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Terça-feira, 19/9/2006
A prova dos nove dessa inequação

Julio Daio Borges




Digestivo nº 297 >>> No meio da montanha de CDs que chegam e que soam, aparentemente, “igual”, ninguém pode reclamar que Kléber Albuquerque não tenha personalidade. Abrindo seu Desvio numa evocação nordestina de Alceu Valença, tasca logo uma guitarra distorcida e lembra, ainda, Zeca Baleiro em “Heavy Metal do Senhor”. “Brasa” não passa despercebida de todo. Se sobreviver ao manifesto roqueiro, o ouvinte será brindado com um reggae, “Maluca”. Então presta, pela primeira vez, atenção à “poética” de Albuquerque. Não leva, sugestivamente, o primeiro prêmio em matéria de originalidade – “procurando pedra pra tropeçar” e “ensinando Shiva a dançar” – mas, do mesmo jeito que usa bem os ritmos, Kléber usa bem as palavras (mesmo que as frases feitas). Simpático, passa no teste da segunda faixa (acreditem: pouca gente passa...). A terceira justifica que o resenhista deveria, mesmo, ter insistindo. Pela flauta e pelo flautim. A quarta, “Inquietação”, emenda verborragia mas embala num choro agradável. A quinta mistura “moda de viola” com objetos voadores não-identificados. A sexta, “Estrada”, num clima infantil e circense, aposta em minimalismo e... semiótica? “Desvio”, a própria, tem até bandolim. “A Liberdade!” volta para os riffs da primeira faixa, conversa com Caetano Veloso e... Paulo Miklos! “Copacabana” (Caymmi?), “Só mais um blues”, “Essa mulher” (Elis?), “A melhor parte” e “A canção do cãozinho Esaú” encerram o volume. Kléber Albuquerque, concluindo, não vem para dar continuidade à tal “linha evolutiva da música popular brasileira”. Contudo, Desvio não merece ser descartado. Kléber tem repertório; Kléber tem formação – e a verve está lá... O que falta? Um produtor; uma produção? Analisado com microscópio, o disco não sobrevive bem ao teste do tempo, porém ouvi-lo não é um sacrifício – e terminamos, de algum modo, torcendo por ele. Desvio, de Kléber Albuquerque, é um mistério sem solução. Talvez a prova de fogo seja, coincidentemente, sua turnê agora no Crowne Plaza. Desvio de trajetória ou pouso no lugar-comum?
>>> Desvio
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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