Sermão ao cadáver de Amy | João Pereira Coutinho

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Segunda-feira, 22/8/2011
Sermão ao cadáver de Amy
João Pereira Coutinho
+ de 12600 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Morreu Amy Winehouse e os moralistas de serviço já começaram a aparecer. Como abutres que são.

Não há artigo, reportagem ou mero obituário que não fale de Winehouse com condescendência e piedade. Alguns, com tom professoral, falam dos riscos do álcool e da droga e dão o salto lógico, ou ilógico, para certas políticas públicas.

Amy Winehouse é, consoante o gosto, um argumento a favor da criminalização das drogas; ou, então, um argumento a favor de uma legalização controlada, com o drogado a ser visto como doente e encaminhado para a clínica respetiva.

O sermão é hipócrita e, além disso, abusivo.

Começa por ser hipócrita porque este tom de lamentação e responsabilidade não existia quando Amy Winehouse estava viva e, digamos, ativa.

Pelo contrário: quanto mais decadente, melhor; quanto mais drogada, melhor; quanto mais alcoolizada, melhor. Não havia jornal ou televisão que, confrontado com as imagens conhecidas de Winehouse em versão zoombie, não derramasse admiração pela "rebeldia" de Amy, disposta a viver até o limite.

Amy não era, como se lê agora, uma pobre alma afogada em drogas e bebida. Era alguém que criava as suas próprias regras, mostrando o dedo, ou coisa pior, para as decadentes instituições burguesas que a tentavam "civilizar".

E quando o pai da cantora veio a público implorar para que parassem de comprar os seus discos ― raciocínio do homem: era o excesso de dinheiro que alimentava o excesso de vícios ― toda a gente riu e o circo seguiu em frente. Os moralistas de hoje são os mesmos que riram do moralista de ontem.

Mas o tom é abusivo porque questiono, sinceramente, se deve a sociedade impor limites à autodestruição de um ser humano. A pergunta é velha e John Stuart Mill, um dos grandes filósofos liberais do século XIX, respondeu a ela de forma inultrapassável: se não há dano para terceiros, o indivíduo deve ser soberano nas suas ações e na consequência das suas ações.

Bem dito. Mas não é preciso perder tempo com filosofias. Melhor ler as letras das canções de Amy Winehouse, onde está todo um programa: uma autodestruição consciente, que não tolera paternalismos de qualquer espécie.

O tema "Rehab", aliás, pode ser musicalmente nulo (opinião pessoal) mas é de uma honestidade libertária que chega a ser tocante: reabilitação para o vício? Não, não e não, diz ela. Três vezes não.

Respeito a atitude. E, relembrando um velho livro de Theodore Dalrymple sobre a natureza da adição ("Junk Medicine: Doctors, Lies and the Addiction Bureaucracy"), começa a ser hora de olhar para o consumidor de drogas como um agente autônomo, que optou autonomamente pelo seu vício particular ― e, em muitos casos, pela sua destruição particular.

As drogas não se "apanham", como se apanha uma gripe; não se "pegam", como se pega um doença venérea; e não são o resultado de uma mutação maligna das células, como uma doença oncológica. As drogas não "acontecem"; escolhem-se.

O drogado pode ficar doente; mas ele não é um doente ― é um agente moral.

Mais: como explica Dalrymple, que durante décadas foi psiquiatra do sistema prisional britânico, o uso de drogas implica um voluntarismo e uma disciplina que são a própria definição de autonomia pessoal. E, muitas vezes, o uso de drogas é o pretexto para que vidas sem rumo possam encontrar um. Por mais autodestrutivo que ele seja.

Moralizar o cadáver de Amy Winehouse? Não contem comigo, abutres.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo. (Leia também a Entrevista com João Pereira Coutinho.)


João Pereira Coutinho
Londres, 22/8/2011
Quem leu este, também leu esse(s):
01. Os filmes de Frederico Füllgraf de Manoel de Andrade
02. Novas leis de Murphy de Sérgio Augusto


Mais João Pereira Coutinho
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
14/9/2011
09h58min
Perfeito. O argumento e as drogas, para quem as quer ou precisa. Destruição de um entre bilhões de seres é pouco. A guerra acaba com milhares todos os dias, e outros se acabam com a fome. Portanto, uma só, coitadinha, não vai fazer falta a não ser para os seus fãs, durante um tempo. Depois tudo é esquecido. Concordo com a argumentação. E mais, com a moralização do setor, fazendo a legislação vitimar de vez os "viciados" com a regularização, pagamento de impostos (como o cigarro e as outras drogas atualmente "lícitas") e permitir o usuário "plantar e colher" a sua maconha de todos os dias. Acabou a polícia atrás de traficantes e a consequente perda da sua influência na política e outros envolvidos (não precisamos enumerar) e malefício do seu contágio. Problema resolvido. Parabéns pelo artigo. Abraços!
[Leia outros Comentários de Cilas Medi]
16/9/2011
09h36min
Quando um usuário de crack, de olhos virados e arma na mão, agredir sua família, prezado João P. Coutinho, volte e diga se o discurso anti-drogas é somente uma questão moralizante. Agora, - já comento antes que venha resposta besta - sei que você disse as belas palavras sobre "não havendo danos a terceiros". Mas, caro escritor, no papel isso é lindo e funciona, mas, na prática de nossas cidades, a coisa é mais tenebrosa. Tudo bem, você está em Londres. Aí, droga é outra realidade. Aqui (droga!) um pouco de discurso "moralizante" pode ser uma questão de sobrevivência da sociedade. Ah, claro, resta dizer que, para mim, diferente do que muitos jornalistas pensam, "sociedade" inclui também os mais pobres. Vem aqui numa favela de Belo Horizonte pra dizer a um moleque de treze anos que ele pode usar drogas À vontade desde que não roube ninguém para tanto. Vem aqui, na Savassi, dizer a um playboy que ele pode cheirar cocaína à vontade, desde que não atropele ninguém na volta. Abraço, Cesar
[Leia outros Comentários de Cesar]
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