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Sexta-feira, 22/9/2006
Digestivo nº 297

Julio Daio Borges

>>> ECOS FALSOS Enganou-se quem achou que, no Brasil, não havia podcast sobre música independente. Há; e mais de um. Fora o Trama Virtual, cujo podcast é recente, e seria uma aposta inclusive óbvia (além da televisão), o Estação Independente, do Rio, vem peneirando novas bandas há uns tantos programas. Como o próprio pessoal do Djangos, uma das últimas atrações, observou: sem comunicação, uma cena não acontece; e se os fanzines acabaram (a Mosh “renasce” agora), os podcasts de música podem vir a ter um papel central. Em formato parecido com o do Morning Becomes Eclectic, a dupla de apresentadores cariocas alterna conversas descontraídas com performances ao vivo e em estúdio. Ainda que haja muito barulho nas emissões – pois barulhento é o rock em estado bruto –, pode-se concluir que não só de Los Hermanos a cena se alimenta hoje. A comparação, descontando essa, é com aquele momento, nos anos 90, em que desabrocharam selos como o Banguela e em que emergiram produtores como Carlos Eduardo Miranda. E a nostalgia, como era de se esperar, ainda remonta a Chico Science e a Tom Capone. Os anos 80 não são mais “a” referência (uma vez que os Titãs perderam a identidade; o Barão insiste em sobreviver apenas comercialmente; e os Paralamas se reduzem a... João Barone?). Os convidados do Estação Independente produzem freneticamente, mas não têm, igualmente, resposta para o processo de desmontagem das gravadoras. Para o fim do esquema de divulgação nas FMs; para o clipe que, numa MTV quase 100% comportamental, perdeu sua função. O próprio CD circula silenciosamente, nas conversas, como uma alma penada – ainda que os próprios músicos se sintam constrangidos em, declaradamente, apelar para a “pirataria” (leia-se: para o download de música). Nesse contexto, é louvável o trabalho do Estação Independente. Afinal de contas, por mais que o iTunes seja a luz no fim do túnel, a indústria fonográfica, como um buraco negro, pode continuar sugando tudo. Inclusive a música.
>>> Estação Independente
 
>>> USANDO FRASES COM EU No dia-a-dia, o exercício de engolir sapos (não, necessariamente, sapos barbudos), além de requerer algum esforço extra, pode se revelar um “tiro que (futuramente) sai pela culatra”. Engolir sapos, por defesa ou por hábito, não resolve o problema na raiz, geralmente o posterga. É o que afirmam Lisa Frankfort e Patrick Fanning no livrinho Pare de Concordar e Comece a Responder, pela editora Landscape. Seja no trabalho, seja na família ou na vida social, o volume é um manual bem-humorado para situações de conflito aparentemente sem saída, mas que podem ser contornadas (nem sempre, claro, resolvidas) de melhor forma. O típico engolidor de sapos prefere evitar o embate, normalmente achando que dizer “sim” pode sair mais barato do que dizer “não”. Frankfort e Fanning tentam mostrar que, a longo prazo, além de sair mais caro, existem outras maneiras de aprimorar a comunicação (entre o “sim” e o “não”) em benefício próprio. Sendo assertivo. É o grande conselho de Pare de Concordar e Comece a Responder. Assertividade, os autores afirmam, não é passividade mas também não é agressão. É expressão. Até porque, na maioria dos casos, os sapos continuam aparecendo (para serem engolidos) já que o “engolidor” não demonstrou sua discordância em nenhum momento anterior. Os capítulos estão agrupados em seqüência conforme o nível de “dificuldade”. Das definições básicas (você sabia, engolidor de sapos, que tem “direitos pessoais” e inalienáveis?) até a “resposta a críticos”, o trato com “pessoas difíceis”, terminando com “estratégias especiais” e “situações especiais”. Pare de Concordar e Comece a Responder não é nenhum tratado em matéria de psicologia; não é nenhuma obra de Freud. Contudo, pode ser útil, por ser bastante prático, e pode ser divertido, num tempo em que as relações interpessoais são, sempre em algum âmbito, ásperas. Como Manuel Bandeira fez (poeticamente), vamos todos limar o cacto.
>>> Pare de Concordar e Comece a Responder
 
