Mozart, o gênio da música | Luís Antônio Giron

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Segunda-feira, 24/7/2006
Mozart, o gênio da música
Luís Antônio Giron
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Em seu aniversário de 250 anos, Wolfgang Amadeus Mozart continua a intrigar os estudiosos mais racionais com aquilo que se convencionou chamar de "gênio". Mesmo que essa noção tenha sido refugada, a genialidade do compositor austríaco segue intocável. Ninguém até hoje forneceu uma explicação final para as façanhas daquele que ainda é tido como o supremo mestre da mais secreta das artes. A civilização ingressou no terceiro século de devoção a Amadeus como as gerações passadas: pasma com a leveza e a qualidade abissal de suas peças de câmara, missas, óperas e sinfonias – gêneros em que esbanjou intuição e sabedoria. É preciso descobrir o que faz a obra mozartiana pulsar mais grandiosa do que nunca numa época de niilismo e de autoproclamada morte da arte.

Quem se debruça no assunto é tragado por uma vertigem de fantasias que encontram solo em meias-verdades que se encaixaram à vida do artista. Ela foi tão curta como bem documentada por testemunhos da família e contemporâneos e a correspondência do artista com parentes, amigos e mecenas. O conjunto de textos somado à produção do artista (mais de 650 obras) ergueu um vulto cultural. Isso sem contar a ficção que o explorou como tema literário do gênio injustiçado pela inveja e a fatalidade: novelas de E.T.A. Hoffmann, o drama Mozart e Salieri (1826), de Púchkin, e outros textos que inspirariam o escritor americano Peter Shaffer em Amadeus, peça estreada na Broadway em 1979 e, cinco anos depois, convertida em filme por Hollywood. Que parte da sonata de mistificação executada em torno da posteridade de Mozart em ritmo cada vez mais obstinado é real e aproveitável hoje em dia?

Há um fundo real no magma de fabulas e dados. Sua biografia é uma sucessão de feitos notáveis. A começar pelas do menino-prodígio. Ele nasceu em Salzburgo, às 8 horas da noite, em 27 de janeiro de 1756, filho do músico Leopold Mozart. Aos 4 anos, começou a estudar cravo. O pai anotou: "Entre 9 e 9h30 da noite de 24 de janeiro de 1761, Wolfgangerl tocou pela primeira vez uma peça ao piano, um Scherzo de Wagenseil". Nesse período, escreveu suas primeiras peças para violino e cravo. Leopold decidiu excursionar com o filho pelas cortes européias, para exibir a criança-prodígio. Em Londres, em fevereiro de 1765, suas primeiras sinfonias foram apresentadas. Com 17 anos, já havia se tornado sábio em todos os ramos de sua atividade, aclamado por óperas sérias em centros como Milão e Munique.

Adulto, superou a precocidade e atingiu os níveis mais altos da arte dos sons, sem ser recompensado. Um maestro famoso como Franz Joseph Haydn, jurou a Leopold em 1785 que seu filho era o maior compositor de que ele havia tido notícia. Em contraste com seu engenho, Mozart exibia uma personalidade desregrada e pueril, que colaborou na criação da imagem do "divino Amadeus", símbolo do gênio involuntário. Apaixonava-se com facilidade, iniciou-se sexualmente com uma prima (Bäsle) – do caso restaram cartas repletas de palavrões e escatologias típicas da índole salzburguense –, apaixonou-se pela cantora Aloysia Weber, e, quando esta o desprezou, resolveu se casar com sua irmã mais nova, Constanze, também cantora. Não sabia administrar bens nem cuidar de assuntos pessoais. Loiro, baixinho, irrequieto e sensível, orgulhava-se do talento e do papel que ambicionava exercer na história da arte. Aos 25 anos, brigou com o poderoso arcebispo Hyeronimus Colloredo, senhor de Salzburgo. Não lhe agradava fazer plantão pela manhã na antecâmara do quarto do nobre e servi-lo como um criado. No ano de 1781, a despeito da insistência do pai para que ficasse, mudou-se para Viena. Ali, trabalhou como autônomo. Casou-se em 1782 com Constanze e passou a morar com ela em apartamentos pequenos e escuros, onde não faltava a mesa de bilhar, o único passatempo que praticava. Apesar de ganhar bem, viu a carreira barrada pela inveja de um inimigo poderoso, o compositor Antonio Salieri. Além disso, sua música era considerada difícil pela platéia do tempo. O músico concatenava idéias com rapidez avassaladora, num ritmo que os ouvidos não acompanhavam. Suas composições se apoiavam na forma-sonata, linguagem nova que aplicava o raciocínio lógico ao material sonoro a fim de ampliá-lo – e levou tempo até ser assimilada pelas audiências. Desde a primeira resenha que Mozart obteve, na revista Magazin der Musik, de 1783, os críticos chamavam a atenção para a velocidade das melodias e do contraponto e o atrevimento em certas combinações harmônicas.

