Música | Digestivo Cultural

busca | avançada
61129 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Simões de Assis | Individual de Carlos Cruz-Diez
>>> Jazz Festival: Primeira edição de evento da Bourbon Hospitalidade promete encantar com grandes nomes
>>> Coletivo Mani Carimbó é convidado do projeto Terreiros Nômades em escola da zona sul
>>> CCSP recebe Filó Machado e o concerto de pré-lançamento do álbum A Música Negra
>>> Premiado espetáculo ‘Flores Astrais’ pela primeira vez em Petrópolis no Teatro Imperial para homenag
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
Colunistas
Últimos Posts
>>> A melhor análise da Nucoin (2024)
>>> Dario Amodei da Anthropic no In Good Company
>>> A história do PyTorch
>>> Leif Ove Andsnes na casa de Mozart em Viena
>>> O passado e o futuro da inteligência artificial
>>> Marcio Appel no Stock Pickers (2024)
>>> Jensen Huang aos formandos do Caltech
>>> Jensen Huang, da Nvidia, na Computex
>>> André Barcinski no YouTube
>>> Inteligência Artificial Física
Últimos Posts
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Nosso Lar
>>> Bárbara Heliodora
>>> Uma leitura jornalística
>>> Prática de atelier: cores personalizadas *VÍDEO*
>>> Cheiro de papel podre
>>> O Nome Dele
>>> Um Leitor sobre Daniel Piza
>>> Um Furto
>>> Homenagem a Pilar del Río
>>> O Debate...
Mais Recentes
>>> Mulher Enjaulada de Jussi Adler-olsen pela Record2 (2014)
>>> As Melhores Receitas da Cozinha Portuguesa - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> As Melhores Receitas da Cozinha do Nordeste - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> As Melhores Receitas da Cozinha Baiana - Os segredos da cozinha das nossas avós de Vários Autores pela Globo
>>> Quem vai Salvar a Vida? de Ruth Rocha pela Salamandra (2015)
>>> Livro Cáuculo - volume 2 de Maurice D. Weir pela Pearson (2024)
>>> O Código da Vinci - Roteiro Ilustrado de Akiva Goldsman pela Sextante (2006)
>>> Delícias da Kashi - Gastronomia Vegana Gourmet de Kashi Dhyani pela Mauad X (2016)
>>> Livro Microbiologia Para As Ciências Da Saúde de Paul G. Engelkirk pela Guanabara Koogan (2005)
>>> Livro Comunicação E Comportamento Organizacional PLT 111 de Geraldo R. Caravantes pela Fisicalbook (2014)
>>> Livro Finanças Corporativas: Conceitos E Aplicações de Jose Antonio Stark Ferreira pela Pearson (2005)
>>> Livro Introdução a Genética PLT 248 de Anthony J F Griffiths ; RiCHARD C. Lewontin pela Guanabara (2008)
>>> Teoria Geral Da Administração. Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas Br (2011)
>>> LivroTeoria Geral Da Administração: Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas (2008)
>>> O Porco de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Arvore Do Beto de Ruth Rocha pela Salamandra (2010)
>>> A Casa No Limiar e Outras Histórias Macabras de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Ponto De Vista de Sonia Bergams Salerno Forjaz pela Moderna (2014)
>>> A Grande Campea de Maria Cristina Furtado pela Do Brasil (2015)
>>> Amigos De Verdade de Telma Guimarães Castro Andrade pela Brasil Literatura (2010)
>>> Bleach 57 - Out of Bloom de Tite Kubo pela Panini Comics (2014)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha de Pedro Bandeira pela Moderna (2009)
>>> Cantigas Por Um Passarinho A Toa de Manoel de Barros pela Companhia Das Letrinhas (2018)
>>> Bleach 56 - March of the Stacross de Tite Kubo pela Panini Comics (2013)
>>> A Historia Do Natal. O Livro Animado Que Conta Como O Menino Jesus Nasceu de Justine Swain-smith pela Publifolha (2008)
DIGESTIVOS >>> Música

