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Quarta-feira, 7/4/2004
Digestivo nº 169

Julio Daio Borges

>>> IS FULANO YOUR FRIEND? Para quem está tão acostumado a apagar “spam” na língua de Shakespeare, não chega a ser novidade receber uma mensagem em inglês. A novidade está no seu conteúdo. Trata-se de um convite para participar de uma comunidade virtual. Trata-se do “orkut”. Mas o que é o “orkut”? Pois é, ninguém sabe explicar. Quem leu no “Estadão” entendeu que o site (e seus adesistas) era(m) uma ameaça aos tão vilipendiados “blogs”. Já os blogs falam num conjunto de “perfis” através dos quais se pode “navegar”. O fato é que o primeiro passo para aderir ao “orkut” é preencher um longo questionário com informações objetivas, gostos e preferências pessoais. São algumas páginas de formulário, deixando o internauta desconcertado (com tanta intimidade), ou simplesmente cansado por ter de escavar a própria personalidade. Como você é? Quais as suas referências (livros, discos, filmes)? Com que tipo de pessoa você gostar de se relacionar? Feito isso, o próximo passo é expandir seus “contatos”. “Ranqueando” a mesma pessoa que te indicou (para o “orkut”), e outras mais que você vai encontrar nas suas “andanças”. O objetivo é montar sua “rede particular de confiança”. Através dela – ao que parece –, é possível disparar e-mails e/ou tomar iniciativas em grande escala. Com míseros 10 contatos (dependendo da “rede” de cada um), pode-se atingir até 100 mil pessoas. Então um dos efeitos quase imediatos de se aderir ao “orkut” é receber convites quase diários de pessoas pedindo para entrar na sua lista de “contatos”. Conhecidos, quase desconhecidos, desconhecidos completos – todos se afirmando seus “amigos” e querendo que você os aponte como tais. Mas o “orkut” não é só um “address book” mais sofisticado. Há ramificações em outros níveis. Comunidades específicas são criadas (à maneira dos velhos “grupos” de e-mail), e pessoas (internautas) embarcam em discussões intermináveis. Se alguém já sentia antipatia por esse tipo de atividade, melhor nem entrar. O “orkut” parece um “mix” de tudo o que havia antes na internet – tentando diminuir o anonimato e tentando “personalizar” um pouco mais. Se é uma moda passageira ou se é uma tendência que veio para ficar, nem o “Google” têm a resposta.
>>> orkut
 
>>> IMPERADOR DO SAMBA Talvez São Paulo não seja mesmo o túmulo do samba, mas é certo que – hoje – o berço do samba é o Rio de Janeiro. E não apenas por causa do carnaval (que a Bahia também tem, embalado por música baiana). Acontece que, quando surge uma figura como Marcos Sacramento, e um disco como “Memorável Samba” – entendemos que só no Rio essas coisas poderiam fazer sentido. São Paulo (que não entra na comparação, mas que serve de exemplo) introjetou a “metrópole rock”: plúmbea, soturna, agressiva. Outra associação (à Paulicéia) é com o “som” dos “excluídos”: o tal “rap” da periferia (ou “hip hop”, como queiram) – que pode ser ótima sociologia, mas que – me perdoem – não é música. Já o Rio – por mais violenta, desigual e desenganada que esteja a cidade maravilhosa – não perde sua vocação solar, gregária, malemolente. O álbum de Sacramento, além do fato de reinventar sambas clássicos (de Noel Rosa, Herivelto Martins, Wilson Batista e Ataulfo Alves, entre outros), transborda em alegria, luminosidade, sorrisos (a começar pela capa) – que seriam simplesmente impossíveis numa cidade como São Paulo. Infelizmente, os sociólogos de plantão (que contaminaram igualmente os artistas e os jornalistas) não concebem mais uma metrópole que não produza “matadores”, “justiceiros”, “vítimas”. Que mal há em cantar, digamos, o “Mulato Bamba” – que “Já nasceu com sorte/ E desde pirralho/ Vive à custa do baralho/ Nunca viu trabalho”? Ou então em “Deixar Falar!” (“Quando você dizia que trocava/ A gostosa feijoada pelo macarrão/ Desconfiava que você não era/ Brasileiro abençoado deste meu rincão”)? Ou ainda em recapitular “Meu Romance” (“... nosso amor nasceu/ Na tarde daquele memorável samba/ Eu me lembro, tu estavas de sandália/ Com teu vestido de malha/ No meio daqueles bambas”)? Porque poucos acertam o fraseado, como atualmente acerta, Marcos Sacramento. E com uma retaguarda instrumental de fazer inveja aos músicos da Época de Ouro, que ele homenageia. Aliás, se é para – no bom sentido – revirar tumbas, torna-se inevitável falar em João Nogueira – que deve ter ensinado Sacramento a deslizar macio, nítido, enquanto transmitia a boa nova dos velhos mestres.
>>> Memorável Samba - Marcos Sacramento - BF | Somlivre.com
 
