7 de Setembro | Luís Fernando Amâncio | Digestivo Cultural

busca | avançada
70874 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Eudóxia de Barros
>>> 100 anos de Orlando Silveira
>>> Panorama Do Choro
>>> Eduardo Freire lança livro e promove imersão em Project Thinking na Bett Brasil 2025
>>> Renan Inquérito celebra 10 anos do álbum “Corpo e Alma” de forma gratuita em SP
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Apresentação autobiográfica muito solene
>>> Parei de fumar
>>> Tem café?
>>> Por que a Geração Y vai mal no ENEM?
>>> Entre os novos autores, uma artista
>>> O retalho, de Philippe Lançon
>>> Papo com Valdeck A. de Jesus
>>> Quem é (e o que faz) Julio Daio Borges
>>> Millôr no Vitrine
>>> Pina, de Wim Wenders
Mais Recentes
>>> Pensamentos Que Ajudam: Inspirações De Paz, Saúde E Felicidade Para A Sua Vida de José Carlos De Lucca pela Intelitera (2016)
>>> Questões do Coração de Emily Giffin pela Novo Conceito (2011)
>>> A Revolução Francesa Contra a Igreja da razão aos Ser Supremo de Michel Vovelle pela Jorge Zahar (1988)
>>> Como Dizer Tudo Em Espanhol de Ron Martinez pela Campus (2001)
>>> Pensando a Revolução Francesa de François Furet pela Paz E Terra (1989)
>>> Schopenhauer Una Filosofia De La Tragedia de Alexis Philonenko pela Anthropos (1989)
>>> Sobre o Fundamento da Moral de Schopenhauer pela Martins Fontes (1995)
>>> Schopenhauer Decifrando O Enigma Do Mundo de Marie-josé Pernin pela Jorge Zahar (1995)
>>> Filhos De Alhambra As Viagens De Alexandre Icaro de Paco Roca pela Conrad (2023)
>>> Azul Sem Fim de Stephen E. Ambrose pela Bertrand Brasil (2005)
>>> Violent Cases de Neil Gaiman; Dave McKean pela Aleph (2014)
>>> Cyrano De Bergerac de Edmond Rostand pela Editora Scipione (2002)
>>> Goosebumps. Como Matar Um Monstro de R.L Stine pela Fundamento (2006)
>>> O Sistema - Ed. Definitiva de Peter Kuper pela Monstra (2024)
>>> Como Escrever Tudo Em Inglês de Ron Martinez pela Elsevier (2002)
>>> The Merchant of Venice de William Shakespeare pela Pearson Education Esl (2011)
>>> A Mão Verde E Outras Histórias de Nicole Claveloux & Édith Zha pela Comix Zone (2022)
>>> O Céu Na Cabeça de Altarriba; García Sánchez; Moral pela Comix Zone (2024)
>>> Porque Escolhi Você? de Steve Biddulph pela Fundamento (2003)
>>> Espelho Meu (Graphic novel - Volume único) de Alexandre Callari pela Pipoca & Nanquim (2023)
>>> Um Pais Chamado Brasil de Marco Antonio Villa pela Crítica (2021)
>>> O Sol Na Cabeca de Geovani Martins pela Companhia Das Letras (2018)
>>> Coringa/arlequina - Sanidade Criminosa Vol. 1 de Kami Garcia; Jason Badower pela Panini (2020)
>>> Prosperar É uma Decisão - Ferramentas para Você Administrar de André Hummel pela Orvalho (2019)
>>> A Grande Odalisca de Vivès/Ruppert & Mulot pela Pipoca E Nanquim (2019)
COLUNAS

Sexta-feira, 13/9/2019
7 de Setembro
Luís Fernando Amâncio
+ de 90900 Acessos

No colégio em que eu estudei, estar na quinta série, atual sexto ano, era ter um compromisso cívico: participar do desfile de 07 de Setembro. Para nós, crianças de 10, 11 anos, era uma responsabilidade que recebíamos com indignação. Afinal, era feriado e tínhamos que vestir uniforme e ir para a escola. Não era um bom negócio. Alguns colegas, mais fáceis de se agradar, se davam por satisfeitos com o pão com presunto e queijo que recebíamos antes de ir para o centro.

No fundo, todavia, estávamos felizes com o feriado inusitado. Funcionava quase como um ritual de passagem, uma afirmação de que entrávamos na adolescência. Dava aquele orgulho de estar crescendo, que décadas depois viraria o desespero de estar envelhecendo.

Havia vantagens práticas. Uma semana antes do Dia da Independência, éramos liberados do último horário de aula para treinar o desfile. Estudantes de todas as turmas das primeiras séries colegial eram cuidadosamente distribuídos em filas, por ordem de tamanho, no campo de futebol da escola. Professores nos passavam noções básicas de marcha: o passo, os comandos (sentido!, direita volver!, esquerda volver!, meia volta volver!), o ritmo…

A fanfarra do colégio participava dos ensaios, alternando marchas militares com melodias tocadas no xilofone. Estou falando do final dos anos 1990, então o “Tema da Vitória” era quase obrigatório em qualquer manifestação patriótica. Na frente da fanfarra, iam as balizas, que eram, basicamente, as meninas bonitas da escola vestidas de paquitas e fazendo coreografias com varetas.