>>> MILAGRES NÃO EXISTEM Logicamente, quando se pensa em “autores novos”, a tendência é evocar uma geração surgida junto com a internet e, hoje, com idade em torno de 30 anos. Jeanette Rozsas é uma autora nova que está aí para desfazer esse e outros mal-entendidos. Jeanette tem uma trajetória que, além de diferente das atuais receitas de bolo, é interessante. Embora conviva fraternalmente com autores novos da Geração 00, Jeanette Rozsas começou a escrever só depois dos 50 anos. Tudo bem, era advogada e escreveu, desde muito antes, até por obrigação de ofício. Mas a literatura de Jeanette Rozsas nasceu fora dos escritórios, fóruns e “peças” em geral: floresceu em oficinas literárias. Na aurora da World Wide Web, enquanto seus colegas de literatura brasileira contemporânea lidavam com o HTML e seus mistérios, Jeanette estabelecia o grupo Contares, junto a amigas afeiçoadas, como ela, à palavra escrita. Reunindo-se sempre, a turma do Contares adquiriu o hábito saudável de convocar, em ocasiões especiais, jornalistas, críticos e escritores – extraindo ao máximo ensinamentos de profissionais tarimbados, ou do mercado, ou apenas mais habituados ao desafio do papel em branco. Pois o Contares frutificou: rendeu um primeiro livro de mesmo nome; um segundo (Outros Contares); e até uma edição temática (Contares conta o Natal). Jeanette, com a experiência entre capas, foi abrindo asas e encarando vôos solo: montou um currículo só com premiações em concursos literários do Brasil e do exterior, para, paralelamente, publicar seu primeiro livro de contos, Feito em silêncio (Vertente, 1996). Ainda ligada à carreira de advogada, venceu o concurso da Associação de Magistrados Brasileiros (em 1998), no Rio, e transformou o texto premiado no pocket Autobiografia de um Crápula (2003). No ano passado, trouxe à luz Qual é mesmo o caminho de Swann? (7Letras), uma coleção de contos novos elogiados até por Luiz Ruffato (um dos descobridores da Geração 90); e, neste ano, desbravando o universo dos livros em áudio, viu dramatizado seu policial As Sete Sombras do Gato (Audiolivro). Jeanette Rozsas, apesar de ter rodado o mundo (literário e o outro), com seus escritos debaixo do braço, é modesta e estaria felicíssima em ser apenas indicada para o último Jabuti. Será que precisa? Jeanette Rozsas conseguiu sozinha o que a maioria, reclamando em conjunto, não conseguiu ainda.
>>> As Sete Sombras do Gato | Qual é mesmo o caminho de Swann? | Autobiografia de um Crápula
 
>>> A PROVA DOS NOVE DESSA INEQUAÇÃO No meio da montanha de CDs que chegam e que soam, aparentemente, “igual”, ninguém pode reclamar que Kléber Albuquerque não tenha personalidade. Abrindo seu Desvio numa evocação nordestina de Alceu Valença, tasca logo uma guitarra distorcida e lembra, ainda, Zeca Baleiro em “Heavy Metal do Senhor”. “Brasa” não passa despercebida de todo. Se sobreviver ao manifesto roqueiro, o ouvinte será brindado com um reggae, “Maluca”. Então presta, pela primeira vez, atenção à “poética” de Albuquerque. Não leva, sugestivamente, o primeiro prêmio em matéria de originalidade – “procurando pedra pra tropeçar” e “ensinando Shiva a dançar” – mas, do mesmo jeito que usa bem os ritmos, Kléber usa bem as palavras (mesmo que as frases feitas). Simpático, passa no teste da segunda faixa (acreditem: pouca gente passa...). A terceira justifica que o resenhista deveria, mesmo, ter insistindo. Pela flauta e pelo flautim. A quarta, “Inquietação”, emenda verborragia mas embala num choro agradável. A quinta mistura “moda de viola” com objetos voadores não-identificados. A sexta, “Estrada”, num clima infantil e circense, aposta em minimalismo e... semiótica? “Desvio”, a própria, tem até bandolim. “A Liberdade!” volta para os riffs da primeira faixa, conversa com Caetano Veloso e... Paulo Miklos! “Copacabana” (Caymmi?), “Só mais um blues”, “Essa mulher” (Elis?), “A melhor parte” e “A canção do cãozinho Esaú” encerram o volume. Kléber Albuquerque, concluindo, não vem para dar continuidade à tal “linha evolutiva da música popular brasileira”. Contudo, Desvio não merece ser descartado. Kléber tem repertório; Kléber tem formação – e a verve está lá... O que falta? Um produtor; uma produção? Analisado com microscópio, o disco não sobrevive bem ao teste do tempo, porém ouvi-lo não é um sacrifício – e terminamos, de algum modo, torcendo por ele. Desvio, de Kléber Albuquerque, é um mistério sem solução. Talvez a prova de fogo seja, coincidentemente, sua turnê agora no Crowne Plaza. Desvio de trajetória ou pouso no lugar-comum?
>>> Desvio
 
