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Terça-feira, 20/6/2023
A pintura admirável de Glória Nogueira
Ronald Polito
+ de 4200 Acessos

A Galileu Edições, baseada em Londrina (PR), acaba de publicar uma plaquete sui generis. Ela apresenta trabalhos de artes plásticas de Glória Nogueira, incluindo um excelente texto de apresentação do professor Jorge Coli e um desenho de Laerte em homenagem à artista. Antes de falar sobre Glória Nogueira, prefiro que o leitor siga exatamente o percurso que fiz porque seus dados biográficos podem direcionar a percepção dos trabalhos. Meu primeiro contato com Glória Nogueira foi diretamente com sua obra. Eu não sabia nada sobre ela e confesso que fiquei encantado com as imagens que vi. É sobre essas imagens que vou tentar esboçar alguns comentários.



A plaquete traz 13 obras em acrílica sobre tela (3 telas em grande formato, como 1,60 × 2,00 m, e as demais em formato menor, como 0,50 × 0,60 m) e 3 aquarelas (em formato 0,30 × 0,40 m). Foi a primeira vez que Glória expôs seus trabalhos, no caso, na Galeria Rose Malveira, em Campinas, em abril deste ano. Em todos os trabalhos a dominância é a abstração, ainda que eventualmente figuras apareçam sugeridas bem de leve. Em todos, também, é a profusão de cores vivas em relações contrastantes e os movimentos abruptos ou lentos dos campos de cor o que demarca a singularidade de sua obra. Cada obra é única, Glória não se repete, revelando um surpreendente domínio de várias modalidades do abstracionismo. Ainda que centralmente abstrata, no entanto, as obras possuem títulos que são intrigantes e que podem servir de orientação para quem as está observando. Os títulos, por vezes enigmáticos, assim, nos servirão de via de acesso ao que pode ser comentado.

Começo com uma grande tela, A cascata perdida (acrílica, 1,30 × 1,30 m). Os olhos vagueiam pela superfície tentando localizar a cascata, até que se conformam em imaginá-la nas pinceladas azuis do lado direito da tela. A cascata vai numa sucessão de platôs até a grande queda vertical na parte inferior e central do quadro. No meio de seu percurso, ela se efetua como uma profusão de gotas e espumas em suspensão contornando as pedras da cachoeira. Pode-se, ainda, imaginar a vasta extensão em torno da cascata, e uma planície no canto superior direito de onde ela começa a decair. Ou, então, não é nada disso, a cascata está “perdida”, não é possível encontrá-la, a tela se realiza como um campo de cores e forças. Sobretudo, é dessa ambiguidade que ela retira sua energia, interrogando-nos sobre nossa necessidade sempre tão premente de encontrar formas, identificar figurações, habitar espaços reconhecíveis.


A cascata perdida


Já em As estrelas (acrílica, 0,50 × 0,40 cm), o procedimento é distinto do anterior, no qual não se reconhece uma cor dominante de fundo. Neste segundo, o negro intenso parece simular o céu onde tudo acontece. As próprias estrelas parecem se configurar nas miríades de pontuações que cintilam entre as cores, ou “uma espécie de rendado”, nas palavras de Jorge Coli referindo-se aos pontos que Glória insere em suas obras. Mas, de novo, tudo se embaralha. Os elementos variados de cor não remetem a nada que o céu abriga, nem a terra. Por uma inversão de perspectiva, então, temos de nos imaginar acima das próprias estrelas, estamos no espaço, e abaixo delas se situa o mundo com suas mil formas.


As estrelas


Em As flores do mar (acrílica, 0,50 × 0,60 cm), já não perderemos tempo tentando encontrá-las. Talvez elas estejam por ali, mas nossa percepção é demandada por outros propósitos. O que temos, sobre um fundo escuro, são formas que se movimentam velozmente, elas nos empurram para dentro da tela e nos atiram para fora dela numa oscilação incessante. São tão bruscos e violentos os deslocamentos de massas, que há algo de moldura na parte superior e à esquerda, em cores mais claras, como que para deter essa luta, essa dissolução. Tudo aqui é instável, provisório, urgente.


As flores do mar


Em Cafezal (acrílica, 0,50 × 0,60 cm), talvez até possamos reconhecer plantas ou árvores, mas isso é o que menos importa. Notáveis são os contrastes e equilíbrios entre cores por vezes opostas, o balanceamento entre cores vivas e outras mais apagadas, mas, sobretudo, o efeito, inclusive presente na maioria das telas, de uma pintura que parece bordado, ou tapeçaria, como alguém já observou, ou mesmo rendado, como anotado por Jorge Coli para certas obras. Essa sugestão de tecidos é inusitada considerando que são acrílicas sobre tela.


Cafezal


Enfim, o que importa ressaltar nos trabalhos de Glória Nogueira é o grande domínio de cores acopladas a formas não definíveis, o jogo de intensidades geradas por sua proximidade e distância, a velocidade ou lentidão dos ritmos e das massas, o diálogo e a harmonia inusitados entre campos maiores e menores de cor, as insinuações de figuras que se dissolvem e se negam a ser reconhecidas, o convívio tenso e extremamente bem realizado entre o que pode haver de alegria e de soturno nas cores, a vigorosa vibração alcançada pelos contrastes entre tons, a audácia ao aproximar cores que não imaginávamos passíveis de conviver em concórdia, as pontuações contornando campos como que costurando-os, bordando-os, interligando-os. Glória não tem nenhum medo de correr riscos, ela se atira livremente em busca da autenticidade de suas imagens. Temos perante nós uma obra que se impõe por sua sinceridade, afinal, pela verdade que está contida em seus gestos certeiros.

Agora, algumas palavras sobre a autora a partir dos dados que Jorge Coli colige em sua apresentação. Glória Nogueira nasceu em 1958, em Campos (RJ), e seu nome completo é Maria da Glória de Jesus Nogueira. Ela não teve o que chamamos de educação formal. “Sua família morava na fazenda Rialto, em Bananal. Em criança, tomava conta dos irmãos enquanto os pais iam para a roça. Aprendeu alguns poucos rudimentos de escrita e leitura depois de adulta e sabe assinar seu nome com orgulho” (Jorge Coli). Depois que sua família se mudou para a cidade, Glória passou a sobreviver como empregada doméstica, atividade a que se dedica ainda hoje, além de cozinheira excelente, segundo Coli. Em pintura é autodidata. Só começou a pintar recentemente, quase que por acaso, durante a pandemia de Covid-19, quando um amigo, artista plástico de Campinas, entregou a ela aquarelas, pincéis e papéis. Ela começou a trabalhar e suas obras já nasceram prontas. Em seguida, partiu para a acrílica e as telas, algumas de grande formato. Ela pertence à família dos grandes coloristas da história da arte. Há algo de fauve em seu trabalho de cores libertas, mas a renúncia à figuração a projeta no espaço do expressionismo abstrato, tanto o norte-americano dos anos 1940/1950 quanto o neoexpressionismo principalmente europeu dos anos 1980.

Glória de Jesus: seu nome já diz tudo, Glória. Você veio para ficar.



Ronald Polito
Juiz de Fora, 20/6/2023

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