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Sexta-feira, 19/2/2010
Digestivo nº 454

Julio Daio Borges

>>> EIKE BATISTA NO PROGRAMA DE CHARLIE ROSE Quem lê sobre Eike Batista nos jornais e nas revistas, anunciando que vai ser tornar "o homem mais rico do mundo", pensa que ele está de gozação. Mas não foi o que pareceu a quem o assistiu no programa de Charlie Rose — quando, simplesmente, isso ficou óbvio até para o apresentador. Com 100 bilhões de dólares em dez anos, Eike, naturalmente, será o homem mais rico do globo. Ele não quis confirmar, preferiu dizer que está "servindo a seu país"... Depois de um presidente que mal fala o português (dizem que "de propósito"), foi, no mínimo, surpreendente encontrar um brasileiro que se desembaraça tão bem em inglês. Eike Batista parecia um native speaker fazendo piadas, respondendo instintivamente e ganhando a intimidade de um entrevistador cuja atitude mais o aproxima de um Larry King (do que de um David Letterman ou Jay Leno). Não seria estranho se o "inglês perfeito" fizesse parte de uma estratégia para conquistar, pela mídia, a elite global. Porque Eike Batista não falava, apenas, como "o homem mais rico do Brasil", falava como um empreendedor globalizado — uma postura diferente no que se costumava chamar de "empresariado"... Fazendo muitas deferências a seu pai (que o ensinou a "pensar grande") e à sua mãe (que lhe ensinou "disciplina"), Eike praticamente refez sua trajetória desde a época de trader de commodities, passando pelas minas de ouro (inclusive, recapitulando problemas na Rússia e na Grécia) e desembarcando, mais recentemente, nos poços de petróleo do Brasil (100% de acerto, até agora, nas perfurações). Crê que o seu legado será deixar, ao País, uma infraestrutura de primeiro mundo. Charlie Rose lembrou, obviamente, do megaporto do Rio, da reconstrução do Hotel Glória e da vontade, quase obsessiva, de equiparar a Cidade Maravilhosa, novamente, a São Paulo. Eike sorriu, inclusive quando se falou em "Luma", e, depois de ser campeão mundial num esporte em que simplesmente resolveu competir, ainda não pensa em se candidatar a nenhum cargo político, mas quer ser o maior filantropo do mundo (foram devidamente evocados Bill Gates e Warren Buffett). Charlie Rose, seduzido como poucas vezes em seu programa, aproveitou para consultar o "oráculo": Estados Unidos? "Perderam muito tempo com produtos financeiros e se descuidaram das indústrias de base". América Latina? "Só Brasil, Chile e Colômbia; a Argentina se rendeu ao populismo, como quase todos os outros; Uruguai e Paraguai estão fora do meu radar". China? "Ainda vai produzir metade do PIB mundial; mas é para os chineses — para os orientais; não é para nós". Brasil? "Em 2000, eu decidi que arrumaria o meu país para os meus filhos...". Se o B dos BRICs — e da capa da Economist — precisava de um bilionário, com desejo de ser o nš 1, Eike Batista é "o cara".
>>> Brazilian Businessman Eike Batista
 
