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Terça-feira, 13/5/2025
Folia de Reis
Renato Alessandro dos Santos
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Enquanto isso, Portugal espera sentado pela volta de Sebastião (a cabeça nas nuvens, Lisboa gentrificando). Mas quem quiser interromper a vigília pode se ocupar de outro ilustre filho da terra, contentando-se com Saramago, o rabanete, ou melhor, Saramago, a erva silvestre camponesa.


Em seus romances, o escritor, por trás daquela calva avançada, dádiva da idade subestimada, sempre soube esconder muito bem a criança, o rapazinho, o estafermo que vinha habitando seu corpo e, principalmente, seu espírito, e o porquê disso é só um, Como pode o peixe vivo viver fora da água fria?

Não, não é nada disso, mas, Como pôde aquele céu de arrebol ter tido ideias tão originais e absurdas, tão brincalhonas e inacreditáveis, conseguindo com isso renovar não somente as letras lusitanas, mas – via Nobel – as literaturas planetárias?

Você conhece o velhinho de bermuda e bodoque: fez a península ibérica perder-se da Europa, vadiando por aí... Fez a Morte pendurar as chuteiras; fez o mundo inteiro cegar-se, ou melhor, quase a Terra inteira, ou melhor ainda, praticamente o planeta inteiro, à exceção daquela mulher que, enxergando, foi botando reparo e ordem nas coisas. Fez, no caso de o porquê destas linhas, Ricardo Reis voltar do Brasil, regressando a Portugal, para, lá, deixar a camareira Lídia grávida, enquanto no entrudo luso Fernando Pessoa saía rebolando todo serelepe pelas ruas de Lisboa, supostamente vestindo uma fantasia libidinosa de caveira ardente.


Se Saramago ainda vivesse, eu adoraria dizer-lhe (poderia ser por e-mail) não apenas o quanto a humanidade aprende com seus livros, mas também como ela leva algo de bom, vida afora, ao ter um livro dele nas mãos, porque algo que o escritor ensina muito bem é como suportar a never ending story com desfastio, sem esmorecer, apesar da implacável cortina de realidade que cai sobre todos nós, everyday; é que, com José, há uma leveza autossustentável, e, para viver assim, basta que a leitora saiba lidar com a vida com a mesma disposição de espírito que aqueles narradores de Saramago souberam; isto é, um bom humor que se traduz em comentários que ampliam a valer os armados conflitos de confete e serpentina que as trombadas entre corpo e espírito, feito bile, secretam – sem contar que, com José, mesmo que a espada de Dâmocles paire acima da capela, um Katinguelê sorriso atravessa seus livros, de um lado a outro, tipo os VUs dos antigos aparelhos de som.

É uma imaginação gira, reluzente, sempre certa a oferecer o que amplia, e não diminui, a vida. É, eu sei; eu sei que, em 2010, sua garota lançou-se na viuvez, mas isso não significou que suas canelas esticadas ficaram esquecidas por aí, ou que a memória sua ainda não esteja aqui, secretando luz luz luz por toda parte, pendurada lá nos trapézios que se abrem nos nossos cocurutos e alvo dos mais sinceros desejos de alegria perpétua, enquanto a leitura de um livro seu vai fluindo, feito a nascente de um rio que corre sem tocar o chão, tipo Iracema, ou como a canoinha daquele pai navegando de uma margem à(s) outra(s) tal uma ferida aberta que ainda dói.

O ano da morte de Ricardo Reis


Como se afirmou, Ricardo Reis voltou da Terra de Santa Cruz – como Basílio, como Castro Gomes – mas, diferente do primo de Luísa e do marido postiço de Maria Eduarda, de Os Maias, Reis não voltou a Portugal para desposar as esposas dos seus maridos, mexendo com a cabEça dEças mulheres, que, em vez de ler o Manifesto do partido comunista, ficam à espera de romance; não. Nada disso.

Reis voltou porque Pessoa se foi e, com isso, Ricardo, uma das costelinhas heterônimas do bardo lusitano, espera dar sentido ao que resta de sua vida e, mais do que isso, vivê-la ainda, mas dentro do que ele mesmo prefigurou: nada de sobressaltos, porque o melhor é viver o sossego, sossegadamente, e, se possível, à beira do rio, e de mãos enlaçadas, e com os pezinhos girando feito Ovomaltine.

Assim, era uma vez Ricardo Reis, que, em Lisboa, hospedou-se em um hotel onde foi passar três meses ocupando-se de si mesmo, mas, miserere nobis, acabou por se envolver foi com uma camareira e com uma outra mulher, cuja mão direita – ou seria a esquerda? – não funcionava mais.

Lídia e Marcenda, musas advindas de dois mundos diferentes: aquela, das baixas fileiras do proletariado; esta, do mundo de aparências da capitalista sociedade, ou seja, dos que sempre tiveram o circo, o pão e os meios de produção à mesa.

Mas é a natureza de Reis que deixa os leitores felizes pela escolha de Saramago por esse heterônimo de Pessoa. Fosse outra das várias pessoas que deram ao senhorio, Fernando, sua parcela mensal de aluguel, não estaríamos tão bem servidos; é que Ricardo tem temperança, frugalidade e as outras 11 das 13 virtudes que deixariam aquele workaholic do Benjamin Franklin bastante feliz.

Pontos contra o romance?

Em uma ou outra hora, o leitor pode se aborrecer com alguma linguagem turva que o autor nos oferta. Coisas de segunda-feira, quando o plano de voo anda baixo, porque, em outros dias, não há por que se deixar acabrunhar com o flamejante emprego das palavras umas após as outras, com sinais de pontuação a servir de placas de trânsito: curva suave à esquerda, avance, pare.


Botara culpa na sua peculiar forma de transpor o discurso direto com aquelas vírgulas?

Acha! Quem se acostumou com as ousadias de Saramago percebeu que nenhum problema haveria de ter no uso inusitado de pôr as pessoas do romance a falar, a rir, a resmungar, mesmo depois de uma vírgula, Então, o problema poderia ser aquele narrador que picota muito o enredo, fazendo autorreflexões sobre tudo e todos, com mais metalinguagem do que seria necessário um romance ter?

Nada disso também.

Com esse Nobel, nada é perda de tempo ou cessão ao uso convencional da vida; com ele, somos dados a enxergar as coisas de outra maneira (¿), como se pudéssemos nos ver de fora da gente mesmo, mas de ponta-cabeça (¿), tipo um ponto de exclamação do avesso (¡).

Nada que soe estranho a nenhum leitor desse Bruxo do Oeste Europeu, que, plantando bananeira com um mamão só (¿¡), com a outra escreveu algumas das coisas mais belas e estranhas que a literatura em língua portuguesa já presenteou ao mundo, o que fez o Alentejo viver, ascendendo.

É que estranhamento e literatura têm tudo a ver, como feijão gelado e leite condensado em noites de lua cheia.



Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 13/5/2025

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