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>>> Arranhando As Paredes de Alice Clayton pela Fisicalbook
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Segunda-feira, 9/6/2014
Música
Julio Daio Borges




Digestivo nº 501 >>> The Devil Put Dinosaurs Here, do Alice in Chains
O grunge foi um dos últimos movimentos do rock, ou um dos últimos reconhecidos como tal. Com tantas bandas voltando, de todas as eras geológicas, seria natural que os protagonistas do grunge também se dessem uma chance. O Nirvana, com a morte de Kurt Cobain, não teria como. Houve uma reunião, de Krist Novoselic e Dave Grohl, com Paul McCartney, mas valeu muito mais pelo tom inusitado, não teve nenhum caráter de retorno. O Pearl Jam nunca parou. Ainda que Eddie Vedder "solo" tenha se mostrado mais interessante, nos últimos anos. O Soundgarden voltou, mas não com a mesma inspiração. Chris Cornell, o melhor cantor do grunge, deveria continuar investindo em sua carreira solo. Sobrou o Alice in Chains. Com a morte de Layne Staley (2002), parecia uma heresia e, em princípio, um erro, mas, depois de um álbum hesitante, Black Gives Way to Blue (2009), e da morte de Mike Starr, o baixista, o Alice in Chains, liderado por Jerry Cantrell, acertou a mão com The Devil Put Dinosaurs Here (2013). O disco é inexplicavelmente equilibrado. Mesmo sem Staley, sua marca está nos vocais, afinal Cantrell sempre lhe fez coro. Mas, além disso, o tom soturno, o ritmo marcado, as guitarras lancinantes continuam presentes, e interessantes. Ao contrário de vários comebacks, não soa como uma mera reciclagem de material, o álbum tem identidade própria, e acrescenta à discografia da banda. Cantrell assina, como não poderia deixar de ser, as letras, e elas, igualmente, mantêm o nível. Abre com o refrão "hollow as a mountain", ou "oco como uma montanha". Emenda com "Pretty Done": "Agora você teve o que queria/ Não deixe escapar". Na terceira, "Stone", Cantrell provoca: "Eu sei que posso estar enganado, mas não sou seu guia turístico" (grifo nosso). Na balada radiofônica "Stone", o tema é a esquizofrenia. E a faixa-título recria as alucinações dos primeiros registros em estúdio do Alice in Chains. O "clima" não melhora com "Lab Monkey", o macaco de laboratório. A esperança só retorna a partir de "Low Ceiling" ― sobre uma "roupa" que não serve mais, ou uma vida que necessita de reformulação. Ganha-se, novamente, velocidade com "Breath On A Window", uma das melhores ― uma "road song" (se é que podemos parafrasear o termo "road movie"): "Eu teria deixado você ir embora, mas você está sempre pelo caminho". "Scalpel" é apenas outro hit. "Phantom Limb" desperta quem achava que a sequência havia terminado. "Hung On A Hook", a última balada, fecha, com "Choke", sugestivamente: "Você deve saber que estou acostumado a despedidas". Com tantas outras atribuições, os solos de Cantrell andam bastante econômicos, mas sempre "na medida". Fora que o virtuosismo nunca foi o forte da geração Seattle. As performances ao vivo, encontráveis no YouTube, mostram que a energia continua lá. Ainda que os cabelos não continuem os mesmos... Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Um herói do grunge. E "seu" Alice in Chains, redivivo, merece respeito. [Comente esta Nota]
>>> The Devil Put Dinosaurs Here
 

Digestivo nº 499 >>> Paco de Lucía (1947-2014)