Como corolário do mito, ele amargou o fim prematuro em circunstâncias estranhas, que induzem à hipótese do assassinato. De acordo com a viúva, Mozart acreditou até morrer que havia sido envenenado e o envenenador (suspeitava de Salieri) sabia quando morreria. Teria administrado uma poção italiana, acqua toffana, capaz de corroer lentamente os órgãos até o ataque final, em data pré-estipulada. Por esse motivo, imaginava o músico, um fidalgo anônimo teria lhe encomendado uma missa de Réquiem, serviço para o qual pediu uma fortuna. "Estou compondo a missa que vai encomendar meu corpo", disse à mulher. Na verdade, tratava-se do conde Walsegg, que queria celebrar a memória da esposa, fazendo-se passar pelo autor da peça. Mozart caiu de cama quando a particella do Réquiem se encontrava quase concluída.

Os momentos finais são relatados na biografia de Georg Nikolaus Nissen, segundo marido de Constanze, editada em 1828. Ele informa que o músico ficou triste ao saber e que o imperador acabava de lhe conceder o posto de diretor musical da catedral de Santo Estêvão: "Logo agora – ele geralmente se lamentava durante a doença – devo morrer quando poderia viver em paz! Agora deixar minha Arte quando não mais preciso ser um escravo da moda, não mais atrelado aos especuladores, quando poderia seguir os vôos de minha fantasia, quando poderia compor livre e independentemente tudo aquilo que meu coração ditasse! Devo deixar minha família meus pobres filhos, justamente no momento em que estaria em melhor condição de cuidar deles..." Mozart trabalhou na partitura do Réquiem durante os estágios terminais de uma síndrome renal que inchava seu corpo e o por fim o deixou semiparalisado. Mas não parava. Na tarde de 4 de dezembro de 1791, promoveu um ensaio da obra. Amigos cantaram alguns movimentos e ele se incumbiu da parte de contralto. Havia instruído Constanze e um aluno, Franz Süssmayr, para finalizar a música. Morreu às cinco para a uma da madrugada de 5 de dezembro. A tragédia se potencializou quando o cadáver foi enterrado em vala comum no cemitério São Marx, nos arrabaldes, e, em pouco tempo, ninguém mais soube localizá-la. A tese do envenenamento se disseminou, e Salieri virou alvo da maledicência, mesmo que Constanze e amigos de Mozart tenham assegurado que tudo não passara de delírio do doente. Salieri morreria em 1825 num asilo vienense, atormentado pelo espectro de Mozart. Durante a sua agonia, negou ter envenenado o rival. Inútil, pois a distorção triunfou. Tantos elementos melodramáticos só fizeram inflamar a imaginação da geração romântica, da qual Mozart se tornou precursor. Para tanto, algumas de suas idéias precisaram ser varridas para debaixo do tapete, como a declaração nada idealista feita em carta ao pai em 1781: "É meu desejo e minha esperança obter honra, fama e dinheiro".

A canonização póstuma se avolumou pela lenda e sobretudo por causa de um catálogo de composições jamais superado pela variedade, envergadura e quantidade. Não foram igualadas nem por seu seguidor, Ludwig van Beethoven – aluno de Salieri, por sinal. O mito do gênio possuído pela música e vítima do destino resiste porque há razões para crer nele. O fabuloso e o real se misturam, e não há musicólogo que os separe.

O fato é que o fenômeno Mozart e o conceito de gênio são contemporâneos e, hoje, sinônimos. Seus dons serviram como inspiração para especulações sobre mistérios da arte. Embora com origem na Antigüidade, o termo ganhou fundamentação teórica precisamente no fim do século XVIII. Um dos artistas que elaborou uma metafísica do gênio foi Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). Baseou-se em Mozart, que ouviu em Frankfurt quando o menino tinha 5 anos. Em conversas com Eckermann em 1828, Goethe atribuiu o gênio a uma "façanha produtiva" de efeito duradouro. "Todas as obras de Mozart são desse tipo", disse o poeta, e só seriam comparáveis às obras de Rafael na pintura e Fídias na escultura, artistas de outros tempos. Para Goethe, Mozart encarnava o gênio contemporâneo. Desde o início do século XIX, ele jamais saiu de moda.

"Ele é meu modelo mesmo quando toco música de vanguarda", afirma a violinista alemã Anne-Sophie Mutter, uma das maiores executantes das peças do compositor. "Nenhum músico atual escapa de sua influência. É impossível ignorar seu gênio. É um modelo estético e ético porque defendeu na música os valores humanos mais importantes".

Em termos objetivos, Mozart viveu como um cidadão comum, com ideais iluministas e dono de uma competência extraordinária para escrever partituras. Dizia ouvir óperas inteiras na cabeça, antes mesmo de lançar a primeira mancha na pauta. Tudo o que produziu foi resultado da facilidade incalculável, e pode ser submetido à análise estrutural. Mas há componentes em sua obra que teimam em escapar à formulação teórica. Ela chega aos ouvidos do público tanto pela consistência, beleza e equilíbrio internos, como contaminada pelas fábulas e referências místicas que carrega. Tornou-se objeto de um culto que sonha em abalar o ceticismo deste século pela intercessão da música. Mozart ecoa como fantasma-prodígio. E parece correr mais rápido que os ouvidos da História.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado na revista Bravo! de janeiro de 2006.


Luís Antônio Giron
São Paulo, 24/7/2006
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