Após a semana de ensaios, chegava o grande dia. Ficávamos ali, reclamando pela demora, por não chegar logo a hora de desfilarmos. Sem perceber, estávamos nos divertindo. Um bando de adolescentes reunidos sempre arrumam o que fazer. Horas depois, cumpríamos a complexa tarefa de marchar pela principal avenida da cidade, com uma pequena multidão se espremendo nas calçadas para nos prestigiar.

Por fim, encontrávamos nossos familiares, que nos acompanhavam naquele rito de passagem. Aí, poderíamos esperar o desfile da escola de algum primo ou vizinho e, se estivéssemos realmente engajados no ato cívico, aguardaríamos o desfile dos militares. Minha família não era dessas, a fome apertava e retornávamos para casa.

Mesmo sendo uma criança nascida após a Ditadura Militar, recebi outras doutrinações patrióticas ao longo da formação escolar. Periodicamente, tínhamos que ouvir e fingir cantar o Hino Nacional. Inclusive, havia sempre a polêmica: bater palma depois do hino era desrespeito? Nunca houve consenso. Verde e amarelo, mesmo, a gente só vestia na época da Copa do Mundo. Só a pátria em chuteiras nos comovia.

Eram tempos sem o espectro da Escola Sem Partido. Ou seja, os professores de história podiam ensinar o que diziam os especialistas: que nossa formação como pátria ocorrera a partir da exploração da natureza por uma elite econômica, do genocídio indígena e da escravidão africana.

Também não havia a “ideologia de gênero”, essa lenda urbana que tanto amedronta os “cidadãos de bem”. Sexualidade era tratada em termos estritamente biológicos. Ou seja, víamos ilustrações no livro didático das transformações que explodiam por nossos poros. Enquanto isso, os meninos homossexuais eram isolados pelos colegas como leprosos de décadas atrás. Já os garotos que se vangloriavam por “passar a mão” nas namoradas eram um exemplo a ser seguido. Se fosse sem consentimento, era um gesto de coragem ainda mais valorizado.

São lembranças de mais de 20 anos, um passado envelhecido. O patriotismo em 2019 se tornou pauta eleitoral e os desfiles de 07 de setembro serviram, como nunca, de palanque. Houve governador desfilando em tanque de guerra, primeira-dama de vestido amarelo, criança no carro com o presidente...

Tudo isso enquanto a Amazônia queima em incêndios criminosos que beneficiam o avanço do agronegócio e do garimpo ilegal. Em Brasília, temos uma seleção de ministros lunáticos, defendendo os piores negacionismos da moda. Nessa onda, a censura avança sobre conteúdos que abordam temas de sexualidade, em polêmicas que explodiram justamente durante o feriado.

Ou seja, com o patriotismo sendo usado como cortina de fumaça para tanta coisa ruim, me resta a constatação de que aquele pão com presunto e queijo foi a melhor coisa que um desfile do Dia da Independência já me rendeu.


Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte, 13/9/2019

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Esse Caro Objeto do Desejo de Adriane Pasa
02. Guimarães Rosa em Buenos Aires de Wellington Machado
03. A Onda, de Dennis Gansel de Ana Seffrin


Mais Luís Fernando Amâncio
Mais Acessadas de Luís Fernando Amâncio em 2019
01. 7 de Setembro - 13/9/2019
02. A Copa, o Mundo, é das mulheres - 14/6/2019
03. Lançamentos de literatura fantástica (1) - 1/3/2019
04. O Vosso Reino - 15/11/2019
05. estar onde eu não estou - 1/2/2019


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Statistical Thinking For Managers
David K. Hildebrand e Lyman Ott
Duxbury
(1991)



Química Geral - Vol. 2
James Edward Brady
Ltc
(2007)



Das schwarze Weib
Julius Wolff
Paul List
(1912)



Historia Do Cerco De Lisboa
José Saramago
Folha de São Paulo
(2003)



Pandemia e Agronegócio
Rob Wallace
Elefante
(2020)



Fonoaudiologia na Empresa Atuação Em Call Center
Renata Garcia Alloza
Revinter



1940 Terra Invadida a França de Joelho
Abril
Abril
(2009)



A Arte do Perdão, da Ternura e da Paz
Jack Kornfield
Cultrix



Guerreiro Ramos: Considerações críticas a respeito da sociedade centrada no mercado
Luiz Antonio Alves Soares
Cra-RJ
(2005)



Acumulação de Ativos e Atividade Econômica
James Tobin
Vértice
(1987)





busca | avançada
70874 visitas/dia
2,5 milhões/mês