O homem visto do alto | Guilherme Conte | Digestivo Cultural

busca | avançada
205 mil/dia
2,9 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Espetáculo inspirado na vida cotidiana do Bixiga volta ao cartaz comemorando 28 anos do Teatro do In
>>> Semana Gastronômica do Granja
>>> Mulheres em meio ao conflito:sobre inclusão, acolhimento e sororidade incondicional
>>> Arsenal da Esperança faz ensaios de teatro com moradores em situação de rua
>>> Vem pra Feira do Pimp Estoque: Economia Circular com catadoras, catadores e artistas!
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
>>> Minha história com o Starbucks Brasil
>>> O tipógrafo-artista Flávio Vignoli: entrevista
>>> Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
Colunistas
Últimos Posts
>>> Inteligência artificial e o fim da programação
>>> Temer fala... (2023)
>>> George Prochnik sobre Stefan Zweig (2014)
>>> Hoffmann e Khosla sobre inteligência artificial
>>> Tucker Carlson no All-In
>>> Keleti: de engenheiro a gestor
>>> LeCun, Bubeck, Harris e a inteligência artificial
>>> Joe Satriani tocando Van Halen (2023)
>>> Linger by IMY2
>>> How Soon Is Now by Johnny Marr (2021)
Últimos Posts
>>> Toda luz que não podemos ver: política e encenação
>>> Sarapatel de Coruja
>>> Culpa não tem rima
>>> As duas faces de Janus
>>> Universos paralelos
>>> A caixa de Pandora do século XX
>>> Adão não pediu desculpas
>>> No meu tempo
>>> Caixa da Invisibilidade ou Pasme (depois do Enem)
>>> CHUVA
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A história de cada livro
>>> O poeta do pesadelo e do delírio
>>> Além do Mais em 2004
>>> Sites que mudaram o mundo
>>> Textos, contextos e pretextos
>>> Dicas da Semana
>>> 19 de Abril #digestivo10anos
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> O perfeito cozinheiro das almas deste mundo
>>> O sol na cabeça
Mais Recentes
>>> Os 27 desafios que todo chefe deve enfrentar de Bruce Tulgan pela Sextante (2015)
>>> Design para crescer - aprenda com a Coca-Cola sobre escala e agilidade de David Butler - Linda Tischler pela Campus (2015)
>>> Implantando uma Empresa de Cesar Simões Salim e outros pela Elsevier - Campus (2011)
>>> Competências - conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna de Joel Souza Dutra pela Atlas (2013)
>>> Um novo jeito de trabalhar de Laszlo Bock pela Sextante (2015)
>>> Pipeline de Desempenho de Stephen Drotter pela Campus (2011)
>>> Nocaute - Como contar sua historia no disputado ringue das redes sociais de Gary Vaynerchuk pela Hsm (2016)
>>> Liderança - a inteligência emocional na formação do líder de sucesso de Daniel Goleman pela Objetiva (2015)
>>> Excelência em atendimento ao cliente de Alexandre Luzzi Las Casas pela M.books (2012)
>>> 100 Maneiras de motivar as pessoas de Steve Chandler - Scott Richardson pela Sextante (2008)
>>> Lições de Impacto e Inovação - O executivo transformador no jogo da indústria de Jeffrey J. Fox - Robert Reiss pela Rocco (2014)
>>> ( Re ) Descobrindo A Matriz Nine Box de Rogerio Leme pela Qualitymark (2013)
>>> Net.com.classe. Um Guia Para Ser Virtualmente Elegante de Claudia Matarazzo pela Melhoramentos
>>> Como Se Tornar Um Lider Servidor de James C. Hunter pela Sextante (2006)
>>> Reinvente Sua Empresa - mude sua maneira de trabalhar de Jason Fried - David Heinemeier Hansson pela Sextante (2012)
>>> Os Testamentos (capa dura) de Margaret Atwood pela Rocco (2021)
>>> A Ralé Brasileira - Quem é e Como Vive de Jessé Souza pela Civilização Brasileira (2022)
>>> Em Seus Passos... O Que Faria Jesus ? de Charçes M. Sheldon pela Abba
>>> A Magia Do Atendimento - As 39 regras essenciais para garantir servios excepcionais de Lee Cockerell pela Saraiva (2013)
>>> Racismo Cordial: A Mais Completa Análise Sobre O Preconceito De Cor No Brasil de Cleusa Turra; Gustavo Venturi pela Atica (1998)
>>> Como Encantar Seus Clientes de Bob Miglani pela Sextante (2009)
>>> Seleções de Flávio Josefo de Flávio Josefo pela Edameris (1974)
>>> Estratégia de Portfolio de Marcas de David A. Aaker pela Bookman (2007)
>>> Racismo à Brasileira: Raízes Históricas de Martiniano J. Silva pela A. Garibaldi (1995)
>>> Coaching Eficaz - tradução da 3a edição norte-americanaConsultoria Efetiva de Myles Downey pela Cengage (2010)
COLUNAS

Sexta-feira, 23/3/2007
O homem visto do alto
Guilherme Conte
+ de 8100 Acessos

Cássio Scapin e Claudio Fontana (Foto: João Caldas / Divulgação)

Sergio Roveri é um daqueles artistas que consegue deter-se com atenção aos mínimos detalhes e enxergar ali poesia e sentido. Sua sensibilidade encontra guarida em diálogos muito bem construídos, em que o dito se completa e se revela no não-dito.

