Lançada em 1983, no álbum Synchronicity, "Every Breath You Take" é uma das canções mais famosas da banda britânica The Police. Composta pelo vocalista e baixista Sting, a música liderou as paradas em diversos países e se tornou um dos maiores hits da década de 1980. Além do sucesso comercial, a composição foi reconhecida pela crítica, vencendo o Grammy de Canção do Ano em 1984.
O curioso é que, embora muitos pensem que “Every Breath You Take” seja uma música romântica, sua letra descreve a ação de um perseguidor. Há versos bem ameaçadores, como: “Every move you make/ Every step you take/ I’ll be watching you” (Cada movimento que você fizer/ Cada passo que você der/ Eu estarei te observando), ou “Oh, can’t you see/ You belong to me” (Oh, você não percebe que você pertence a mim).
Ainda que o stalking tenha sido tema de uma canção bonita, a prática em si não tem beleza alguma. É um comportamento obsessivo, muitas vezes associado a uma masculinidade tóxica, que imagina mulheres como itens a serem possuídos. Nada impede que mulheres pratiquem o stalking, mas uma consulta rápida nas estatísticas mostra que não é o mais comum.
No Brasil, a Lei nº 14.132/2021 tipifica o crime de perseguição, incluindo práticas virtuais (cyberstalking). Ela foi sancionada em 31 de março de 2021, estabelecendo pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para quem perseguir alguém de forma reiterada, por qualquer meio, ameaçando sua integridade física ou psicológica, restringindo sua locomoção ou invadindo sua privacidade.
Nas redes sociais, a relação entre influencers e seguidores me lembra a dinâmica do stalking. Há o “famoso” sendo observado, seguido em cada movimento de sua rotina: no café da manhã, nos treinos da academia, nas viagens, no lazer com os filhos, nas frustrações... Tudo é acompanhado por uma legião de usuários, que disparam corações, risadas e tudo que o vasto repertório da gramática de emojis comporta.
Os seguidores não são stalkers. Eles não cometem crime algum, já que são os famosos que compartilham, com minúcias de detalhes, suas intimidades. Aliás, a vítima, nesse caso, não é o observado. Os seguidores deixam a própria vida de lado para respirar a vida do influenciador: eles vestem não só a camisa dos seus influencers, como também se maquiam com suas marcas, tomam a tadalafila que eles anunciam, fazem os mesmos tratamentos estéticos, consomem o pré-treino e se endividam no cassino online parceiro.
Aí está a grande armadilha das redes sociais. Enquanto os seguidores se viciam na dopamina que observar a vida alheia lhes proporciona, eles se afundam, sem perceber, numa relação comercial. Influencers são vendedores. E não são todos que possuem alguma ética. Se eles puderem te fazer acreditar que o “jogo do tigrinho” vai te proporcionar o conforto de uma mansão do estilo “greco-goiano”, o farão ― ainda mais se estiverem lucrando com alguma “cláusula da desgraça”.
Recentemente, eu vi um músico na TV dizendo que os anos 1980 não foram um período temporal: são, na verdade, um estado de espírito. E que, por isso, os produtos culturais daquela década ainda são tão populares. Claro, é um músico de uma banda que toca sucessos dos anos 1980. Mas achei o ponto de vista interessante.
Pode soar um pouco melancólico imaginar, em pleno 2025, pessoas com mullets e roupas coloridas. Ainda assim, é um escape válido. É mais confortável ouvir um hit do passado ― mesmo que sua letra seja sobre stalking ― do que rolar uma timeline lotada por personagens da “CPI das Bets”, bebês reborn e receitas fit.