Digestivo nº 54 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
55363 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pessoas Idosas - Sesc Carmo 2025
>>> Pascoal Meirelles celebra o legado de Tom Jobim no Palácio da Música, no Flamengo
>>> Os Coloridos Cia. Os Crespos
>>> Quizumba Com Indômita Cia.
>>> O que se rouba Com Zumb.boys
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Um olhar sobre Frantz Fanon
>>> Pedro Doria sobre o 'pobre de direita'
>>> Sobre o episódio do Pix
>>> Eric Schmidt no Memos to the President
>>> Rafael Ferri no Extremos
>>> Tendências para 2025
>>> Steven Tyler, 76, e Joe Perry, 74 anos
>>> René Girard, o documentário
>>> John Battelle sobre os primórdios da Wired (2014)
>>> Astra, o assistente do Google DeepMind
Últimos Posts
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Existe público, sim
>>> O dinossauro de Augusto Monterroso
>>> Decompondo uma biblioteca
>>> 50 Anos de Preguiça e Insubmissão
>>> Caminhada na Olívia Flores
>>> Alceu Penna e as garotas do Brasil
>>> O negócio do livro eletrônico, por Jason Epstein
>>> Minha segunda vez
>>> Wagner, Tristão e Isolda, Nietzsche
>>> Arcádia mineira (série: sonetos)
Mais Recentes
>>> Cria da Favela de Renata Souza pela Boitempo (2020)
>>> Subjetividade e Verdade de Michel Foucault pela Martins Fontes (2016)
>>> A Dinâmica da Cultura de Eunice Ribeiro Durham pela Cosac Naify (2004)
>>> A Ritual Geology Gold and Subterranean Knowledge in Savana de robyn d’Avignon pela Duke (2022)
>>> Decolonizar Valores Ética e Diferença de Thiago Teixeira pela Devires (2021)
>>> Meninos de Altamira de Paula Menders Lacerda pela Garamond (2015)
>>> The Course of Nemur in Search of the Art Myth and Ritual of the Ishir de Ticio Escobar pela Pittsburgh (2007)
>>> Mulheres Raça e Classe de Angela Davis pela Boitempo (2016)
>>> Fluid Signs Being a Person the Tamil Way de E. Valentine Daniel pela Califórnia (1984)
>>> A Tríplice Fronteira Espaços Nacionais e Dinâmicas Locais de Lorenzo Macagno pela UFPR (2011)
>>> O Profeta e o Principal Ação Política Ameríndia de Renato Sztutman pela Edusp (2012)
>>> Vida e Grafias Narrativas Antropológicas entre Biografia e Etnografia de Suely Kofes (org.) pela Lamparina (2009)
>>> Corpos em Trânsito Existências Subjetivades e Representatividades de Aguinaldo Rodrigues Gomes pela Devires (2020)
>>> Finnegans Wake Finnicius Revém Livro 1 capítulos 2, 3 e 4 de James Joyce pela Ateliê (2003)
>>> Raça Etnicidade Sexualidade e Gênero de Cristina Donza Cancela pela Terceiro Nome (2015)
>>> Ritos e Festas em Corinto Arcaica de Alexandre Carneiro Cerqueira Lima pela Apicuri (2010)
>>> Tipo uma História de Amor de Abdi Nazemian pela Harper Collins (2020)
>>> Trânsitos Coloniais Diálogos Críticos Luso-Braileiros de Cristiana Bastos pela Unicamp (2007)
>>> The Sex Thieves an Anthropology of a Rumor de Julien Bonhomme pela Hau (2016)
>>> Papirus de Maria Homem e Contardo Calligaris pela Papirus (2019)
>>> Os Próprios Deuses de Isaac Asimov pela Aleph (2010)
>>> Investido em Opções como Aumentar seu Capital de Gustavo Cerbasi (org.) pela Campus (2010)
>>> Hello Brasil e Outros Ensaios de Contardo Calligaris pela Três Estrelas (2017)
>>> In Search of the Miraculous de P. D. Ouspensky pela Arkana (1965)
>>> O Anel de Giges de Eduardo Giannetti pela Companhia das Letras (2020)
DIGESTIVOS

