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Sexta-feira, 15/1/2010
Digestivo nº 449

Julio Daio Borges

>>> LITERATURA EM 2009 O grande fato "literário" de 2009 foi, justamente, um fato de aparência "não-literária": o desembarque do Kindle, o leitor da Amazon, em terras brasileiras, na sua versão global. Provocando, nas editoras brasileiras (e mesmo nas "não-brasileiras"), as reações mais diversas, o Kindle seguirá transformando o ambiente literário em 2010. Quase na contramão da estreia dos livros eletrônicos — e da sua natural ligação com obras de domínio público (via formato PDF) —, a Companhia das Letras anunciou seu acordo com a Penguin Books, cujas obras clássicas vai publicar, em traduções como sempre bem cuidadas, a partir de 2010. E por falar na editora de Luiz Schwarcz, 2009 ainda foi de Milton Hatoum, com A cidade ilhada, e de pockets como Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe, sob os cuidados de José Paulo Paes. Borges continuou brilhando, em reedições pela mesma editora: tanto no encontro consigo mesmo, na ficção; quanto no encontro com o leitor, num ensaio autobiográfico. E Jorge Amado, cujos relançamentos também seguiram em 2009, mereceu homenagem de Spacca, que adaptou Jubiabá para o formato graphic novel. Até Burckhardt, um dos mestres de Nietzsche, mereceu uma releitura em 2009. E por falar no filósofo: seu Wagner em Bayreuth mereceu reedição da Jorge Zahar; enquanto sua Genealogia da Moral saiu, ainda, pela Companhia de Bolso. Relemos, com enorme prazer, Otto Lara Resende destrinchando Vinicius de Moraes e Ivan Junqueira desvendando, como poucos, Otto Maria Carpeaux (Record). Na ala dos contemporâneos, Paula Dip ressurgiu, biografando Caio Fernando Abreu. Enquanto autores brasileiros do nosso tempo comentaram o famoso Decálogo do Perfeito Contista, de Horacio Quiroga. Mario Quintana foi agraciado com uma edição dos Cadernos de Literatura Brasileira. E a professora Walnice Nogueira Galvão reuniu, em livro, sua Euclidiana. 1984, de Orwell, foi revisitado até por Thomas Pynchon; e Milan Kundera percorreu a história do romance desde o Quixote. 2010 será o primeiro ano em que vamos misturar, efetivamente, nossas leituras em papel com nossas leituras eletrônicas. O que resultará então?
>>> Mais Literatura
 
>>> MÚSICA EM 2009 2009 abriu com o esperado show do Little Joy, o projeto de Rodrigo Amarante, do extinto Los Hermanos. Na sequência, João Gilberto voltou a causar polêmica com gravações pré-bossa nova, na casa de Chico Pereira, que tomaram conta da internet. Ainda no primeiro semestre, o Brasil assistiu a um dos melhores shows do ano (e certamente um dos melhores shows de rock a passar por aqui), o do Radiohead, na turnê de In Rainbows. Sean Lennon tocou-nos com um depoimento sofrido a respeito de seu pai, na biografia de Philip Norman. E o Clube da Esquina ganhou uma respeitável homenagem em livro, 35 anos depois. Ainda em junho, o Chikenfoot mereceu comentários, ao reunir membros do Van Halen e do Red Hot Chili Peppers, mais Joe Satriani. Já no segundo semestre... Marcos Sacramento confirmou a supremacia como o nosso principal intérprete, em Na Cabeça, o disco e o show. Jorge Drexler, o bardo uruguaio, fascinou, novamente, a plateia do Bourbon Street. Mas foi Michael Jackson quem ocupou todos os espaços, a partir de 25 de julho, com sua morte súbita e mal explicada. Céu, em setembro, lançou Vagarosa, o melhor disco de 2009, entre as gravações de todas as cantoras brasileiras em atividade. E por falar em novos talentos, Marcos Valle convidou só os melhores para o seu último DVD, Conecta. Ainda em setembro, Brad Mehldau deixou uma marca em quem o assistiu no Projeto Piano Forte. E Zélia Duncan ensaiou uma retomada, às boas, com Pelo Sabor do Gesto. Ricardo Alexandre quase fechou o ano com a melhor biografia de 2009: Nem vem que não tem: a vida e o veneno de Wilson Simonal (Globo). Enquanto Adriana Calcanhotto, Domenico Lancellotti, Moreno Veloso e Arnaldo Antunes, praticamente, encerraram o ano no Auditório Ibirapuera, com sugestões de novos caminhos para a música brasileira. Ainda em 2009, a Economist sugeriu que a pirataria vem diminuindo — mas será que isso significa alguma coisa em termos de criação? 2010 poderá nos dar a resposta...
>>> Mais Música
 
>>> CINEMA EM 2009 Também no mundo dos DVDs, blockbusters a partir de heróis das histórias em quadrinhos continuaram reinando como Batman, em O Cavaleiro das Trevas. Outros blockbusters de qualidade superaram sua versões originais, como Anjos e Demônios, que se revelou, surpreendentemente, um ótimo filme (mesmo para quem não gostou de O Código Da Vinci, nem embarcou na onda Dan Brown). Na outra ponta, Sean Penn continuou brilhando, como o melhor ator (e diretor?) de sua geração, em Milk, de Gus Van Sant, e Na Natureza Selvagem, sobre a bonita (e trágica) história de Christopher McCandless. Ainda Ron Howard trouxe, provavelmente, o melhor filme político, e sobre mídia, de 2009: Frost/Nixon, cheio das revelações de um ex-presidente, graças a um homem de televisão que resolveu arriscar tudo. No universo do documentário, Marisa Monte voltou às raízes, de anos, em O Mistério do Samba, nosso Buena Vista Social Club (sobre a Velha Guarda da Portela). Enquanto João Moreira Salles retomou um pouco da história de sua própria família, a partir da personagem Santiago, o mordomo. Em 2009, até o marido de Angelina Jolie emplacou tanto na seara dos blockbusters, ao lado de Cate Blanchett, em Benjamin Button (a partir de um conto de F. Scott Fitzgerald), quanto no experimentalismo dos Irmãos Cohen, que não resistiram em enquadrá-lo como um abobalhado professor de ginástica (em Queime depois de ler, ao lado de George Clooney). Clint Eastwood — mantendo a tradição — fez, novamente, o papel de si mesmo, em Gran Torino. E o livro de Jean-Dominique Bauby, em sua versão cinematográfica, foi, mais uma vez, celebrado em 2009. Saindo da França, em direção a outras cinematografias, uma grata surpresa foi Caramelo, de Nadine Labaki. E decepções foram: o aparentemente unânime Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles; e o superficial Estômago, desperdiçando a estreia solo de João Miguel. (Ainda Che, tão esperando com Benicio Del Toro, foi um fracasso retumbante.) Veremos se, em 2010, o cinema sai da encruzilhada entre as crianças e os adolescentes para ser, como na época da sétima arte, novamente adulto.
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