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Sexta-feira, 13/5/2005
Digestivo nº 226

Julio Daio Borges

>>> O RIGOR DO EXPERIMENTALISMO A maior incógnita sobre o futuro da Bravo!, em mais de 6 anos de publicação, surgiu quando a revista migrou da editora D’Ávila para a Abril. A garantia era de que, além da arvorezinha-símbolo na capa, nada seria alterado. Para a maioria dos leitores da revista, a aparência, efetivamente, não mudou, embora o meio jornalístico assistisse a algumas trocas de comando em pouco tempo, que preocupavam, além de admiradores do veículo, colaboradores veteranos. Depois de certa tempestade, a bonança chegou por meio de Luiz Felipe D’Ávila, que, além de óbvio fundador da revista, assumiu a diretoria Jovem&Cultura da Abril e abrigou a Bravo! sob seu guarda-chuva. Ao que parece, a idéia é voltar ao princípio fundador da publicação e um dos sinais mais evidentes, e sensatos, foi fazer, já há alguns meses, de Michel Laub, ex-editor-sênior, diretor de redação. Afinal, todo mundo sabe dos anos de dedicação de Michel ao veículo e do seu incondicional envolvimento desde os primórdios, quando recebeu a indicação de Wagner Carelli por suas colaborações em Carta Capital. Pois, mais do que os 7 anos que se aproximam, a Bravo! recentemente comemora o lançamento de um suplemento, em papel jornal, só sobre livros. É, como não poderia deixar de ser, o Bravo!Livros, que teve sua “noite de autógrafos” em abril, na Casa do Saber. Além dos nomes conhecidos da revista, o suplemento de iniciais 16 páginas apresenta matérias traduzidas de outras publicações, como o The Guardian, e também de escritores como Salman Rushdie (uma das atrações confirmadas na Flip 2005). A inspiração é, naturalmente, o The New York Review of Books, pela apresentação e pelo formato tablóide, e a ambição é vender o Bravo!Livros separadamente em banca, nos próximos meses, a um preço quase popular. A intenção é, claro, louvável, e um contraponto à tão elaborada (plasticamente) Bravo! não poderia ser melhor. Sente-se, apenas, falta do contato com as novas gerações – até em matéria de colaboradores – mas, imagina-se, ser esse um fato plenamente contornável. Longa e próspera existência, então, ao suplemento literário da Bravo!, da Abril, de Luiz Felipe D’Ávila e de Michel Laub.
>>> Bravo!Livros
 
>>> WE THE MEDIA O Olodum tá rico, o Olodum tá pobre (...) – o Olodum pirou de veeez. Bastaria substituir o “Olodum” pela “internet” no trecho acima e isso resumiria as conclusões do relatório “The State of the News Media”, elaborado pelo Project for Excellence in Journalism, da universidade de Columbia. A cada ano se espera que as avaliações e os prognósticos para a internet sejam favoráveis ou – ao menos – sólidos. Que nada! Continuam as dúvidas de antes. A internet é fonte de informação confiável? Para 50% das pessoas. Mas, de 2000 pra cá, a tendência está diminuindo e, não, aumentando. Para a internet, existe, finalmente, um modelo de negócio? Não, claro que não! O que é melhor, para os sites de notícia, abrir conteúdo ou fechar para assinantes? O Wall Street Journal diz que é fechar; e o Craigslist, site de classificados grátis que está roubando a função dos grandes jornais, diz que é melhor atingir mais pessoas, e viver de anúncios. Quem tem razão: quem mantém as redações on-line (embora elas sigam se desintegrando) ou quem substitui tudo por robôs? As pesquisas mostram que a audiência não percebe a diferença, e que os acessos ao Google News, onde nenhum ser humano faz a separação entre o trigo e o joio, estão disparando. As agências de notícias vão dominar o mercado ou as reportagens locais vão oferecer um contra-ataque? Sim e não (ou: nenhuma das anteriores). As agências crescem e os portais só fazem reproduzir seu material; do mesmo modo, destacam-se as iniciativas de se falar para uma pequena comunidade geográfica – e, obviamente, os blogs. Apesar da venda da Slate e da aparente concentração cada vez mais forte, no universo on-line, os weblogs foram a grande esperança, nas eleições americanas de 2004, para quem lamentava que fosse tudo acabar em Murdoch. O relatório, enfim, não está certo de nada – o que não é um alento; mas não é, tampouco (e felizmente), um decreto de que a internet será uma outra mídia e nada mais.
>>> The State of the News Media
 