Quarta-feira, 31/10/2001
Digestivo nº 54
Julio Daio Borges
+ de 6100 Acessos
+ 3 Comentário(s)




Imprensa >>> Não deixe-o, por isso ame-o?
Em alguns cantos do País, já é possível sentir certos ventos de euforia, que sopram em favor das coisas do Brasil. É uma falsa preferência nacional. No fundo, escolhe-se entre o ruim e o pior. Em vez de ter de encarar aviões-bomba e armas químicas, o paulistano e o carioca, por exemplo, preferem um revólver na cabeça ou um seqüestro relâmpago. As manifestações ufanistas crescem sem razão: as pessoas comparam os Estados Unidos ao Brasil, quando não existe qualquer base de comparação. Um dos nossos trunfos, segundo a imprensa, é agora o turismo. A revista IstoÉ enumera, de boca cheia, casos de brasileiros que trocaram uma temporada em alguma metrópole norte-americana (ou até européia) pela tranqüilidade de um paraíso tropical tupiniquim. De fato, em alguns confins do Norte e Nordeste tem-se a impressão de que o mundo parou, jamais se ouve qualquer menção a Bill Gates ou Bin Laden. Ainda assim, com essa ilusão de paz e segurança, existem realmente motivos para comemorar? Qual a grande vantagem de não estarmos entre os alvos dos terroristas, se nós temos os nossos próprios, made in Brazil? Muito bem, diminuíram as viagens para Nova York. Mas alguém honestamente acredita que a Big Apple é a única prejudicada? Perdem também as nossas agências e operadoras, com está a Soletur aí para provar. Os detratores do Tio Sam não percebem que, com ou sem globalização, estamos todos amarrados a eles. Como num dominó planetário, se eles caem, nós caímos também. Outra coisa: não é porque os Estados Unidos “piora” que o Brasil “melhora”. É típico dos pequenos esperar por qualquer escorregão dos grandes e, então, proclamar sua pretensa superioridade. [Comente esta Nota]
>>> Paris fica para depois
 



Música >>> Pra você, eu digo sim
No final dos anos 1960, no Brasil, era avant-garde afirmar que, em termos de MPB, “os Mutantes eram demais”. O grupo se dissolveu nos anos 1970 e levou a pecha de genial, por causa do trio-parada-dura de Rita Lee e dos irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista. Dos dois últimos, um se mudou para a Europa, entretendo-se com música instrumental e trilhas sonoras; o outro gravou álbuns “viajandões”, despirocou, e virou cult – a exemplo (sem qualquer intenção maldosa) de Syd Barrett, do Pink Floyd. Verdade seja dita: Rita Lee, que buscou caminhos para a música brasileira – no Brasil – terminou menos “festejada”, afinal de contas, santo de casa, que ainda por cima fica em casa, não faz milagres. “Aqui, ali e em qualquer lugar”, o CD recém-lançado pela moça dos cabelos vermelhos, chega portanto para extirpar qualquer dúvida acerca do talento, igualmente genial, de Rita Lee Jones. O disco contém regravações dos Beatles, em arranjos originalíssimos de Roberto de Carvalho, que, junto com a sua senhora, lançou as primeiras versões genuinamente brasileiras das canções dos Fab Four. A crítica vai implicar com as letras reescritas em português (coisa que os músicos previram, incluindo as faixas equivalentes – e intactas – em inglês). Não há como negar, porém, as surpresas, ao ouvir, por exemplo: “With a little help from my friends”, convertida em bossa nova; “All my loving”, em pura inspiração jobiniana, com piano minimalista de João Donato; “She loves you”, transformada em samba; “I want to hold your hand”, transfigurada em forró. Mesmo quando não mexe em “nada”, Rita Lee trata de recriar hits executados à exaustão, acrescentando nuances vocais e instrumentais, como em “Michelle” e “Lucy in the sky with diamonds”. Resumindo: é um CD impecável, que merecia vender feito pão quente. (Ainda que isso não aconteça, fica registrado que Rita Lee Jones é muito mais que a moça que, nos Mutantes, tocava pandeirinho vestida de noiva.) [Comente esta Nota]
>>> http://www.ritalee.com.br/
 



