O homem visto do alto | Guilherme Conte | Digestivo Cultural

busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Lourival, Dorival, assim como você e eu
>>> Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum
>>> Festival do Rio 2005 (II)
>>> Meus melhores filmes de 2008
>>> Festa da Cerejeira
>>> Santo Antonio de Lisboa
>>> Dar títulos aos textos, dar nome aos bois
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 2
>>> Manoel de Barros: poesia para reciclar
Mais Recentes
>>> Livro The Heineken Story de Barbara Smit pela Profile Books (2025)
>>> Livro Voz Partitura da Ação de Lucia Helena Gayotto pela Plexus (2002)
>>> Guia De Medicina Homeopática de Nilo Cairo pela Livraria Teixeira (1988)
>>> Escritos Paulinos E Cartas Católicas de Moacir Casagrande pela Intersaberes (2019)
>>> Livro Chico Bento Moço Chico e o Lobisomem Volume 36 de Mauricio De Sousa pela Panini Comics Panini Manga (2016)
>>> Linguagem, realidade e significado de Thomas Moro Simpson pela Universidade de São Paulo (1976)
>>> Disciplina E Convivência Na Instituição Escolar 4 de Serafin Antunes E Outros pela Artmed (2004)
>>> Eclesiologia Igreja E Perspectivas Pastorais de Cícero Manoel Bezerra pela Intersaberes (2017)
>>> Livro A Odisseia Coleção Clássicos Para O Jovem Leitor de Marques Rebelo; Homero pela Ediouro (1995)
>>> Livro Dal Sinai Alla Rivoluzione Cibernetica de Mauro Maldonato pela Alfredo Guida (2002)
>>> Missão Integral Da Igreja de Cicero Bezerra pela Intersaberes (2017)
>>> Tao - Sua História e Seus Ensinamentos de Osho pela Cultrix - Pensamento (2005)
>>> Livro Chico Bento Moço o Ataque das Plantas Mutantes Volume 37 de Mauricio De Sousa pela Panini Comics Panini Manga (2016)
>>> O segredo dos Cristais - Um gruia prático de Brett Bravo pela Pensameto (1998)
>>> Antônio Sales E Sua Época de Wilson Bóia pela Bnb (1984)
>>> História Da Educação de Maria Lúcia Arruda Aranha pela Moderna (2002)
>>> Livro Guia Visual Folha De São Paulo Chicago de Vários Autores pela Folha de S. Paulo (2002)
>>> Livro História Do Movimento Psicanalítico de Jacqy Chemouni, Tradução Clóvis Marques pela Jorge Zahar (1991)
>>> Livro Cadernos (1937-39) A Desmedida na Medida de Albert Camus pela Hedra (2014)
>>> Livro Chico Bento Moço o Ninho da Víbora Volume 38 de Mauricio De Sousa pela Panini Comics Panini Manga (2016)
>>> Práticas Pastorais de Editora Intersaberes pela Intersaberes (2015)
>>> Livro Guia Visual Folha de S. Paulo Walt Disney World Resort de Folha de São Paulo pela Folha de São Paulo (2010)
>>> Terapia da palavra - Porque escrever é dialogar com nossa própria mente de André Lippmann e Maria R. O. Torrado pela Armazem digital (2005)
>>> Gramática Secundária E Gramática Histórica Da Língua Portuguesa (Biblioteca Básica Brasileira - Vol 1) de M. Said Ali pela Editora Universidade De Brasília (1964)
>>> Oficina de Leitura: Teoria e Prática de Angela Kleiman pela Pontes (2016)
COLUNAS

Sexta-feira, 23/3/2007
O homem visto do alto
Guilherme Conte
+ de 8700 Acessos

Cássio Scapin e Claudio Fontana (Foto: João Caldas / Divulgação)

Sergio Roveri é um daqueles artistas que consegue deter-se com atenção aos mínimos detalhes e enxergar ali poesia e sentido. Sua sensibilidade encontra guarida em diálogos muito bem construídos, em que o dito se completa e se revela no não-dito.

Nascido em Jundiaí, Roveri é um dos dramaturgos mais consistentes da nova geração, além de destacado jornalista e crítico de teatro. Sua produção está muito ligada à Praça Roosevelt e a todo um movimento teatral que se desenvolve ao longo do mainstream e que tem oferecido alguns dos trabalhos mais interessantes a que o público paulistano tem a chance de assistir.