Paco de Lucía foi o maior violonista da nossa época. Foi um gênio do violão e é notável que não tenha recebido formação clássica. Seu virtuosismo alçou-o de um ritmo popular da Espanha, o flamenco, aos principais templos da música no mundo. No limite, era um músico popular, mas foi respeitado por instrumentistas de todos os credos e origens, estudado por musicólogos de todas as línguas e reverenciado por eruditos em música. Paco de Lucía foi unânime. Um ídolo entre roqueiros, e guitarristas, tocou, de igual para igual, com músicos de jazz e produziu a sua própria interpretação "flamenca" do Concerto de Aranjuez, que faz parte do cânone para as seis cordas. Sem contar suas releituras de Manuel de Falla. Treinado pelo pai, como Mozart, percebeu muito cedo que não havia limite, em termos de técnica, para o que poderia tocar. O pai, igualmente músico de flamenco, retirou o filho prodígio da escola, porque não conseguia pagar, e mudou a família de Algeciras para Madrid, quando Paco contava 12 anos. Tocando com o irmão violonista, que adotou a alcunha de Ramón de Algeciras, Paco (Lucía era sua mãe, portuguesa) esgotou o cancioneiro hispano-americano já nos anos 60. Ia com seus dedos do México a Cuba, passando pela Argentina e, sim, pelo Brasil. Acelerou o "Tico-Tico", celebrizado por Carmen Miranda, de tal sorte que Zequinha de Abreu não o reconheceria. Venceu, nos EUA, e excursionou, sozinho, com seu violão, sendo um pioneiro em turnês, antes que houvesse qualquer estrutura para isso. Como descreveu um contemporâneo seu, "encantava quem não sabia de música" e "enlouquecia quem sabia": "Paco tinha tudo". Não contente em ser apenas intérprete, aventurou-se pelo reino da composição. E, igualmente, triunfou. Os anos 70 marcam sua independência como artista solo, tornando-se, mais que um embaixador, um revolucionário do flamenco, a exemplo do que fez Piazzolla pelo tango. Basta ouvir "Entre dos aguas" (1973) e "Rio Ancho" (1976) para se convencer de que Paco, como compositor, não deixava nada a dever aos mestres criadores do flamenco. Os anos 80 marcam a consagração planetária, quando se aproximou de John McLaughlin, e, com Al Di Meola, gravaram o multiplatinado Friday Night in San Francisco (1981), um clássico absoluto entre rockers, "jazzistas" e violonistas clássicos. "Era um circo", assim definiu Paco os shows daquela época. Ignorante em matéria de escalas, aprendeu a improvisar nelas com as dicas de McLaughlin e Meola. Paco de Lucía nunca havia improvisado dessa forma, porque nunca havia precisado. Reconhecia os acordes só de olhar e as melodias, só de ouvir. O flamenco, para ele, era como a própria respiração. Tão logo cansou de vender milhões de discos, lançou-se num desafio técnico de volta as raízes, o insuperável Siroco (1987), fora o supracitado Concierto de Aranjuez (1991). Ficou marcado pelo vocalista Camarón de la Isla, seu acompanhante que faleceu precocemente, e chegou a declarar que sua grande ambição era... cantar. Voltou a se reunir em família com seu Sexteto: em 1981, com Pepe de Lucía; e, em 1997, com Ramón de Algeciras. Casou-se duas vezes e deixou cinco filhos. Quando se cansava de "Paco de Lucía", Francisco Gustavo Sánchez Gomes refugiava-se no México, onde mantinha uma residência e pescava. Teve um ataque do coração na Playa del Carmen, em férias com a família. Seu espírito, contudo, foi eternizado em música. Grande música. [Comente esta Nota]
>>> Paco de Lucía
 



Digestivo nº 498 >>> The Zen of Bennett, com Tony Bennett
Existem artistas acima do bem e do mal? Se formos lembrar do Procure Saber, não. Mas, mesmo assim, Tony Bennett parece ter atingido essa categoria. Bennett mereceu a admiração de Frank Sinatra, gravou com Count Basie, forjou obras-primas com Bill Evans. E Tony Bennett sobreviveu para contar a história. É uma lenda viva. The Zen of Bennett retrata o artista do alto de seus 85 anos. Lúcido, sábio, produtivo. Como um mestre oral, destila pensamentos ao falar de simples ternos até lembranças de Ella Fitzgerald em família. O name-dropping, no seu caso, não é uma estratégia de marketing pessoal ― é a sua vida. Como um dos grandes nomes do jazz por décadas, é