>>> HELLBOX John O'Hara é um importante escritor americano, do princípio do século XX, quase inédito no Brasil. Essa informação, bastante comum na imprensa especializada, que divulgou BUtterfield 8, seu romance, pode gerar noções erradas em potenciais leitores. Ainda mais porque a protagonista de seu livro é Gloria Wandrous, uma moça norte-americana, amadurecendo entre a Lei Seca e a Depressão. O começo do século passado nos parece tão distante que a nossa tendência seria pensar nas personagens dos romances de Jane Austen, a grande escritora inglesa do século XIX. Acontece que Glória é extremamente atual. Troque as épocas, troque o cenário e ela poderia ter saído de uma rave ou de uma sessão de sexo grupal, descrita num conto da jovem autora Cecília Giannetti. Para nós, que estamos casando em média com 30 anos, Glória parece extremamente precoce: dormiu com praticamente toda a faculdade de Yale, teve posteriormente romances e aventuras variadas em Nova York e, finalmente, morreu acidentalmente aos 18, depois de alimentar um caso com um homem casado, com mais que o dobro da sua idade (ou, mais convencionalmente, com idade para ser seu pai). Liggett, Wenston Liggett. Ele também está, obviamente, localizado em algum lugar entre os anos 20 e os 30. Tem duas filhas, é um conquistador inveterado e, apaixonado, decide-se casar com Glória. Ao contrário, também, do que poderíamos pensar, o romance não é linear, o que o faz, mais uma vez, contemporâneo nosso. O elogio de Hemingway na capa da edição brasileira, pela José Olympio, não é à toa. John O'Hara é realmente grande e, como jornalista que foi, ou tentou ser, poderia servir de exemplo para os jornalistas-escritores de hoje. O contista mais longevo da New Yorker ainda tem muito que ensinar e a nossa esperança, agora, é que a editora despeje mais e mais O'Hara no mercado.
>>> BUtterfield 8 - John O'Hara - 304 págs. - José Olympio | Mais e melhores posts
 
>>> MAIS QUE PALAVRAS Secretário do livro e da loucura (como amigos, fraternalmente, o chamavam), morreu Waly Salomão. E a nação tratou de esquecê-lo a.s.a.p. (as soon as possible). (Ou foi impressão?) Não Juarez Maciel, que vinha gestando, com Salomão, composições que só agora vêm à luz. No CD Nove Cores, o primeiro não instrumental de sua carreira de músico. Foi Leandro Carvalho, o genial violonista, que uma vez confessou seu pendor – talvez inevitável – para a canção. É quase sina de quem compõe temas sem letra no Brasil. Mais dia menos dia, vai ter de enfrentar a tradição verbal do cancioneiro brasílico. E Juarez Maciel o fez muito bem. Pegando mestres da letra, como Waly, pegando seu irmão, Pedro, poeta, pegando outros craques como Guilherme Mansur. Além da tradição das bem-feitas capas de Guto Lacaz, que nortearam seus precedentes álbuns, Juarez manteve a cama tão agradável, eximiamente arranjada e despretensiosa de suas experiências solo e com o Grupo Muda. Só por isso, o CD já valeria a pena. Mas ele também canta. Sobressai-se com desenvoltura de delicadas armadilhas que seus parceiros preparam: “Pirâmides do Egito/ Quinta Avenida/ Machu Picchu/ Trafalgar/ Cataratas/ Manhattan” (com Waly Salomão); “Cédulas de zero cruzeiro, cordões,/ Anéis de ouro e areia, rodos,/ Malhas da liberdade, porta-bandeira/ Estojo de geometria, obscura luz, e ainda:/ Loucura razão, dados, ku kka ka kaka.../ Ô, vais querer um sermão da montanha?” (com Guilherme Mansur). São bem-humorados quebra-cabeças que, a princípio, assustam. Mas, na segunda ou terceira audição, vão caindo na cadência sóbria e constante de Juarez Maciel. E, à maneira de instrumentistas que palpitavam na porção palavra da composição, deve haver seu dedo biográfico em, por exemplo, “Máquina zero”, narrando passos nostálgicos pelas strasse de Berlim – onde morou muitos anos. Há alguns poucos, aliás, trocou impressões, no idioma de Goethe, com Luís Antônio Giron (este queixando-se de não ter com quem praticar...). Brincadeiras à parte, Juarez encara com a mesma fleuma e com o mesmo entusiasmo os altos e baixos da indústria fonográfica nacional. Ele se move na mesma inspiração daqueles cujas obras o público, pouco amadurecido (ainda infantilizado), não aprecia direito mas que, como semente, vingam e frutificam. Pois “cedo madruga/ pra acordar presente”.
>>> Juarez Maciel
 