Seus textos são marcados pela inteligência e fluidez. Obras como O encontro das águas e Abre as asas sobre nós - que lhe valeu recentemente o Prêmio Shell de melhor autor - já fazem parte da lista de encenações memoráveis da história recente do teatro paulistano.

O humor e as imagens poéticas caminham lado a lado em sua trajetória. A obra de Roveri é marcada por essa tênue caminhada na corda bamba entre o riso e o choro, a dor e o deleite, o sonho e a melancolia. A vida tratada em, além do preto e do branco, diversos matizes de cinza.

Andaime, sua nova montagem, situa-se nessa frágil linha entre o cômico e o trágico. Embora a faceta mais evidente desse texto - vencedor do Prêmio Funarte de Dramaturgia - esteja ancorada no riso, atingido com maestria pela dupla Cássio Scapin e Claudio Fontana, o peso daquelas existências revela-se aos poucos por trás da aparente amenidade de uma conversa jogada fora para que "o serviço passe mais rápido".

A peça traz dois limpadores de janela trabalhando em cima de um andaime. Enquanto passam de andar em andar, conversam longamente. Nada de muito profundo ou aflitivo; os temas ficam na esfera do cotidiano. Timidamente escapam da conversa pequenas confissões de sonhos, frustrações, vontades, histórias, lembranças. Homens duros que vez por outra baixam a guarda e se expõem.

Entre um cigarro e um comentário qualquer sobre pássaros, aqueles personagens revelam certa melancolia por sentirem-se tão à margem. "Tem horas que parece que somos invisíveis", diz um deles. É a voz daquelas pessoas que estão tão próximas de nós mas que parecemos realmente não ver.

Força no humor
A grandeza da obra de Roveri está na simplicidade e leveza com que trata o tema. Não se perde em discursos, manifestos ou esbravejos. A força e a sensibilidade de sua crítica encontram na eficiente pena do humor um canal para tocar os que estão do lado de cá da janela. Paramos para escutá-los, nos divertimos e nos identificamos com eles.

Scapin e Fontana estão muito bem, esbanjando segurança em seus papéis. O único senão em relação às interpretações é a falta de uma homogeneidade de sotaques e entonações, que oscilam em alguns momentos - falha que quase pode ser encarada como preciosismo, frente à grandeza do trabalho.

O diretor Elias Andreato conduz a montagem com clareza de propósitos e austeridade de recursos. O ritmo imposto é fluido, com tempos e pausas na medida certa. Nada de efeitos desnecessários que só comprometeriam o foco; sua aposta é no trabalho de interpretação e valorização do texto, apoiados na bela e funcional cenografia de Gabriel Villela. Só fica a curiosidade: como seria a peça se tivéssemos a vidraça entre nós e os atores? Afinal, é do lado de cá que estamos o tempo todo.

Para ir além
Andaime - Teatro Vivo - Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Morumbi - Tel. (11) 3188-4141 - Sexta, 21h30, sábado, 21h e domingo, 18h - 70 min. - R$ 50 - Até 29/4.

* * *

As revoluções e a latinidade

Maritta Cury e Antonio Ranieri em 'A Revolta'

O historiador Eric Hobsbawn tem uma linha de pensamento que pode ser sintetizada na máxima de que a história é feita de permanências e rupturas. Estas se caracterizam por transformações radicais e violentas que subvertem a ordem vigente e estabelecem um novo status quo.

Revoluções exigem sangue e sacrifícios. É difícil operar as transformações para o estabelecimento de uma nova ordem. Esta, por sua vez, carrega dentro de si uma lógica que só é passível de ser derrubada por uma nova revolução. É essa condição de falibilidade intrínseca mantém a tensão entre os atores do jogo histórico.

A Revolta, do argentino Santiago Serrano, fala sobre revoluções. As grandes e as pequenas, as universais e as particulares. Situada em um ambiente rural sem tempo época definido, traz uma revolução social como pano de fundo para o palco das pequenas revoluções - as cotidianas, mundanas, que perfazem o nosso dia a dia.

Malva (Amália Pereira) é uma matriarca que se vê as voltas com uma ausência dolorosa em sua casa: um de seus filhos foi preso pelos opressores da sociedade local, por "suas idéias". Sua voluptuosa nora Judith (Maritta Cury), a "gringa", sofre com a carência e a falta do marido, além de estar em um país distante. Ela se envolve perigosamente com Martin (Antonio Ranieri), o outro filho de Malva, que trabalha para os mesmos senhores que prenderam o irmão. Nesse tenso ambiente ainda transita Sara (Janette Santiago), a escrava da família.