natural que tenha memórias com o who's who da música norte-americana. O "zen" do título, obviamente, sugere uma "filosofia de vida", mas o documentário não trata especificamente disso. Tony Bennett solta pílulas de sabedoria entre os duetos que grava com "vocalistas" de hoje. Para além da música, é interessante, por exemplo, a sua preocupação em salvar Amy Winehouse do vício. Eles se encontram; ele diz que vai falar com ela; mas Amy, como sabemos, não teve um final feliz. É interessante, também, como Bennett se deixa impressionar pelo estrelismo de John Mayer. Danny Bennett, seu filho, idealizador e produtor do filme, chega a sugerir que Mayer poderia "agregar valor" a Tony Bennett. Mayer acaba ficando mais por sua beleza e pela fama de conquistador inveterado... Lady Gaga, quem diria, surge desprovida de toda a parafernália. É um verdadeiro teste para ela. Norah Jones é simplória, quase uma fã, poderia solicitar um autógrafo. Nem parece a filha de Ravi Shankar. Andrea Bocelli requer mise-en-scène. Ambiciona domar o sotaque italiano. Pede ajuda. Já Willie Nelson entra mudo e sai calado. (Nem está no cast.) Aretha Franklin vale por sua trajetória. É preferível assisti-la, por exemplo, em Os Irmãos Cara-de-Pau. De Michael Bublé, quase nem lembramos... O fato é que ninguém faz feio perto de Tony Bennett. E o próprio não está ali para julgar. Vivido, não espera se deparar com nenhum grande talento. Ao mesmo tempo, respeita, escuta, é paciente e ensina o que aprendeu. No fundo, talvez pressinta que a grande era do disco não tem retorno. "Disco" é força de expressão. Poderia ser a "era dos grandes estúdios". Ou "das grandes gravadoras". Quem sabe, Bennett não envia um recado para a nova leva dos que se produzem, se divulgam e se espalham... Cita Duke Ellington. Numa conversa com um executivo da indústria, Ellington teria dito que seu trabalho era gravar música de qualidade. Vender essa música não era seu trabalho. Tony Bennett, quem diria, é um sobrevivente desse momento. Quase outra era geológica. Bennett ainda se deixa registrar como artista plástico em casa, em Nova York. Sua mente inquieta jamais pára. (Uma esposa, décadas mais jovem, não parece muito bem humorada...) Depois de Tony, é Danny, the producer, quem mais dá o ar da graça. Seu pai é um mito e, para lidar com isso, Danny usa e abusa do humor. Perante uma das maiores vozes desde o pós-guerra, simplesmente não tem como se levar a sério. Tony Bennett, mais que um músico, é uma dobra no tempo. [Comente esta Nota]
>>> The Zen of Bennett
 

Digestivo nº 496 >>> Procure Saber e o ocaso da MPB
Reza a lenda que o envolvimento de Caetano Veloso com Paula Lavigne começou no aniversário dele de 40 anos. Ela tinha 13 e sua virgindade foi, supostamente, um presente para Caetano. Apesar do idílio, nos anos 90 Lavigne se orgulhava de haver multiplicado o patrimônio do baiano por dez. Gostava de dizer também que, quando o pneu do carro furava, era ela quem trocava, enquanto ele ficava tocando violão... Assim como Yoko Ono se decidiu pela santificação de John Lennon ― com a qual o filho Sean não concordou ―, Paula decidiu proteger o artista Caetano, assumindo seu lado empresarial. Tal arranjo permitiu que Caetano tivesse seus arroubos de polemista, queixando-se do jornalismo e da falta de cobertura de seus produtos, enquanto Lavigne o alçava à cerimônia do Oscar, e Fina Estampa (1994) reverberava até num filme de Pedro Almodóvar... O casamento acabou, e a última fase "roqueira" de Caetano, musicalmente mais "despojada", reflete esse momento. A década passada, entretanto, coincide com a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, quando a MPB tomou de assalto mecanismos como a Lei Rouanet, culminando com abusos, como o do "blog de poesia" de