>>> A PEÇA QUE FALTAVA NO SEU PROJETO Se a internet brasileira está meio parada sob muitos aspectos (em comparação com a Web 2.0 de fora), os freelancers não podem reclamar da atenção que vêm recebendo ultimamente. Numa economia que definitivamente não é a de pleno emprego, inclusive para profissionais de comunicação (principalmente os que não apóiam o governo), a tendência é que o mercado de trabalho encolha e que grande parcela da população economicamente ativa seja empurrada para a informalidade e para a atuação como “frila”. Pensando exatamente nessas pessoas, que estão sempre juntando uma porção de “jobs” para – em matéria de remuneração – chegar a um salário, Mauro Amaral fundou, e viu crescer, o Carreira Solo. Também Ceila Santos recebeu bastante feedback em seu blog Freelancer: o profissional que rala – onde narra, justamente, seu dia-a-dia... entre “frilas”! Como se não bastasse a discussão de idéias do último e os depoimentos do primeiro, esse universo ganhou agora mais um endereço: Freela.com.br, de Gustavo Carneiro e Gabriel Pereira, recheado de currículos e portfolios de profissionais freelancers. Muito bem organizado, além de abrigar entrevistas e até trabalhos de frilas, o site quer ser um grande banco de dados – tanto para quem procura um profissional freelancer quanto para quem procura um job. Mauro Amaral e o Carreira Solo já reagiram com uma resposta à altura: vagas.carreirasolo.org. As empresas de RH, mormente as de recolocação profissional, haviam percebido, há muito, que quem está sem emprego, naturalmente, passa muitas horas na internet. E montaram sites inteiros em que os desempregados se perdem em páginas e mais páginas de conselhos e, às vezes, até de ofertas interessantes. Chegou, portanto, o momento das publicações sobre o assunto chacoalharem um pouco a paisagem. Que Mauro Amaral continue com suas entrevistas antológicas; que Ceila Santos continue com seus desabafos bastante humanos; e que Gustavo Carneiro e Gabriel Pereira inspirem outras categorias a, igualmente, se organizar...
>>> Freela.com.br
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Palestras
* Encontro dos velejadores da regata de volta ao mundo
Murilo Novaes e Hector Etchesbaster
(Qua., 27/09, 19h00, MP)

>>> Autógrafos
* Políticos do Brasil - Fernando Rodrigues
(Seg., 25/09, 19h30, CN)
* Universo da Depressão - Elisabeth Sene-Costa
(Qua., 27/09, 18h30, CN)
* O Operador - Lucas Figueiredo
(Qui., 28/09, 18h30, CN)
* Deus na Aldeia - Paula Montero
(Qui., 28/09, 19h00, CN)
* A Pedagogia Waldorf: 50 anos no Brasil
Elvira Nadai e Lúcia Tulchinski
(Qui., 28/09, 19h00, MP)
* Infotenimento - Fábia Angélica Dejavite
(Sáb., 30/09, 11h00, CN)

>>> Shows
* Maracatu, partido-alto, frevo e afoxé - Nenê trio
(Qui., 28/09, 19h30, MP)
* Show para a capital paulista - Sandra Melo
(Sáb., 30/09, 17h00, MP)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
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>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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