A iminência da revolta e da volta do filho aprofunda os conflitos entre as personagens e manda às favas o tênue equilíbrio que sustentava a casa. O resultado é violência, tanto física quanto verbal.

O texto de Serrano acaba funcionando como uma grande reflexão da própria evolução da história da América Latina. Ali estão os estrangeiros que vêm para explorar a terra e seus recursos, o estrangeiro que pensa a revolução com um olhar externo, o povo oprimido, o opressor, os que pensam a revolução como um bem geral, os que vêem nela benefícios individuais...

Malva, incapaz de ver o que acontece em sua volta, projeta no filho preso e em sua revolução seu obstinado desejo de vingança. Seus diálogos com a vizinha Antonia (Adriana Cubas), seu contraponto ideológico, evidenciam o choque entre as razões pessoais e o pensamento em um bem maior, que beneficie a todos de alguma forma.

A direção de Reginaldo Nascimento acerta em optar por uma construção cênica que prioriza o texto e o trabalho de ator. Os elementos cenográficos são os minimamente necessários para que a trama se desenvolva com os diálogos e as ações sem se sobreporem. É notável também seu talento para a criação de imagens marcantes.

É possível apreender da montagem um sólido trabalho de construção de interpretações, uma das preocupações fundamentais da Teatro Kaus Cia. Experimental. Todos estão muito seguros de suas personagens e intenções. O que pesa contra o jovem elenco é talvez certo excesso de rigidez.

As interpretações resultam, no geral, um tanto quanto duras, marcadas. Isso fica evidente, por exemplo, no modo de falar de Amália: talvez por pretenso virtuosismo, talvez por excesso de esmero, sua Malva soe barroca demais, o que compromete a própria compreensão plena do texto e de todas as suas nuances verbais. Um tom abaixo na partitura pode fazer com que o personagem ganhe em naturalidade.

São falhas que tendem a se atenuar e até desaparecer ao longo do amadurecimento do espetáculo em temporada. A troca com o público é valiosa quando se tem um grupo aberto e interessado no aprimoramento de uma linguagem, o que parece ser o caso do Kaus.

É de se destacar, aliás, a iniciativa do grupo de construir um trabalho ancorado em uma séria e constante pesquisa de dramaturgia. A Revolta é um dos filhos do projeto "Fronteiras - O Teatro na América Latina", que também englobou as montagens de Infiéis, do chileno Marco Antonio de La Parra, e de El Chingo, do venezuelano Edílio Peña. Ficam os votos de que a peça entre em temporada na cidade e a curiosidade a respeito dos caminhos a serem tomados pela companhia.

Para ir além
Teatro Kaus Cia. Experimental


Guilherme Conte
São Paulo, 23/3/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia de Jardel Dias Cavalcanti
02. Cidades do Algarve de Elisa Andrade Buzzo
03. Brasil, o buraco é mais embaixo de Luís Fernando Amâncio
04. Notas confessionais de um angustiado (III) de Cassionei Niches Petry
05. Uma Viagem à Índia, de Gonçalo M. Tavares de Carina Destempero


Mais Guilherme Conte
Mais Acessadas de Guilherme Conte em 2007
01. Impressões sobre a FLIP - 20/7/2007
02. O homem visto do alto - 23/3/2007
03. O cientista boêmio - 12/1/2007
04. Rafael Spregelburd e o novo teatro argentino - 11/5/2007
05. E se refez a Praça Roosevelt em sete anos - 13/4/2007


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




XXI - o Século do Espirito
Valdinei Serpa
Não Consta
(2001)



Cálculo Diferencial e Integral - Volume 2
George Thomas, Ross Finney
Ao livro técnico
(1984)



O Incrível Mundo das Bruxas
Jordi Busquets
Girassol



Desse Mundo Corrupto Ao Reino Celestial (Sermões No Evangelho De Marcos, II)
Paul C. Jong
Hefzibá
(2009)



Fairy Tail - Vol. 6
Hiro Mashima
Jbc
(2010)



O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli
Domenico Vandelli
Dantes
(2011)



Cura sem Remedios
Claudia Gerpe Duarte; Eduardo Gerpe Duarte
Cultrix
(2017)



The Developing Person Through Childhood And Adolescence
Kathleen Stassen Berger~ross A. Thompson
Worth Pub
(1995)



Um Guia Para A Administração do Tempo
Ross A. Webber
Maltese



Parlamentares Gauchos José Antonio Flores da Cunha
Varios
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul
(1998)





busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês