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Sexta-feira, 2/9/2005
Isso, aquilo e aquilo outro

Julio Daio Borges




Digestivo nº 242 >>> Adivinhe quem vem para rezar. O título sugere uma peça religiosa. Sugere, mas a sugestão não confere. Trata-se de uma peça psicanalítica. Psicanalítica no melhor sentido. No sentido menos clichê do termo, pois não fica discutindo Freud (como ainda é moda), mas coloca as relações em discussão. A princípio, parece aquela velha fórmula do teatro atual: dois personagens numa situação-limite, o estopim e a catarse. (Dá até pra imaginar a resenha padrão: “Dois personagens em conflito; duas vidas em jogo; um encontro; uma mudança de rumo...”.) Existe, porém, uma diferença básica: Paulo Autran. O texto de Dib Carneiro Neto é inteligente, a interpretação de Claudio Fontana é bem trabalhada, mas Paulo Autran é a razão de ser do espetáculo. Apesar da competência dos demais, fica difícil imaginar Adivinhe quem vem para rezar sem Autran. Entra em cena um Fontana afobado, nervoso, com o celular na mão falando – e não apenas porque seu personagem exija. Já Autran pára a chuva e as trovoadas (não só cenicamente), mobiliza os olhares desde que surge por trás da cortina, continua com seus passos, silencia a platéia com a sua voz (e com o seu tom de voz). Claro, é lugar-comum incensar os monstros sagrados do teatro brasileiro (até “monstros sagrados”, a expressão...). E é quase obrigatório atentar para as novas gerações. Acontece que Paulo Autran ainda tem muito a ensinar... Enfim, a peça gira em torno da relação pai-filho e é, felizmente, pouco convencional; abordando temas-tabu entre homens como, por exemplo, a traição feminina... E paira até um certo ar de Closer; no sentido de se jogar verdades na cara do expectador – mas isso se faz de maneira elegante e pouco lembra o filme de Mike Nichols e suas imitações ainda mais sem classe. O resumo da ópera é que Adivinhe quem vem para rezar vale o ingresso. O resto é discutível. Fiquemos com esse bom momento do teatro de agora.
>>> Adivinhe quem vem para rezar - Teatro Procópio Ferreira - Rua Augusta, nº 2823 - (11) 3083-4475
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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