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Quarta-feira, 13/10/2004
Digestivo nº 196

Julio Daio Borges

>>> DESANOITECE E AMANHÃ TUDO MUDOU Marcel Plasse é “low-profile”. Ainda que tenha marcado uma geração nos seus tempos de “Caderno2”, fala de seus feitos com economia e é até difícil arrancar-lhe certas respostas. Sua realização mais recente, para quem acompanha (mesmo que de leve) o mercado de DVD e vídeo, atende pelo nome de “Pipoca Moderna”. Até há pouco, era uma revista simples, de poucas páginas, distribuída gratuitamente em locadoras, livrarias e em alguns pontos estratégicos. Marcel vendia espaço (para anunciantes), escrevia e diagramava cada edição. Quem via de fora, não achava que isso ia durar. Era muito trabalho. “Pipoca Moderna”, no entanto, surpreendeu os incautos. Em vez de sumir, como outras incontáveis publicações, virou “revista de verdade”: com mais de 50 páginas, distribuição (e venda) em banca e até uma pequena redação. Marcel Plasse ainda dirige tudo e seu apartamento, no Morumbi, continua abarrotado de fitas VHS e Digital Versatile Discs. Dividiu os textos com novos colaboradores (muitos da internet), desenvolveu o projeto gráfico (e o site), mas manteve os mesmos patrocinadores. A qualidade é aquela de quem está dando o sangue por uma causa. Ao contrário da postura fria e distante de jornalistas de publicações já consagradas, a turma de “Pipoca Moderna” coloca energia em cada frase e, inclusive, se emociona. Existe um “quê” de autobiografia em escritos sobre a trilogia “Guerra nas Estrelas” (um dos lançamentos mais aguardados), ou então uma apreciação nostálgica do filme “Clube dos Cafajestes”, com o eterno John Belushi. Igualmente na seção “memorabilia”, estão Jonny Quest (o do desenho) e a indefectível (e sempre desejável) Mulher Maravilha (a do seriado). A novidade (além do “upgrade” editorial geral) fica por conta de algumas resenhas de CDs, evocando uma prática antiga (dos anos da “Bizz”), mas em vias de extinção (embora haja tantas tentativas de periódico musical no Brasil...). “Pipoca Moderna”, portanto, é da era em que o jornalismo mandava mais do que a “arte” e do que a área comercial. Quem lê, percebe que há gente lá dentro escrevendo – coisa rara na maioria das vezes.
>>> Pipoca Moderna
 
>>> SÓ SEI QUE O MUNDO VAI DE LÁ PRA CÁ Que conclusão tirar sobre o surgimento de novos talentos na música brasileira? Embora o negócio da música esteja comprometido, ou ao menos mudando radicalmente, estamos lançando gente nova – ou estagnamos como a venda de CDs (cujo marco zero, da queda, é o final da década de 90)? Digamos que a IBM não esperou por essas respostas. Chamou Zuza “A Era dos Festivais” Homem de Mello e montou o e-Festival. Em sua 4ª edição, o evento adotou a abordagem acústica e apresentou ao público, em setembro, já o 3º colocado: a canção “Emaranhado”, de Leandro Dias, Edna Maria Pereira e Felipe Cordeiro, em interpretação de Karina Ninni. Direto de Belém, o grupo mostrou que existem compositores amadurecidos de um Brasil que o Brasil não conhece, e que existem também intérpretes dando um “show”, numa revolução não televisionada. Basta dizer que não ficaram nada a dever (ainda que seu “set” fosse só de três músicas) à quase já veterana Vanessa da Mata (pelo menos em termos de consagração nacional). A mais nova diva desfilou, num vestido branco, o repertório de canções de seu primeiro disco – pois encerrava a turnê naquela noite (e, paralelamente, se preparava para a divulgação do segundo – o que, atualmente, acontece). Mesmo que fuja das comparações como o diabo da cruz, foi inevitável não ver, no palco, um pouco do timbre e dos trejeitos de Marisa Monte; um pouco da presença cênica e do figurino de Maria Bethânia; e um pouco da estridência e da exuberância capilar de Gal Costa. Vanessa da Matta – embora feche os olhos e faça um esforço mental, para recordar sua escalada rumo ao sucesso, de alguns poucos anos pra cá (desde “A força que nunca seca”) – não tem todo o apuro e todo o domínio que se esperava dela. Está muito bem no CD, mas está também crescendo no sentido técnico. É um potencial, mas não uma cantora, como muitos pensam. Felizmente esse é só um lado do e-Festival IBM Acústico: o lado dos convidados. O lado que pode abrilhantar, que pode ofuscar, mas que pode igualmente oferecer interessantes comparações.
>>> e-Festival
 