Maria Bethânia, e promovendo a ascensão de figuras como Pablo Capilé ao primeiro escalão... Tratar a cultura como política, fomentando lobbies e acumulando poder de verdade não foi, contudo, uma invenção de Capilé. Ainda que não tenham sido acusados de fazer campanha política ― para depois nomear secretários de cultura, e aprovar projetos de interesse ―, desde a década de 80 Caetano e Gil são conhecidos por apadrinhar novos talentos ― por exemplo, na música ―, enquanto se mantêm na "vanguarda", geração após geração. Malcomparando com caciques da política brasileira, como Sarney e ACM ― que se instalaram nas estruturas de poder desde a época da ditadura ―, Caetano, Gil, Roberto Carlos e mesmo Chico Buarque se beneficiaram (uns mais, outros menos) do vácuo cultural de 64 até a redemocratização, e depois. Talvez seja ocioso procurar a razão de ser de um grupo como o Procure Saber. Dizem que a raiz da perseguição a biografias "não autorizadas" estaria na reação de Roberto Carlos ao livro de Paulo César de Araújo, onde o biógrafo registra o acidente que levou o cantor a fazer uso de uma perna mecânica. Não contente em retirar o livro de circulação, estocando os exemplares em sua casa, o "Rei" teria convencido o estado-maior da MPB a impedir novas "invasões de privacidade", submetendo biografias à pré-aprovação, controlando, enfim, o que poderia se publicar ou não. Em uma palavra: censura. Paula Lavigne entrou acreditando que, além de escritores, outros agentes do mercado editorial lucravam, indevidamente, em cima de biografados ― e o circo se armou. Tirando a reação exemplar de Benjamin Moser, o texto de Caetano passou como "mais uma polêmica" do velho baiano. Já Chico Buarque, que nunca fala nada, deveria, mais uma vez, ter ficado calado. Começou apoiando as filhas de Garrincha, nas disputas com sua própria editora (a Companhia das Letras); passou ao ataque de Paulo César de Araújo, acusando-o de nunca havê-lo entrevistado; e terminou por associar a Última Hora ― de Samuel Wainer ― à lista de apoiadores do regime militar. Luiz Schwarcz, que sofreu o processo de Estrela Solitária na pele, respondeu ― mas foi generoso com o "amigo" Chico. Já Paulo César de Araújo, não contente em passar a data em que colheu o depoimento do compositor, divulgou uma foto e um vídeo, corrigindo o artista com declarações de seu próprio site. Enquanto José Nêumanne, no Estadão, lavou a honra da Última Hora. Muita gente boa concorda que o último disco relevante de Caetano foi Estrangeiro, há 25 anos. Gil talvez tenha tido seu último momento de brilho com o Acústico, há quase 20 anos. E Chico Buarque andou pela última vez "fértil" ― para usar uma palavra de Tom Jobim ― em Paratodos, duas décadas no ano passado. Se já não falam em nome da música há muitos anos, não deveriam tentar falar em nome da cultura, nem, muito menos, da História. Na tentativa vã de preservar sua vida "privada", mancharam suas biografias, no sentido mais amplo ― e os biógrafos do futuro não serão tão condescendentes quanto nós, seus contemporâneos. [Comente esta Nota]
>>> Procure Saber
 



Digestivo nº 495 >>> Heavy Metal Music, do Newsted
Jason Newsted teve a difícil missão de preencher a vaga de Cliff Burton, quando este faleceu tragicamente, depois de cair pela janela do ônibus da banda, durante uma turnê. O último álbum de estúdio do Metallica havia sido o clássico Master of Puppets (1986). Talvez para evitar uma comparação entre os baixistas logo de cara, o grupo preferiu um EP de covers, o Garage Days (1987), que inesperadamente se converteu em outro clássico da banda. Jason, originalmente do Flotsam and Jetsam, havia passado no teste. Considerando que o próximo álbum de estúdio, ...And Justice for All (1988), também se converteria