Artes >>> Só é gordo quem quer
O 27º Panorama de Arte Brasileira abriu suas portas na semana passada, no Mam. Champanhe para os convidados, artistas com cabelos multicoloridos, patrocinadores engravatados, curadores com a mirada perdida no horizonte. Tinha de tudo. Nem adiantava perguntar o que era sério e o que era piada (com a cara do espectador). Um trabalho, no entanto, chamou a atenção e captou mais do que alguns segundos daqueles que passavam pelas instalações, pelos vídeos e demais objetos inclassificáveis. Foi a pesquisa de Fernanda Magalhães sobre a obesidade, mais especificamente sobre a “mulher gorda brasileira”. Numa parede estavam penduradas fotos de uma de suas modelos: primeiro, vestida; depois, nua. Numa outra parede foram colados e-mails de um grupo de internautas que se identificavam exatamente pelo excesso de peso. De repente, suas histórias de vida invadiam os pensamentos dos passantes e – para completar – um fone com depoimentos, pendendo do teto, estava disponível para quem quisesse ouvir aquelas pessoas falando. Hoje em dia, com as academias de ginástica, com os alimentos sem gordura e sem açúcar, com o excesso de zelo em relação ao corpo, os gordos (sem eufemismo) são uma espécie em extinção. Um deles afirma com razão: alguém já pensou o que significa ser consideravelmente “enorme” e viver como herege dentro da religião que prega 24 horas por dia a “boa forma”? De um momento a outro, defende-se os pretos, os judeus, as mulheres, os pobres – e os gordos? Esquecemos dos gordos. A uniformização tende a passar por cima deles. Lógico, não é a opção mais saudável do mundo (essa de ignorar a existência da balança) – mas será que eles não têm o direito, como todos, de escolher o que querem ser? [Comente esta Nota]
>>> Mam - Parque do Ibirapuera (portão 3) - Tel.: 5549-9688
 



Gastronomia >>> O Conselheiro também come (e bebe)
La Bella Cucina é o nome do restaurante que fica na rua José Maria Lisboa, quase esquina com a rua Pamplona. No bairro dos Jardins, proximamente à Trattoria do Sargento e – atravessando a avenida Nove de Julho – na vizinhança do Lellis. La Bella Cucina guarda mais do que uma coincidência geográfica com ambos. Pode-se dizer que praticamente nasceu da mesma família, pois seus proprietários têm sobrenome “Lellis” e também um histórico de trabalhos com o “Sargento”. Por isso, não se deve esperar por excessiva pompa ou circunstância, La Bella Cucina é cantina “no duro”: um estacionamento amplo com manobrista; um salão único, num ambiente integrado, decorado com garrafas de vinho, arcos e pendurucalhos, conforme reza a tradição; uma cozinha de proporções industriais, que pode ser vista e visitada pelos clientes, afinal, não está encerrada num espaço à parte. No tocante à gastronomia, os garçons são ágeis e os pratos servidos com rapidez. Num piscar de olhos, a mesa está posta com o couvert: pão italiano, sardela, e azeitonas pretas temperadas (às vezes, os prazeres da vida são simples e fáceis). Num outro piscar de olhos, surge uma travessa forrada com um autêntico carpaccio (leve, saboroso, na medida). Mais um piscar de olhos, é servida a lasanha branca ao forno (forte, robusta, mas não execessivamente carregada ou num tamanho além da conta – bendita a meia porção, custando metade do preço). A sobremesa, um clássico pudim de caramelo, chega para quebrar o salgado – com um doce. Cafezinho para fechar. Enfim. Qual paulistano resiste às tentações oriundas da Itália com que praticamente foi criado? [Comente esta Nota]
>>> La Bella Cucina - R. José Maria Lisboa, 661 - Tel.: 3884-9115
 



