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Sexta-feira, 17/7/2009
Digestivo nº 424

Julio Daio Borges

>>> A POLÊMICA EM TORNO DO FREE, DE CHRIS ANDERSON Quando foi anunciado, antes da crise, o livro de Chris Anderson parecia uma continuação lógica de The Long Tail, seu bem-sucedido predecessor. Mas, ao mesmo tempo, exagerava na possibilidade de, no compasso da evolução da internet, tudo se tornar gratuito, num futuro. E, então, passaríamos de uma "economia de escassez" para uma de "fartura"... Bem, a crise veio e ficou mais claro do que nunca que there's no free lunch e que, portanto, alguém sempre paga a conta. Mas não consta que Chris Anderson tenha reformulado sua teoria — como, por exemplo, Jim Collins reformulou a sua —, correndo o risco de retratar um mundo que acabou, como, na mesma internet, o da época da bolha. Assim sendo, Free não tem passado incólume pelas resenhas em 2009. Quem acompanha o Twitter de Chris Anderson, por exemplo, sabe que ele tem passado da glória à execração pública frequentemente. Sobrou até para o Long Tail, que, depois de consagrado, foi atacado duramente, como nunca antes... E, nas últimas semanas, o maior ataque veio de ninguém menos que Malcolm Gladwell, igualmente guru contemporâneo e autor de best-sellers como Outliers, Blink e The Tipping Point. Repercutiu até mais que a crítica da Economist, porque a de Gladwell foi publicada na New Yorker. E, surpreendentemente, não ficou só nisso: Seth Godin, guru da publicidade e do marketing on-line, veio em defesa de Anderson (e contra Gladwell). Enquanto Mark Cuban, bilionário investidor da internet, resolveu também dar seus pitacos... Mais recentemente ainda, surgiu a notícia de que Anderson teria usado trechos da Wikipedia na obra — sem citação da fonte... Enfim: culpado ou inocente, Free já é um dos livros do ano de 2009. E, talvez percebendo isso, Chris Anderson o disponibilizou, por um mês, de graça, na Web...
>>> Free (full book) by Chris Anderson
 
>>> JORGE DREXLER, NO BOURBON STREET, EM 2009 Às vezes lamentamos a perda da conexão com a América Latina, que tínhamos mais forte, aparentemente, nos anos 60 e 70, época de utopias, antes da globalização. Mas Jorge Drexler vem e percebemos que o cancioneiro latino-americano, pelo menos, ainda está nos nossos corações. Ou Jorge é tão carismático que retoma, sozinho, aquela ligação perdida, com suas interpretações... É possível. Tanto que, no Rio, para o mesmo show, foram prestigiá-lo Milton Nascimento e Zélia Duncan, entre outros. Em São Paulo, Jorge evocou, novamente, Caetano Veloso, com sua versão de "Sampa", em espanhol, dedicada a uruguaios perdidos na megalópole — mas o autor do blog Obra em Progresso não se dignou a aparecer... Nesta etapa da turnê, Jorge Drexler não se prende muito ao script — parece cansado dele —, preferindo, às vezes, dar chance à plateia, a fim de que ela peça suas músicas. Num dessas, alguém soltou "Billie Jean" e surpreendentemente colou. Jorge havia feito uma homenagem a Michael Jackson no México, então ainda se lembrou de entoar o refrão, em ritmo de milonga, dando um gostinho de sua releitura. Cara B e Cara C compareceram, quase inteiros, mas Drexler estava mais para o making-of, explicando seus efeitos sonoros, mostrando samples e revelando segredos dos músicos. Como a turnê se aproxima do final, Jorge Drexler toma a liberdade de desconstruí-la. Rende muito mais "ao vivo" do que no estúdio e mereceu, vale repetir, o Oscar pela trilha de Diários de Motocicleta (embora o Oscar quase nunca seja justo...). Que o Bourbon Street faça dele uma atração, anual, permanente, como John Pizzarelli em outros anos.
>>> Jorge Drexler
 
>>> DALVA E DITO, IDEALIZADO POR ALEX ATALA Alex Atala merece toda a consagração que vem recebendo nos últimos anos. Os elogios de Ferran Adrià, o melhor chef do mundo, e a inclusão do D.O.M., na lista dos melhores restaurantes do mundo (segundo a revista Restaurant), não são obras do acaso. São resultado de talento, pesquisa e realizações crescentes durante esta década dos anos 2000. O Dalva e Dito, portanto, só vem coroar o trabalho de Alex Atala em prol da cozinha brasileira, num espaço que, além da gastronomia, constrói uma atmosfera inteira de amor ao Brasil, desde a arquitetura (de Marcelo Rosenbaum) e o paisagismo (de Gilberto Elkis) até a música ambiente (de Nara Leão a Fernanda Takai), até as fotos de Pedro Martinelli e o grafite de Derlon Almeida (no salão de bar). As opções de entrada ("Creme de Palmito com ervas caipiras", "Salada de músculo de boi, feijão fradinho e ervilha torta" e "Cuscuz Paulista com camarões e salada"), bem como as de prato principal ("Sela de cordeiro" e "Assados preparados na rôtissoire", "com acompanhamentos caseiros"), e as de sobremesa ("Açaí com banana e guaraná", "Sorvete de tapioca e granolinha" e "Creme de chocolate com Priprioca") podem dar a falsa impressão de simplicidade, mas escondem técnicas de preparo, processamento e armazenamento de última geração, que podem, inclusive, ser conferidas na cozinha habil e elegantemente integrada ao salão principal. No meio da sofisticação do bairro dos Jardins, na esquina da Barão de Capanema com a Padre João Manuel, Alex Atala conseguiu inaugurar um refúgio, onde podemos retornar ao Brasil profundo, recriado segundo o rigor de um dos chefs mais promissores do mundo. Que Dalva, a primeira estrela a surgir, e Dito, o São Benedito (padroeiro dos cozinheiros), continuem levando Alex Atala sempre mais longe, junto com a nossa gastronomia, a nossa cultura e o nosso País.
>>> Dalva e Dito
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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