Segunda-feira, 9/6/2014
Música
Julio Daio Borges




Digestivo nº 501 >>> The Devil Put Dinosaurs Here, do Alice in Chains
O grunge foi um dos últimos movimentos do rock, ou um dos últimos reconhecidos como tal. Com tantas bandas voltando, de todas as eras geológicas, seria natural que os protagonistas do grunge também se dessem uma chance. O Nirvana, com a morte de Kurt Cobain, não teria como. Houve uma reunião, de Krist Novoselic e Dave Grohl, com Paul McCartney, mas valeu muito mais pelo tom inusitado, não teve nenhum caráter de retorno. O Pearl Jam nunca parou. Ainda que Eddie Vedder "solo" tenha se mostrado mais interessante, nos últimos anos. O Soundgarden voltou, mas não com a mesma inspiração. Chris Cornell, o melhor cantor do grunge, deveria continuar investindo em sua carreira solo. Sobrou o Alice in Chains. Com a morte de Layne Staley (2002), parecia uma heresia e, em princípio, um erro, mas, depois de um álbum hesitante, Black Gives Way to Blue (2009), e da morte de Mike Starr, o baixista, o Alice in Chains, liderado por Jerry Cantrell, acertou a mão com The Devil Put Dinosaurs Here (2013). O disco é inexplicavelmente equilibrado. Mesmo sem Staley, sua marca está nos vocais, afinal Cantrell sempre lhe fez coro. Mas, além disso, o tom soturno, o ritmo marcado, as guitarras lancinantes continuam presentes, e interessantes. Ao contrário de vários comebacks, não soa como uma mera reciclagem de material, o álbum tem identidade própria, e acrescenta à discografia da banda. Cantrell assina, como não poderia deixar de ser, as letras, e elas, igualmente, mantêm o nível. Abre com o refrão "hollow as a mountain", ou "oco como uma montanha". Emenda com "Pretty Done": "Agora você teve o que queria/ Não deixe escapar". Na terceira, "Stone", Cantrell provoca: "Eu sei que posso estar enganado, mas não sou seu guia turístico" (grifo nosso). Na balada radiofônica "Stone", o tema é a esquizofrenia. E a faixa-título recria as alucinações dos primeiros registros em estúdio do Alice in Chains. O "clima" não melhora com "Lab Monkey", o macaco de laboratório. A esperança só retorna a partir de "Low Ceiling" ― sobre uma "roupa" que não serve mais, ou uma vida que necessita de reformulação. Ganha-se, novamente, velocidade com "Breath On A Window", uma das melhores ― uma "road song" (se é que podemos parafrasear o termo "road movie"): "Eu teria deixado você ir embora, mas você está sempre pelo caminho". "Scalpel" é apenas outro hit. "Phantom Limb" desperta quem achava que a sequência havia terminado. "Hung On A Hook", a última balada, fecha, com "Choke", sugestivamente: "Você deve saber que estou acostumado a despedidas". Com tantas outras atribuições, os solos de Cantrell andam bastante econômicos, mas sempre "na medida". Fora que o virtuosismo nunca foi o forte da geração Seattle. As performances ao vivo, encontráveis no YouTube, mostram que a energia continua lá. Ainda que os cabelos não continuem os mesmos... Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Um herói do grunge. E "seu" Alice in Chains, redivivo, merece respeito. [Comente esta Nota]
>>> The Devil Put Dinosaurs Here
 