>>> INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL “Terminal” parece encomendado pelo Tio Sam. E deve ter sido mesmo. Mas, apesar disso (ou por causa disso), Steven Spielberg não agüentou e trocou a paranóia persecutória, num cenário de aeroporto, pela fantasia infantil (sua especialidade desde sempre). Não há praticamente razão para irmos ao cinema atrás dele – mas continuamos indo, por quê? Talvez por acertos eventuais, como em “Prenda-me se for capaz” (2002; “quadradinho” como todo Spielberg deve ser, mas, ao mesmo tempo, inteligente). E talvez por alguma fagulha, ou rastro, de Kubrick, como em “A.I.” (2001) e “Minority Report” (2002). E pela crença – um pouco fora de moda, é verdade – na figura do diretor. Estamos sempre sedentos por alguém com um mínimo de estilo. Por isso, o alívio anual (ou bienal) de Woody Allens, Cohens, Almodóvars e, mais recentemente, Tarantinos. Algo no entanto nos diz que o cinemão caminha para a esterilidade total – e que a última salvação vão ser os ciclos, as mostras e os festivais. O centro continua irradiando sua influência de forma bombástica, mas é na periferia que hoje respiramos e acreditamos na criatividade humana. “Terminal”, nesse ponto, é cruelmente divertido ou divertidamente cruel (você escolhe). A interpretação tanto pode ser: “a América (os EUA) se considera o topo do mundo, mas reconhece seus excessos e faz até pilhéria deles”; quanto pode ser: “nós, as nações de terceiro e quarto mundos, nunca vamos superar a imagem do espírito de porco [Tom Hanks], sob as ordens de um ‘ente’ superior, perdido(s) entre a saída do labirinto e alguns prêmios de consolação (e pensar que nós ainda compramos ingresso para nos ver refletidos em película...)”. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Spielberg não seria tão ingênuo (ainda que seja um pouco) a ponto de lançar uma bala e não prever o tiro ricocheteando. Tampouco é assim tão brilhante para transmitir complexas mensagens dentro de uma fábula rasa e mixuruca. Talvez seja, mais uma vez, o nosso desejo intenso de que as coisas fossem mais elaboradas, e de que tivessem maior profundidade. Nos intervalos entre os grandes mestres (os grandes mesmo), vamos construindo teorias e querendo acreditar que a sétima arte é “melhor” do que é na verdade.
>>> Terminal
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Cafés Filosóficos
* O ócio criador: lições da Antiguidade para uma vida mais plena - Viktor D. Salis (Qua., 13/10, 19h30, CN)

>>> Palestras
* Angus: O Guerreiro de Deus - Orlando Paes Filho
(Qui., 14/10, 19h30, VL)

>>> Noites de Autógrafos
* Paulo Francis: Brasil na Cabeça - Daniel Piza
(Qui., 14/10, 18h30, CN)

>>> Shows
* Musica das Nações - Paulo Gori (pianista)
(Seg., 11/10, 20hrs., VL)
* Hot Chocolates - Traditional Jazz Band
(Sex., 15/10, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Alexandre Leão (violonista)
(Dom., 17/10, 18hrs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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