Nascido em Jundiaí, Roveri é um dos dramaturgos mais consistentes da nova geração, além de destacado jornalista e crítico de teatro. Sua produção está muito ligada à Praça Roosevelt e a todo um movimento teatral que se desenvolve ao longo do mainstream e que tem oferecido alguns dos trabalhos mais interessantes a que o público paulistano tem a chance de assistir.

Seus textos são marcados pela inteligência e fluidez. Obras como O encontro das águas e Abre as asas sobre nós - que lhe valeu recentemente o Prêmio Shell de melhor autor - já fazem parte da lista de encenações memoráveis da história recente do teatro paulistano.

O humor e as imagens poéticas caminham lado a lado em sua trajetória. A obra de Roveri é marcada por essa tênue caminhada na corda bamba entre o riso e o choro, a dor e o deleite, o sonho e a melancolia. A vida tratada em, além do preto e do branco, diversos matizes de cinza.

Andaime, sua nova montagem, situa-se nessa frágil linha entre o cômico e o trágico. Embora a faceta mais evidente desse texto - vencedor do Prêmio Funarte de Dramaturgia - esteja ancorada no riso, atingido com maestria pela dupla Cássio Scapin e Claudio Fontana, o peso daquelas existências revela-se aos poucos por trás da aparente amenidade de uma conversa jogada fora para que "o serviço passe mais rápido".

A peça traz dois limpadores de janela trabalhando em cima de um andaime. Enquanto passam de andar em andar, conversam longamente. Nada de muito profundo ou aflitivo; os temas ficam na esfera do cotidiano. Timidamente escapam da conversa pequenas confissões de sonhos, frustrações, vontades, histórias, lembranças. Homens duros que vez por outra baixam a guarda e se expõem.

Entre um cigarro e um comentário qualquer sobre pássaros, aqueles personagens revelam certa melancolia por sentirem-se tão à margem. "Tem horas que parece que somos invisíveis", diz um deles. É a voz daquelas pessoas que estão tão próximas de nós mas que parecemos realmente não ver.

Força no humor
A grandeza da obra de Roveri está na simplicidade e leveza com que trata o tema. Não se perde em discursos, manifestos ou esbravejos. A força e a sensibilidade de sua crítica encontram na eficiente pena do humor um canal para tocar os que estão do lado de cá da janela. Paramos para escutá-los, nos divertimos e nos identificamos com eles.

Scapin e Fontana estão muito bem, esbanjando segurança em seus papéis. O único senão em relação às interpretações é a falta de uma homogeneidade de sotaques e entonações, que oscilam em alguns momentos - falha que quase pode ser encarada como preciosismo, frente à grandeza do trabalho.

O diretor Elias Andreato conduz a montagem com clareza de propósitos e austeridade de recursos. O ritmo imposto é fluido, com tempos e pausas na medida certa. Nada de efeitos desnecessários que só comprometeriam o foco; sua aposta é no trabalho de interpretação e valorização do texto, apoiados na bela e funcional cenografia de Gabriel Villela. Só fica a curiosidade: como seria a peça se tivéssemos a vidraça entre nós e os atores? Afinal, é do lado de cá que estamos o tempo todo.

Para ir além
Andaime - Teatro Vivo - Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Morumbi - Tel. (11) 3188-4141 - Sexta, 21h30, sábado, 21h e domingo, 18h - 70 min. - R$ 50 - Até 29/4.

* * *

As revoluções e a latinidade

Maritta Cury e Antonio Ranieri em 'A Revolta'

O historiador Eric Hobsbawn tem uma linha de pensamento que pode ser sintetizada na máxima de que a história é feita de permanências e rupturas. Estas se caracterizam por transformações radicais e violentas que subvertem a ordem vigente e estabelecem um novo status quo.

Revoluções exigem sangue e sacrifícios. É difícil operar as transformações para o estabelecimento de uma nova ordem. Esta, por sua vez, carrega dentro de si uma lógica que só é passível de ser derrubada por uma nova revolução. É essa condição de falibilidade intrínseca mantém a tensão entre os atores do jogo histórico.

A Revolta, do argentino Santiago Serrano, fala sobre revoluções. As grandes e as pequenas, as universais e as particulares. Situada em um ambiente rural sem tempo época definido, traz uma revolução social como pano de fundo para o palco das pequenas revoluções - as cotidianas, mundanas, que perfazem o nosso dia a dia.