Digestivo nº 499 >>> Paco de Lucía (1947-2014)
Paco de Lucía foi o maior violonista da nossa época. Foi um gênio do violão e é notável que não tenha recebido formação clássica. Seu virtuosismo alçou-o de um ritmo popular da Espanha, o flamenco, aos principais templos da música no mundo. No limite, era um músico popular, mas foi respeitado por instrumentistas de todos os credos e origens, estudado por musicólogos de todas as línguas e reverenciado por eruditos em música. Paco de Lucía foi unânime. Um ídolo entre roqueiros, e guitarristas, tocou, de igual para igual, com músicos de jazz e produziu a sua própria interpretação "flamenca" do Concerto de Aranjuez, que faz parte do cânone para as seis cordas. Sem contar suas releituras de Manuel de Falla. Treinado pelo pai, como Mozart, percebeu muito cedo que não havia limite, em termos de técnica, para o que poderia tocar. O pai, igualmente músico de flamenco, retirou o filho prodígio da escola, porque não conseguia pagar, e mudou a família de Algeciras para Madrid, quando Paco contava 12 anos. Tocando com o irmão violonista, que adotou a alcunha de Ramón de Algeciras, Paco (Lucía era sua mãe, portuguesa) esgotou o cancioneiro hispano-americano já nos anos 60. Ia com seus dedos do México a Cuba, passando pela Argentina e, sim, pelo Brasil. Acelerou o "Tico-Tico", celebrizado por Carmen Miranda, de tal sorte que Zequinha de Abreu não o reconheceria. Venceu, nos EUA, e excursionou, sozinho, com seu violão, sendo um pioneiro em turnês, antes que houvesse qualquer estrutura para isso. Como descreveu um contemporâneo seu, "encantava quem não sabia de música" e "enlouquecia quem sabia": "Paco tinha tudo". Não contente em ser apenas intérprete, aventurou-se pelo reino da composição. E, igualmente, triunfou. Os anos 70 marcam sua independência como artista solo, tornando-se, mais que um embaixador, um revolucionário do flamenco, a exemplo do que fez Piazzolla pelo tango. Basta ouvir "Entre dos aguas" (1973) e "Rio Ancho" (1976) para se convencer de que Paco, como compositor, não deixava nada a dever aos mestres criadores do flamenco. Os anos 80 marcam a consagração planetária, quando se aproximou de John McLaughlin, e, com Al Di Meola, gravaram o multiplatinado Friday Night in San Francisco (1981), um clássico absoluto entre rockers, "jazzistas" e violonistas clássicos. "Era um circo", assim definiu Paco os shows daquela época. Ignorante em matéria de escalas, aprendeu a improvisar nelas com as dicas de McLaughlin e Meola. Paco de Lucía nunca havia improvisado dessa forma, porque nunca havia precisado. Reconhecia os acordes só de olhar e as melodias, só de ouvir. O flamenco, para ele, era como a própria respiração. Tão logo cansou de vender milhões de discos, lançou-se num desafio técnico de volta as raízes, o insuperável Siroco (1987), fora o supracitado Concierto de Aranjuez (1991). Ficou marcado pelo vocalista Camarón de la Isla, seu acompanhante que faleceu precocemente, e chegou a declarar que sua grande ambição era... cantar. Voltou a se reunir em família com seu Sexteto: em 1981, com Pepe de Lucía; e, em 1997, com Ramón de Algeciras. Casou-se duas vezes e deixou cinco filhos. Quando se cansava de "Paco de Lucía", Francisco Gustavo Sánchez Gomes refugiava-se no México, onde mantinha uma residência e pescava. Teve um ataque do coração na Playa del Carmen, em férias com a família. Seu espírito, contudo, foi eternizado em música. Grande música. [Comente esta Nota]
>>> Paco de Lucía
 