Cinema >>> O eterno retorno
A sala UOL esteve vazia para ver o Nietzsche de Julio Bressane, na Mostra de Cinema BR. Também pudera, foi exibido numa segunda-feira à tarde. Muita expectativa em relação a como o cineasta planejava transpor para a tela os textos do filósofo. Não houve milagre, claro. Os escritos de Nietzsche foram praticamente lidos, quando não declamados, enquanto imagens de seus passeios por Turim eram contrapostas a alguma ópera. Infelizmente, pela brevidade e pela superficialidade da sétima arte, o filme soou como uma coletânea de belas frases, um verdadeiro “best of”. O protagonista, encarnado por Fernando Eiras, esteve um tanto quanto caricato, com um bigode desproporcionalmente enorme, tirando completamente a expressão do rosto do filósofo. Além disso, quis-se enfatizar demasiadamente o gosto de Nietzsche pelas roupas e pelos alfaiates, o que lhe tirou os movimentos - transformando em estátua o escritor que queria ver Deus dançar. De qualquer jeito, o longa é meritório, pois revela o segredo do sucesso de um dos pensadores mais cultuados do século XX. Nietzsche esteve muito mais para comentador do que para filósofo rigoroso. Seus livros não remetem à Tradição; quando não renegam definitivamente a História. Nietzsche, sem querer, elogiou o homúnculo que nasce agora, enfurnado em seu próprio século, considerando-se muito melhor do que tudo o que veio, e do que tudo o que foi. Um sujeitinho prepotente que olha o universo com ar de superioridade, pois crê dominá-lo como nenhum outro homem antes. Nietzsche é o herói de todos nós: um solitário que esnobou o mundo; e que, derrotado em vida, refugiou-se na morte. Ele é o rei da filosofia como “amusement”, como “divertimento”, pois lhe tolheu toda a religiosidade grave. O enlouquecer de Nietzsche, no final da vida, é toda uma alegoria do beco-sem-saída ético e moral, em que o homo sapiens de hoje se encontra. Quem sabe quantos anos e quantas inteligências ainda se consumirão, para que a humanidade retorne a seu curso? Sem vagar por aí como uma alma penada? Como um Nietzsche? [Comente esta Nota]
>>> Dias de Nietzsche em Turim
 

 
Julio Daio Borges
Editor
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
31/10/2001
00h21min
Julio, magnífico seu último texto falando sobre a impossível comparação entre Brasil e EUA. Disse também o que sempre quis dizer: os "trouxas" brasileiros não percebem que a mínima queda em algum setor nos EUA destrói nossa economia e nosso modo de vida... Dizem que mereceram? Então também mereceram os brasileiros que lá morreram, junto com tantos outros mortos e prejudicados desde então...
[Leia outros Comentários de Juliano Maesano]
31/10/2001
00h22min
Julio, Seu Digestivo é das melhores coisas da Internet. Natural que às vezes discordemos de alguns textos, mas o pessoal é muito bom. Pergunto-me, às vezes, se vocês estão preparados para a importância que estão assumindo. Continuem firmes e parabéns! Abraços,
[Leia outros Comentários de luciano bossi]
31/10/2001
00h49min
Adorei o comentário sobre o Panorama das artes no MAM.
[Leia outros Comentários de Ana]

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Agosto Romance
Rubem Fonseca
Companhia Das Letras
(1990)



Desenho de Perspectiva
Robert W. Gill
Desenho de Perspectiva
(1980)



o brasil monarquico 6
sergio buarque de holanda
bertrand brasil
(1997)



Film Posters Of The 60s: The Essential Movies Of The Decade
Edited by Tony Nourmand and Graham Marsh
Taschen
(2005)



Assinei O Diploma Com O Polegar 612
Hamilton Werneck
Vozes
(2000)



Justin Bieber - First Step 2 Forever - My Story
Justin Bieber, Robert Caplin
Harpercollins
(2010)



Para Além da Política
William C. Mitchel e Outro
Topbooks
(2003)



Mineiros na Copa
Eduardo Ferrari
Scrittore
(2014)



Livro Literatura Estrangeira Hothouse Flower Lila Nova
Margot Berwin
Arrow Books
(2009)



A Lampâda Flutuante
Woody Allen
L&pm
(1982)





busca | avançada
55363 visitas/dia
1,9 milhão/mês