Malva (Amália Pereira) é uma matriarca que se vê as voltas com uma ausência dolorosa em sua casa: um de seus filhos foi preso pelos opressores da sociedade local, por "suas idéias". Sua voluptuosa nora Judith (Maritta Cury), a "gringa", sofre com a carência e a falta do marido, além de estar em um país distante. Ela se envolve perigosamente com Martin (Antonio Ranieri), o outro filho de Malva, que trabalha para os mesmos senhores que prenderam o irmão. Nesse tenso ambiente ainda transita Sara (Janette Santiago), a escrava da família.

A iminência da revolta e da volta do filho aprofunda os conflitos entre as personagens e manda às favas o tênue equilíbrio que sustentava a casa. O resultado é violência, tanto física quanto verbal.

O texto de Serrano acaba funcionando como uma grande reflexão da própria evolução da história da América Latina. Ali estão os estrangeiros que vêm para explorar a terra e seus recursos, o estrangeiro que pensa a revolução com um olhar externo, o povo oprimido, o opressor, os que pensam a revolução como um bem geral, os que vêem nela benefícios individuais...

Malva, incapaz de ver o que acontece em sua volta, projeta no filho preso e em sua revolução seu obstinado desejo de vingança. Seus diálogos com a vizinha Antonia (Adriana Cubas), seu contraponto ideológico, evidenciam o choque entre as razões pessoais e o pensamento em um bem maior, que beneficie a todos de alguma forma.

A direção de Reginaldo Nascimento acerta em optar por uma construção cênica que prioriza o texto e o trabalho de ator. Os elementos cenográficos são os minimamente necessários para que a trama se desenvolva com os diálogos e as ações sem se sobreporem. É notável também seu talento para a criação de imagens marcantes.

É possível apreender da montagem um sólido trabalho de construção de interpretações, uma das preocupações fundamentais da Teatro Kaus Cia. Experimental. Todos estão muito seguros de suas personagens e intenções. O que pesa contra o jovem elenco é talvez certo excesso de rigidez.

As interpretações resultam, no geral, um tanto quanto duras, marcadas. Isso fica evidente, por exemplo, no modo de falar de Amália: talvez por pretenso virtuosismo, talvez por excesso de esmero, sua Malva soe barroca demais, o que compromete a própria compreensão plena do texto e de todas as suas nuances verbais. Um tom abaixo na partitura pode fazer com que o personagem ganhe em naturalidade.

São falhas que tendem a se atenuar e até desaparecer ao longo do amadurecimento do espetáculo em temporada. A troca com o público é valiosa quando se tem um grupo aberto e interessado no aprimoramento de uma linguagem, o que parece ser o caso do Kaus.

É de se destacar, aliás, a iniciativa do grupo de construir um trabalho ancorado em uma séria e constante pesquisa de dramaturgia. A Revolta é um dos filhos do projeto "Fronteiras - O Teatro na América Latina", que também englobou as montagens de Infiéis, do chileno Marco Antonio de La Parra, e de El Chingo, do venezuelano Edílio Peña. Ficam os votos de que a peça entre em temporada na cidade e a curiosidade a respeito dos caminhos a serem tomados pela companhia.

Para ir além
Teatro Kaus Cia. Experimental


Guilherme Conte
São Paulo, 23/3/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A entranha aberta da literatura de Márcia Barbieri de Jardel Dias Cavalcanti
02. A selfie e a obsolescência do humano de Marta Barcellos
03. Mente Turbinada e Brasil na Copa de Marilia Mota Silva
04. Biocyberdrama: quadrinhos pós-humanos de Gian Danton
05. Na calada do texto, Bentinho amava Escobar de Carla Ceres


Mais Guilherme Conte
Mais Acessadas de Guilherme Conte em 2007
01. Impressões sobre a FLIP - 20/7/2007
02. O homem visto do alto - 23/3/2007
03. O cientista boêmio - 12/1/2007
04. E se refez a Praça Roosevelt em sete anos - 13/4/2007
05. Rafael Spregelburd e o novo teatro argentino - 11/5/2007


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Quimica na Abordagem do Cotidiano Volume 2 Modernaplus
Tito/canto
Modernaplus
(2010)



Enigmas do vampiro 389
Catherine Zarcate
Sm
(2007)



Livro Filosofia Para Além do Leviatã Crítica do Estado
István Mészáros
Boitempo
(2021)



Globalização e Competição
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Campus
(2010)



A Deriva dos Continentes
Samuel Murgel Branco
Moderna
(1992)



Livro - Turma da Monica - Ilha do Tesouro - Coleção Fantasia
Mauricio de Sousa
Girassol
(2015)



Deuses Americanos
Neil Gaiman
Conrad
(2011)



Livro Infantil Como Apavorar os Fantasmas?
Catherine Leblanc e Roland Garrigue
Vergara & Riba
(2013)



1808
Laurentino Gomes
Planeta
(2007)



Samantha Sweet executiva do Lar 483
Sophie Kinsella
Record
(2007)





busca | avançada
205 mil/dia
2,9 milhões/mês