Digestivo nº 498 >>> The Zen of Bennett, com Tony Bennett
Existem artistas acima do bem e do mal? Se formos lembrar do Procure Saber, não. Mas, mesmo assim, Tony Bennett parece ter atingido essa categoria. Bennett mereceu a admiração de Frank Sinatra, gravou com Count Basie, forjou obras-primas com Bill Evans. E Tony Bennett sobreviveu para contar a história. É uma lenda viva. The Zen of Bennett retrata o artista do alto de seus 85 anos. Lúcido, sábio, produtivo. Como um mestre oral, destila pensamentos ao falar de simples ternos até lembranças de Ella Fitzgerald em família. O name-dropping, no seu caso, não é uma estratégia de marketing pessoal ― é a sua vida. Como um dos grandes nomes do jazz por décadas, é natural que tenha memórias com o who's who da música norte-americana. O "zen" do título, obviamente, sugere uma "filosofia de vida", mas o documentário não trata especificamente disso. Tony Bennett solta pílulas de sabedoria entre os duetos que grava com "vocalistas" de hoje. Para além da música, é interessante, por exemplo, a sua preocupação em salvar Amy Winehouse do vício. Eles se encontram; ele diz que vai falar com ela; mas Amy, como sabemos, não teve um final feliz. É interessante, também, como Bennett se deixa impressionar pelo estrelismo de John Mayer. Danny Bennett, seu filho, idealizador e produtor do filme, chega a sugerir que Mayer poderia "agregar valor" a Tony Bennett. Mayer acaba ficando mais por sua beleza e pela fama de conquistador inveterado... Lady Gaga, quem diria, surge desprovida de toda a parafernália. É um verdadeiro teste para ela. Norah Jones é simplória, quase uma fã, poderia solicitar um autógrafo. Nem parece a filha de Ravi Shankar. Andrea Bocelli requer mise-en-scène. Ambiciona domar o sotaque italiano. Pede ajuda. Já Willie Nelson entra mudo e sai calado. (Nem está no cast.) Aretha Franklin vale por sua trajetória. É preferível assisti-la, por exemplo, em Os Irmãos Cara-de-Pau. De Michael Bublé, quase nem lembramos... O fato é que ninguém faz feio perto de Tony Bennett. E o próprio não está ali para julgar. Vivido, não espera se deparar com nenhum grande talento. Ao mesmo tempo, respeita, escuta, é paciente e ensina o que aprendeu. No fundo, talvez pressinta que a grande era do disco não tem retorno. "Disco" é força de expressão. Poderia ser a "era dos grandes estúdios". Ou "das grandes gravadoras". Quem sabe, Bennett não envia um recado para a nova leva dos que se produzem, se divulgam e se espalham... Cita Duke Ellington. Numa conversa com um executivo da indústria, Ellington teria dito que seu trabalho era gravar música de qualidade. Vender essa música não era seu trabalho. Tony Bennett, quem diria, é um sobrevivente desse momento. Quase outra era geológica. Bennett ainda se deixa registrar como artista plástico em casa, em Nova York. Sua mente inquieta jamais pára. (Uma esposa, décadas mais jovem, não parece muito bem humorada...) Depois de Tony, é Danny, the producer, quem mais dá o ar da graça. Seu pai é um mito e, para lidar com isso, Danny usa e abusa do humor. Perante uma das maiores vozes desde o pós-guerra, simplesmente não tem como se levar a sério. Tony Bennett, mais que um músico, é uma dobra no tempo. [Comente esta Nota]
>>> The Zen of Bennett
 