>>> LOS POEMAS COTIDIANOS O Brasil é um continente isolado na América Latina. Não apenas geografica mas culturalmente também; desde as origens. Uma das maiores “barreiras” é, obviamente, a língua – embora muito brasileiro se arrisque num “portunhol” lascado quando cruza a fronteira. Os idealizadores da Amauta Editorial enxergaram justamente aí uma oportunidade: – Por que não lançar toda uma gama de autores espanhóis e hispano-americanos no País de Machado de Assis e Guimarães Rosa? Eis que chega, às nossas mãos, o primeiro volume da Amauta: “Crimes Exemplares” (1957), de Max Aub. O título evoca as “Novelas Exemplares” de Cervantes (e até as “Nada Exemplares” de Dalton Trevisan), mas Vicente Ferrer, no prefácio, fala em Goya e no humor negro mexicano. O certo é que Aub, filho de francesa com alemão, nasceu na Espanha mas fixou suas raízes no México, em meados do século XX. Seus “Crimes”, como sugeriu o tradutor Vanderley Mendonça, são pequenos ajustes de contas – literários – com o mundo que o cercava e que lhe causava desgosto. Então ele arremata: “Matei-o porque não pensava como eu”. Ou revela uma frustração íntima: “Matei-a porque não era minha”. Ou ainda: “Matei-a porque ‘era’ minha” (grifo nosso). Emenda jogos de palavras: “Matei-o porque era mais forte do que eu” e “Matei-o porque era mais forte do que ele”. Os “Crimes” são, na verdade, uma coleção de “mortes matadas”. Desde a dona-de-casa que não agüenta a empregada tagalerando (e sufoca-a com uma toalha) até o marido que, depois de um casamento morno de 12 anos, empurra a esposa por uma avenida movimentada. Há mortes que calam fundo e há mortes tão banais quanto o dia-a-dia (do sujeito que dá fim a um vendedor de loteria; e do vendedor de loteria que dá fim a um cliente muito decidido). O livro se completa com epitáfios (do intrometido: “metia-se em tudo; aqui está metido”) e com “crimes gastronômicos” (nádegas, por exemplo, são piores de morder do que de apalpar – segundo o autor). São menos de 100 páginas para uma “sentada” de mortes engenhosas e criativas. O fato consumado é que, graças à Amauta, Max Aub já está entre nós.
>>> Crimes Exemplares - Max Aub - 96 págs. - Amauta Editorial
 

>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO*** RECOMENDA
(CN - Conjunto Nacional; VL - Shopping Villa-Lobos)


>>> Palestras
* Relacionamentos - Gustavo e Magdalena Boog
(3ª f., 6/4, 19hrs., VL)

>>> Noites de Autógrafos
* Um Traço, um Ponto, um Poema, um Conto - Sandra Schamas
(2ª f., 5/4, 18h30, CN)
* Heidegger - Zeljko Loparic
(4ª f., 7/4, 19hrs., CN)
* Ceticismo - Plínio Junqueira Smith
(4ª f., 7/4, 19hrs., CN)

>>> Shows
* Música das Nações - Raïff Dantas Barreto e Maria Teresa Madeira
(2ª f., 5/4, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Maricenne Costa
(Dom., 11/4, 18hrs., VL)

** Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos: Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional: Av. Paulista, nº 2073

*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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