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Sexta-feira, 19/5/2006
O que não me mata, me fortalece

Julio Daio Borges




Digestivo nº 279 >>> Nietzsche, aquele que nasceu póstumo, está na moda no Brasil. “Pobre Nietzsche”, costumava vaticinar Paulo Francis. Nessa onda-Nietzsche, o filósofo alemão que morreu em 1900, não sem antes matar Deus (graças a Deus), já havia sido representado no cinema brasileiro, pelas mãos de Julio Bressane. Está permanentemente em cartaz na Casa do Saber, no curso Nietzsche contra Kant, de Oswaldo Giacoia Júnior, um dos mais lotados, recomendado até por Paulo Henrique Amorim. Como se não bastasse, foi recentemente best-seller, através de Irvin D. Yalom, um psicanalista-escritor, que levou à lista dos mais vendidos também Schopenhauer (outro renegado, em vida, ao anonimato). E para coroar essa trajetória, agora no teatro, justamente surge a adaptação do livro Quando Nietzsche Chorou, com Cássio Scapin no papel principal. De todos os momentos da atual consagração de Nietzsche no Brasil – estamos falando dos supracitados –, a peça com direção de Ulisses Cohn, embora pareça dos mais oportunistas (por vir por último), é um dos mais honestos. Scapin brilha do começo ao fim, enquanto os demais (incluindo Ana Paula Arosio e Lígia Cortez) apenas cumprem sua função. É muito difícil compor uma imagem de Nietzsche, pois, como dizia Nélson Rodrigues, todo escritor se falsifica ao infinito. Scapin parece saber disso e não se preocupa com a verossimilhança física (como Bressane antes); buscou se aproximar do espírito atormentado do filósofo. E foi bem mais feliz. Pelo pouco que sabemos, Nietzsche teria provavelmente detestado essa fama brasileira súbita – mas teria respeitado o trabalho de Cássio Scapin. Ele justifica sozinho todo o oba-oba em torno do autor de Assim falava Zaratustra.
>>> Quando Nietzsche Chorou
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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