Digestivo nº 496 >>> Procure Saber e o ocaso da MPB
Reza a lenda que o envolvimento de Caetano Veloso com Paula Lavigne começou no aniversário dele de 40 anos. Ela tinha 13 e sua virgindade foi, supostamente, um presente para Caetano. Apesar do idílio, nos anos 90 Lavigne se orgulhava de haver multiplicado o patrimônio do baiano por dez. Gostava de dizer também que, quando o pneu do carro furava, era ela quem trocava, enquanto ele ficava tocando violão... Assim como Yoko Ono se decidiu pela santificação de John Lennon ― com a qual o filho Sean não concordou ―, Paula decidiu proteger o artista Caetano, assumindo seu lado empresarial. Tal arranjo permitiu que Caetano tivesse seus arroubos de polemista, queixando-se do jornalismo e da falta de cobertura de seus produtos, enquanto Lavigne o alçava à cerimônia do Oscar, e Fina Estampa (1994) reverberava até num filme de Pedro Almodóvar... O casamento acabou, e a última fase "roqueira" de Caetano, musicalmente mais "despojada", reflete esse momento. A década passada, entretanto, coincide com a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, quando a MPB tomou de assalto mecanismos como a Lei Rouanet, culminando com abusos, como o do "blog de poesia" de Maria Bethânia, e promovendo a ascensão de figuras como Pablo Capilé ao primeiro escalão... Tratar a cultura como política, fomentando lobbies e acumulando poder de verdade não foi, contudo, uma invenção de Capilé. Ainda que não tenham sido acusados de fazer campanha política ― para depois nomear secretários de cultura, e aprovar projetos de interesse ―, desde a década de 80 Caetano e Gil são conhecidos por apadrinhar novos talentos ― por exemplo, na música ―, enquanto se mantêm na "vanguarda", geração após geração. Malcomparando com caciques da política brasileira, como Sarney e ACM ― que se instalaram nas estruturas de poder desde a época da ditadura ―, Caetano, Gil, Roberto Carlos e mesmo Chico Buarque se beneficiaram (uns mais, outros menos) do vácuo cultural de 64 até a redemocratização, e depois. Talvez seja ocioso procurar a razão de ser de um grupo como o Procure Saber. Dizem que a raiz da perseguição a biografias "não autorizadas" estaria na reação de Roberto Carlos ao livro de Paulo César de Araújo, onde o biógrafo registra o acidente que levou o cantor a fazer uso de uma perna mecânica. Não contente em retirar o livro de circulação, estocando os exemplares em sua casa, o "Rei" teria convencido o estado-maior da MPB a impedir novas "invasões de privacidade", submetendo biografias à pré-aprovação, controlando, enfim, o que poderia se publicar ou não. Em uma palavra: censura. Paula Lavigne entrou acreditando que, além de escritores, outros agentes do mercado editorial lucravam, indevidamente, em cima de biografados ― e o circo se armou. Tirando a reação exemplar de Benjamin Moser, o texto de Caetano passou como "mais uma polêmica" do velho baiano. Já Chico Buarque, que nunca fala nada, deveria, mais uma vez, ter ficado calado. Começou apoiando as filhas de Garrincha, nas disputas com sua própria editora (a Companhia das Letras); passou ao ataque de Paulo César de Araújo, acusando-o de nunca havê-lo entrevistado; e terminou por associar a Última Hora ― de Samuel Wainer ― à lista de apoiadores do regime militar. Luiz Schwarcz, que sofreu o processo de Estrela Solitária na pele, respondeu ― mas foi generoso com o "amigo" Chico. Já Paulo César de Araújo, não contente em passar a data em que colheu o depoimento do compositor, divulgou uma foto e um vídeo, corrigindo o artista com declarações de seu próprio site. Enquanto José Nêumanne, no Estadão, lavou a honra da Última Hora. Muita gente boa concorda que o último disco relevante de Caetano foi Estrangeiro, há 25 anos. Gil talvez tenha tido seu último momento de brilho com o Acústico, há quase 20 anos. E Chico Buarque andou pela última vez "fértil" ― para usar uma palavra de Tom Jobim ― em Paratodos, duas décadas no ano passado. Se já não falam em nome da música há muitos anos, não deveriam tentar falar em nome da cultura, nem, muito menos, da História. Na tentativa vã de preservar sua vida "privada", mancharam suas biografias, no sentido mais amplo ― e os biógrafos do futuro não serão tão condescendentes quanto nós, seus contemporâneos. [Comente esta Nota]
>>> Procure Saber
 