>>> O TAL BAILE DO SIMONAL, EM DVD Conforme previsto, tanto o documentário Ninguém sabe o duro que dei (de Cláudio Manoel) quanto a biografia Nem vem que não tem (de Ricardo Alexandre) estão promovendo, desde o ano passado, um revival de Wilson Simonal. Evidentemente, o "ano Simonal" coincidiu com uma entressafra nas carreiras de seus filhos, Max de Castro e Wilson Simoninha, que vêm orquestrando iniciativas como este Baile do Simonal (agora em DVD). O ocaso da gravadora Trama — que tentou lançá-los nacionalmente, na década dos 2000 — permitiu que Max e Simoninha saíssem do guarda-chuva de João Marcelo Bôscoli e André Szajman e assumissem um projeto com maior identidade. O Baile do Simonal atende à necessidade de "releitura" do repertório de Wilson Simonal, que, além de ter ficado "fora de catálogo" na era do CD, acabou desconhecido pelas novas gerações. É chocante observar — no show que deu origem a este DVD — que maioria dos artistas, mesmo os veteranos, têm de recorrer ao teleprompter, uma vez que as letras caíram no oblívio, ainda que as melodias sejam reconhecíveis... Por ser uma iniciativa da gravadora EMI, duas ausências, no mínimo, são notáveis: Jorge Ben Jor (mesmo que, segundo o livro de Alexandre, tenha virado as costas para Simonal nos anos 90); e Marcos Sacramento (o único que poderia reproduzir, fielmente, o swing original — porque os mais velhos não têm voz e os mais novos, simplesmente, não sabem como...). Lulu Santos abre com uma gravação, em estúdio, de "Zazueira". Parece OK, mas melhor é o seu depoimento, articulado, no making of. Seu Jorge não parece sóbrio em "País Tropical" e, portanto, não acrescenta nada ao clássico. Samuel Rosa está, igualmente, OK, com "Carango", e, ainda, Fernanda Abreu, com "A Tonga da Mironga do Kabuletê". Max de Castro deveria ter evitado "Meu Limão, Meu Limoeiro", que soa quase afônica na comparação. Diogo Nogueira, por seu lado, surpreende em "Está Chegando a Hora". Roberto Frejat vence pela simplicidade, na radiofônica "Vesti Azul". E Maria Rita alcança um dos pontos altos com "Que Maravilha" (embora continue não sabendo se vestir, como diria Paulo Francis). Os Paralamas soam dispensáveis, apesar do esforço no gogó, assim como Sandrá de Sá. A Orquestra Imperial ataca de "clown" e Ed Motta — que posa sempre de connaisseur — quase não interage com a plateia para não se perder na letra (boba) de "Lobo Bobo". Caetano Veloso, pós-separação de Paula Lavigne, surge inacreditavelmente humilde, para cantar a sua "Remelexo". O resto não merece comentário. Se o resultado do Baile é mais de "baixos" que de "altos" — principalmente se formos comparar com as versões originais —, o making of talvez justifique a aquisição do DVD, pelos depoimentos nos ensaios. Simonal termina, novamente, injustiçado: pela decadência das "novas" vozes da música brasileira (que não o conheceram e que, desgraçadamente, não puderam ser influenciadas por ele).
>>> O Baile do Simonal
 
>>> HAGAKURE, O LIVRO DO SAMURAI Hagakure, o chamado Livro do Samurai, uma compilação de Yamamoto Tsunetomo, com organização de William Scott Wilson, terminou associado à Arte da Guerra (pela mesma editora Conrad). Talvez porque a "sabedoria" tenha mais apelo, hoje, quando associada ao mundo dos negócios. Toda arte é inútil, como gostava de divulgar Oscar Wilde, mas, num País como o nosso, fica cada vez mais difícil justificar a aquisição de um livro completamente inútil. Hagakure não é "estruturado" como A Arte da Guerra. Não tem um "objetivo" claro; é resultado de uma coleção de máximas, compiladas a partir da oralidade. Assim, há muita repetição e, por vezes, uma anedota não nos diz nada, como se não fizesse mesmo sentido. Um dos "mantras" — se é que podemos abusar da linguagem deste modo — se refere à necessidade do samurai de se preparar, diariamente, para a morte. Como na filosofia ocidental, "aprender a morrer" talvez seja o supremo aprendizado. Ao contrário daquele best-seller sobre o "monge", o "executivo", em Hagakure, pode ser comparado ao guerreiro — e fica mais fácil entender os "conselhos" dessa forma. O "protagonista" de Hagakure — num outro esforço de aproximação — tem grande respeito pela servidão, pela devoção a um mestre, mas soa violento, aos nossos ouvidos, pregando, inclusive, a prática da decapitação. O guerreiro e seus hábitos contrastam com frases de grande beleza, como: "É essencial [em termos de propósito e disciplina] tornar a mente pura e serena". Para aterrissar, novamente, no solo: "Enfrente a situação". Ou contrariando — para a surpresa dos executivos — um valor quase inestimável: "Dinheiro é algo que podemos pegar emprestado, mas um bom homem não é fácil de se encontrar". Para os bem-sucedidos: "Durante épocas de felicidade, o orgulho e a extravagância são perigosos". E para os não tão bem-sucedidos: "Ter coragem é cerrar os dentes e avançar, independentemente da situação". E, finalmente, sob a influência do zen-budismo: "A coisa mais importante de sua vida é o objetivo que você persegue no presente momento". Livros como Hagakure, no fim das contas, não nos trazem respostas prontas, mas reforçam valores, quando surgem as dúvidas e as questões...
>>> Hagakure
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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