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Segunda-feira, 26/9/2005
A verdade cristalina e as bolas de cristal

Julio Daio Borges




Digestivo nº 246 >>> Richard Dawkins é aquele sujeito apocalíptico que apareceu em algumas revistas combatendo, como ninguém, a religião. Pelo menos, foi assim que o divulgaram para o lançamento, no Brasil, de O Capelão do Diabo (Cia. das Letras). Richard Dawkins é igualmente autor de O Gene Egoísta (1976), livro fundador, dentre outras, da teoria de “meme” (a informação que tem vida própria e que se propaga independentemente da nossa vontade – como o tal gene). Dawkins é, na verdade, um dos mais reputados zoologistas vivos: inglês, descendente direto de Darwin (na linha de pensamento), disputando a primazia com o já falecido norte-americano Stephen Jay Gould, também na divulgação científica (que o fez conhecido por suas posições polêmicas). Dawkins, para simplificar, acha que a religião é um “vírus”, no sentido de que pode infectar a mente de uma criança para sempre, limitando o alcance de suas idéias – pois, segundo ele, uma mente religiosa seria naturalmente resistente a determinados conceitos. Dawkins, no fundo, está cansado de ter passado a vida “debatendo” com criacionistas (aqueles que acreditam em Adão&Eva, por exemplo) e, antes da defesa, parte para o ataque: em qualquer discussão ética sobre, por exemplo, clonagem ou células-tronco, acha que os religiosos nem devem ser convocados – porque representam, quase sempre, a voz do atraso e porque, principalmente, não entendem nada de ciência. Para ele, a ciência já é tão complicada – bela, milagrosa, misteriosa... –, pra quê religião? Escreveu uma carta para a filha, onde justifica ter tentado mantê-la longe da influência perniciosa... da religião. (Não queria que seu tenro cérebro fosse infectado.) Tinha razão? Não tinha razão? Fora o fanatismo (anti-religioso), o livro parece longo demais e um pouco desconjuntado, para servir de introdução ao pensamento do autor (embora seja de ensaios). Biólogos de alcance interdisciplinar, como ele, Steven Pinker e António Damásio, são hoje a vanguarda das idéias com algum potencial “filosófico” – digamos assim –, mas carecem ainda de sistematização ou continuarão apenas instigantes (e só).
>>> O Capelão do Diabo - Richard Dawkins - 464 págs. - Cia. das Letras
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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