Digestivo nº 495 >>> Heavy Metal Music, do Newsted
Jason Newsted teve a difícil missão de preencher a vaga de Cliff Burton, quando este faleceu tragicamente, depois de cair pela janela do ônibus da banda, durante uma turnê. O último álbum de estúdio do Metallica havia sido o clássico Master of Puppets (1986). Talvez para evitar uma comparação entre os baixistas logo de cara, o grupo preferiu um EP de covers, o Garage Days (1987), que inesperadamente se converteu em outro clássico da banda. Jason, originalmente do Flotsam and Jetsam, havia passado no teste. Considerando que o próximo álbum de estúdio, ...And Justice for All (1988), também se converteria num clássico, o futuro parecia sorrir para Jason Newsted. Mas os anos 90, segundo a profecia de Joey Ramone, seriam "o começo de fim do Metallica". O lendário vocalista dos Ramones afirmaria isso ao brasileiro André Barcinski, no livro Barulho (1992), enquanto James, Lars, Kirk e Jason viviam o auge da consagração do Black Album. Dito e feito: o conjunto nunca mais gravaria nada próximo de Metallica (1991). E em algum momento entre o auge e a queda ― incluindo a polêmica contra o Napster, na virada do milênio ―, Jason Newsted teve o bom senso de abandonar o navio, terminando substituido por Robert Trujillo, do Suicidal Tendencies. (Que, por sua vez, nunca se integrou totalmente ao Metallica ― parecendo sempre um baixista emprestado... do Suicidal Tendencies. Mas essa é outra história.) Jason ainda se aproximaria do Sepultura no seu auge, também na década de 90, comparecendo ao casamento de Ig(g)or Cavalera, em São Paulo, e provavelmente fazendo a "ponte" entre Andreas Kisser e o resto do Metallica, quando James Hetfield se acidentou e precisaram de um guitarrista urgente. O fato é que ninguém mais tinha ouvido falar de Jason Newsted ― fora uma participação ou outra na comemoração de 30 anos do Metallica ― até Heavy Metal Music (2013). E quem daria bola para um disco solo do ex-baixista de uma banda decadente, que só se mostra "em forma" para executar velhos hits? A verdade é que Heavy Metal Music é um grande disco ― uma autêntica celebração do rock pesado dos anos 90 ―, e o Newsted, a banda de Jason, merece respeito. Ainda mais no meio de tantos revivals que não parecem empolgar nem os "seguidores" mais fiéis. Incluindo, obviamente, reencontros históricos, como o de Ig(g)or e Max, no Cavalera Conspiracy. A impressão que se tem é de que mesmo os músicos que permaneceram "na ativa" perderam a velha "pegada". E as novas gravações não tem nada a acrescentar. Na realidade, diluem o que havia de bom. E como soa o Newsted? Não necessariamente como o Metallica, como era de se esperar. Primeiro que Jason canta. Sim, ele canta. Mas nada a ver com James Hetfield; sua inspiração parece ser mais Lemmy Kilmister, do Motörhead, com o baixo distorcido e acelerado a puxar o resto do comboio. E, por incrível que pareça, Dave Mustaine, ex-renegado do Metallica, é também uma inspiração para Jason. "By the teeth of my skin", um simples verso, evoca Countdown to Extinction (1992), um hit radiofônico, e musicalmente Rust in Peace (1990), outro álbum clássico ― mas do Megadeth. Claro que alguns solos de guitarra homenageiam o timbre de Kirk Hammet; muitas "paradas" evocam o Metallica clássico (da época de Jason e de antes); e as faixas mais lentas, e arrastadas, de Heavy Metal Music pagam tributo ao formato consagrado em ...And Justice... e Black Album. Ocorre que os méritos do Newsted, apesar disso, persistem. Jason se revela um letrista de mão cheia. Ao contrário de uma estrela do rock que poderia estar aposentada, guarda uma visão de mundo bastante sombria, um inconformismo saudável (dentro do gênero), não apostando em "imagens" gastas e conhecidas. Nos melhores momentos, acena para as "filosofias de vida" de um Max Cavalera. Instrumentalmente, ainda, as sessões rítmicas são assaz trabalhadas ― sobretudo para alguém que já conheceu o mainstream. O Newsted, no seu esforço sonoro, brilha como uma banda iniciante ― não se poupando em estúdio e não facilitando as execuções durante a turnê. Ao contrário de seus contemporâneos, em resumo, Jason Newsted deixa registrado que ainda tem algo a acrescentar ao gênero. E Heavy Metal Music é o disco que toda banda dos anos 90 adoraria gravar e não conseguiu. [Comente esta Nota]
>>> Heavy Metal Music
 
Julio Daio Borges
Editor
mais música | topo


Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




La Practica Docente y Sus Fundamentos Psicodidacticos
J Ricardo Nervi
Kapelusz
(1969)



Contabilidade Pública
Alexandre Costa Quintana e Outros
Atlas
(2011)



Mar Profundo
Romesh Gunesekera
L&pm
(2006)



Introdução a Ciência do Direito
André Franco Montoro
Revista dos Tribunais
(1997)



Livro Infanto Juvenis O Menino de Palmares Coleção Jovens do Mundo Todo
Isa Silveira Leal
Brasiliense
(1981)



Reflexões Sobre a Arte
Alfredo Bosi
Atica
(1991)



O Dia do Chacal
Frederick Forsyth
Record
(1971)



Desenho de Perspectiva
Robert W. Gill
Desenho de Perspectiva
(1980)



Livro Literatura Estrangeira O Advogado
John Grisham
Rocco
(1998)



Livro Infantil Mitos e Lendas do Folclore Do Brasil
Mario Bag
Paulinas
(2013)





busca | avançada
61129 visitas/dia
2,1 milhões/mês