num clássico, o futuro parecia sorrir para Jason Newsted. Mas os anos 90, segundo a profecia de Joey Ramone, seriam "o começo de fim do Metallica". O lendário vocalista dos Ramones afirmaria isso ao brasileiro André Barcinski, no livro Barulho (1992), enquanto James, Lars, Kirk e Jason viviam o auge da consagração do Black Album. Dito e feito: o conjunto nunca mais gravaria nada próximo de Metallica (1991). E em algum momento entre o auge e a queda ― incluindo a polêmica contra o Napster, na virada do milênio ―, Jason Newsted teve o bom senso de abandonar o navio, terminando substituido por Robert Trujillo, do Suicidal Tendencies. (Que, por sua vez, nunca se integrou totalmente ao Metallica ― parecendo sempre um baixista emprestado... do Suicidal Tendencies. Mas essa é outra história.) Jason ainda se aproximaria do Sepultura no seu auge, também na década de 90, comparecendo ao casamento de Ig(g)or Cavalera, em São Paulo, e provavelmente fazendo a "ponte" entre Andreas Kisser e o resto do Metallica, quando James Hetfield se acidentou e precisaram de um guitarrista urgente. O fato é que ninguém mais tinha ouvido falar de Jason Newsted ― fora uma participação ou outra na comemoração de 30 anos do Metallica ― até Heavy Metal Music (2013). E quem daria bola para um disco solo do ex-baixista de uma banda decadente, que só se mostra "em forma" para executar velhos hits? A verdade é que Heavy Metal Music é um grande disco ― uma autêntica celebração do rock pesado dos anos 90 ―, e o Newsted, a banda de Jason, merece respeito. Ainda mais no meio de tantos revivals que não parecem empolgar nem os "seguidores" mais fiéis. Incluindo, obviamente, reencontros históricos, como o de Ig(g)or e Max, no Cavalera Conspiracy. A impressão que se tem é de que mesmo os músicos que permaneceram "na ativa" perderam a velha "pegada". E as novas gravações não tem nada a acrescentar. Na realidade, diluem o que havia de bom. E como soa o Newsted? Não necessariamente como o Metallica, como era de se esperar. Primeiro que Jason canta. Sim, ele canta. Mas nada a ver com James Hetfield; sua inspiração parece ser mais Lemmy Kilmister, do Motörhead, com o baixo distorcido e acelerado a puxar o resto do comboio. E, por incrível que pareça, Dave Mustaine, ex-renegado do Metallica, é também uma inspiração para Jason. "By the teeth of my skin", um simples verso, evoca Countdown to Extinction (1992), um hit radiofônico, e musicalmente Rust in Peace (1990), outro álbum clássico ― mas do Megadeth. Claro que alguns solos de guitarra homenageiam o timbre de Kirk Hammet; muitas "paradas" evocam o Metallica clássico (da época de Jason e de antes); e as faixas mais lentas, e arrastadas, de Heavy Metal Music pagam tributo ao formato consagrado em ...And Justice... e Black Album. Ocorre que os méritos do Newsted, apesar disso, persistem. Jason se revela um letrista de mão cheia. Ao contrário de uma estrela do rock que poderia estar aposentada, guarda uma visão de mundo bastante sombria, um inconformismo saudável (dentro do gênero), não apostando em "imagens" gastas e conhecidas. Nos melhores momentos, acena para as "filosofias de vida" de um Max Cavalera. Instrumentalmente, ainda, as sessões rítmicas são assaz trabalhadas ― sobretudo para alguém que já conheceu o mainstream. O Newsted, no seu esforço sonoro, brilha como uma banda iniciante ― não se poupando em estúdio e não facilitando as execuções durante a turnê. Ao contrário de seus contemporâneos, em resumo, Jason Newsted deixa registrado que ainda tem algo a acrescentar ao gênero. E Heavy Metal Music é o disco que toda banda dos anos 90 adoraria gravar e não conseguiu. [Comente esta Nota]
>>> Heavy Metal Music
 
Julio Daio Borges
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