>>> E O CONSELHEIRO TAMBÉM POLEMIZA NO WEBINSIDER

Em resposta ao artigo "Jornalista virou commodity. Aceite e aja.", de Julio Daio Borges, a estudante de jornalismo Viviane Barbosa assina "Ano que vem serei jornalista. Cheguei tarde?", no Webinsider.

>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Cafés Filosóficos
* O lado escuro do universo: Matéria escura e energia escura
Rogério Rosenfeld
(Ter., 10/5, 19hs., CN)
* Mitos, um saber infindável
Rachel Gazolla, Carmen Junqueira e Marcelo Perine
(Qua., 11/5, 19h30, CN)
* O que é ser um jovem escritor contemporâneo
Martin Page
(Ter., 17/5, 19h30, CN)

>>> Palestras
* De funcionário para revolucionário
Ricardo Jordão Magalhães
(Ter., 10/5, 19h30, VL)
* Pedagogia da Diversidade
Maria Sirley dos Santos
(Ter., 17/5, 19h30, VL)
* Auto-estimulação e adolescentes
Henrique Klajner
(Qua., 19/5, 19h30, VL)

>>> Noites de Autógrafos
* Drogas: Aspectos Penais e Criminais - Miguel Reale Jr.
(Seg., 9/5, 18h30., CN)
* Memória - Ana Maria Maaz Acosta Alvarez, Anita Taub, Isabel Albuquerque Maranhão de Carvalho e Mônica Sanches Yassuda
(Qua., 11/5, 18h30, VL)
* Elas, as pioneiras do Brasil
Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa
(Qua., 11/5, 18h30, CN)
* Identidade e alteridade em Clarice Lispector
Daniela Mercedes Khan
(Seg., 16/5, 18h30, VL)
* Jerusalém & São Paulo
Marta Francisca Topel
(Qua., 18/5, 18h30, CN)

>>> Shows
* Todos os Sentidos - Adriana Godoy
(Sáb., 14/5, 19hs., VL)
* Espaço Aberto - Nicole Borger
(Dom., 15/5, 18hs., VL)
* Jelly Roll Morton - Traditional Jazz Band
(Sex., 22/5, 20hs., VL)
* A Palhaçada do Século - Mamma Monstro
(Dom., 22/5, 18hs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural


>>> DIGESTIVO 5 ANOS

Como uma das resoluções do "Digestivo 5 anos", a partir deste Digestivo de nº 226, as Newsletters, com Notas semanais de Julio Daio Borges, passam a ser fechadas e a circular nas sextas-feiras (antes eram fechadas com data de quarta-feira da semana posterior). Assim, evitam-se novas confusões com o calendário e também com os Comentários sobre Notas ainda não publicadas. As Notas dos Digestivos, portanto, seguirão só depois de terem ido ao ar, ao longo da semana, no site. Logo, este Digestivo específico antecipa, pela última vez, as Notas da semana que vem. Ao mesmo tempo, não circula na próxima semana (que fica sem Newsletter, como não acontecia há anos...) e congrega os eventos, da Livraria Cultura, de quinze dias.
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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