e o Pirajá, jamais tenham engolido a ousadia de se inaugurar uma choperia logo ali ao lado. O tempo de bonança, lamentavelmente, passou. Houve desentendimentos internos, o “time” foi se desagregando e o Nicola não segurou o rojão. Luiz Fernando agüentou o quanto pode e recentemente, com dois novos sócios, partiu para a Galeteria Graúna. No mesmo local. A decoração, a cerveja e o bolinho de bacalhau seguem os mesmos dos bons tempos – a diferença é que as expectativas são menores e o estabelecimento quer diversificar. Agora com gente do ramo (ex-donos de padarias, pizzarias e doceiras), o foco da Galeteria Graúna é o almoço, a um preço acessível, com um pouco mais de charme que o normal. Há uma carta de vinhos e uma novidade, pelo menos até onde se sabe: o clube da cachaça. Com uma opção de dezenas de rótulos, e iniciativas inspiradas em outras confrarias do gênero. O galeto (que dá o nome) vem saboroso na brasa, com bem-feitas guarnições e um cardápio de entradas e saladas, para quem quiser combinar. Os donos chamam para ver o jardim, ao fundo, e estão igualmente apostando no que hoje se chama de “delivery” (encomendas ou gente que vem comprar para levar). Luiz Fernando, um ex-executivo do mercado financeiro, ex-investidor durante o “boom” da internet, filosofa: – “Restaurante é serviço”. Conta que tinham (têm), inclusive, um plano de carreira para cada funcionário. E a profissionalização vai chegando ao ramo... Que a mesma reerga a Galeteria Graúna; e faça jus à memória do Nicola.
>>> Galeteria Graúna - Rua Graúna, nº 87 - Tel.: 5531-2908
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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