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Sexta-feira, 6/2/2009
Digestivo nº 401

Julio Daio Borges

>>> LITTLE JOY, AO VIVO, EM SÃO PAULO Depois do batido terrorismo dos "ingressos esgotados" — que infelizmente virou norma nos eventos musicais em São Paulo —, o Little Joy se apresentou corretamente na Clash Club com lotação pra lá de suportável. Antes o início do show, era possível cruzar com lendas da cena musical das últimas décadas, como Fabio Massari, que vinha "observar o fenômeno", e Arnaldo Antunes, que dançava na pista e depois adentrava no camarim, para desejar boa sorte. Rodrigo Amarante estava visivelmente mais alegre, por retornar aos palcos brasileiros. E a platéia retribuía, cobrando, previsivelmente, números solo do Los Hermanosa exemplo do que fez Camelo, em sua apresentação paulistana —, mas Amarante preferiu se restringir ao repertório da "banda nova" (o qual praticamente desculpou por ser curto, num set de aproximadamente uma hora, incluindo o bis). Fabrizio Moretti estava, igualmente, mais solto — até porque quase ninguém se lembrou da sua vinda como baterista dos Strokes — e até cantou, cheio de vergonha, uma cover do The Kinks. Binki Shapiro era a mais compenetrada do trio, afinal não entendia a língua (nem as piadas entre a platéia e os outros dois integrantes). Cantou impecavelmente seus números e foi aceita, inclusive, pelas mulheres da audiência, que a qualificaram como "fofa". Além desse clima de fraternidade contagiante, o Little Joy se mostrou bem ensaiado com seus músicos de apoio, e foi uma pena que não tivesse mais nada para tocar (fora outro cover, também alegre, e uma nova composição que levantou, novamente, o povo). Se Amarante procurava a felicidade — depois de um casamento de dez anos com o Los Hermanos — parece que encontrou. Que o Little Joy siga emanando suas boas vibrações.
>>> Little Joy ao vivo no Morning Becomes Eclectic
 
>>> ANDAIME, DE SÉRGIO ROVERI Depois de uma temporada de elogios — que teve o seu "start" num sim de Claudio Fontana, a Sérgio Roveri, numa manhã de Natal de 2005 — Andaime retornou ao teatro João Caetano, no aniversário de 455 anos de São Paulo. Estruturada sobre a bem-sucedida idéia de colocar os personagens de Fontana e Elias Andreato (que igualmente dirige) num andaime, a peça dá voz a dois limpadores de vidros, no alto dos grandes edifícios, enquanto a vida acontece lá embaixo ou, ao seu lado, nos escritórios. O argumento insiste na "invisibilidade" desses e de outros trabalhadores das grandes metrópoles — mas profissionalmente falando, e sempre em algum nível, quase todo mundo é "invisível" como pessoa. Embora exista uma ambição até filosófica por trás do texto (de revelar, por exemplo, a "visão de mundo" dos andaimistas), o que fica mesmo é o humor da dupla, numa compreensão simplificada da realidade em volta, nas limitações que às vezes irritam e na aceitação resignada da existência. A platéia, como de costume, ri dos palavrões e das palhaçadas mais infantis, mas o grande momento, e a grande sacada, é a aula de ginástica, de que Mário e Claudionor "participam", ainda dentro do andaime, acompanhando a professora e os alunos da academia, com vista panorâmica. Naquela linha mais leve, que busca, ainda assim, infundir alguma conscientização, Andaime cumpre o que promete e se revela um programa despretensioso para o fim de semana. Claudio Fontana se afirmou como uma boa escolha de Roveri, rendendo bem mais que na televisão.
>>> Andaime
 
>>> ESTÔMAGO, COM JOÃO MIGUEL João Miguel fez aquele personagem simpático, contraponto destrambelhado ao protagonista ariano, em Cinema, Aspirinas e Urubus. E João Miguel fez o amor de Hermila Guedes, em O Céu de Sueli — praticamente entrando mudo e saindo calado, mas, ainda assim, ganhando o público. Portanto, um filme tendo João Miguel como protagonista era aguardadíssimo, mas, infelizmente, desapontou do começo ao fim. Estamos falando de Estômago, que — depois de outra espera — finalmente chegou em DVD. O longa de Marcos Jorge já principia mal com a repetida tragédia do nortista que vem trabalhar no sudeste do Brasil (pouco original desde O Pagador de Promessas) e é "explorado" até a última gota. O dono do bar, em que termina por viver e trabalhar (em regime de semiescravidão), é tão exagerado, nos trejeitos, que o ator Zeca Cenovicz passa por canastrão (mesmo se não for). É nesse primeiro "emprego" que o protagonista conhece Iria, o amor e a tragédia de sua vida. A inocência do personagem de João Miguel, nesse ponto, já não é mais engraçada, é inverossímil, porque resolve se casar com ela, mesmo sabendo que Iria vive da mais antiga das profissões. Nesse meio tempo, Raimundo Nonato (até o nome do anti-herói é clichê no filme) é descoberto, por seus dotes culinários, e vai trabalhar dignamente com "Seo Giovanni" (Carlo Briani, o menos caricato de todo o longa). Uma traição inesperada põe Nonato no xadrez, e o personagem de João Miguel vai ascender, dentro do presídio, por conta da mesmíssima habilidade ao fogão. Os bandidos que não convencem ninguém são outro defeito notável de Estômago, mas, em vez de explorá-lo, basta concluir que a produção, lamentavelmente, não merece o nosso tempo precioso.
>>> Estômago
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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