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Segunda-feira, 16/10/2006
Fervor de Buenos Aires

Julio Daio Borges




Digestivo nº 300 >>> Borges também ficou conhecido por seus ares oraculares e por sua aparições públicas – cênicas, às quais já se dedicaram até alguns livros... Mas Borges, como qualquer pessoa, possuía seu duplo. Daqui a algumas semanas, está vindo à tona um Borges privado – também em formato de livro... Não, não é mais um lançamento duvidoso de Maria Kodama. São as anotações do diário de Adolfo Bioy Casares, a maior amizade em toda a vida de Jorge Luis Borges. O amigo fiel (ou infiel?) tratava de registrar os papos com o Bruxo, de duas a três vezes por semana, quando este comparecia à sua casa para jantar. Surge, então, um Borges muito menos diplomático que o de costume, mas tão interessante quanto (ou mais). Espanta um pouco que o erudito, que tinha por hábito embasar qualquer colocação, chame, por exemplo, Thomas Mann de “idiota”. Ou que não veja muita graça nos monumentos literários construídos por Joyce, embora reconheça, em sua linguagem, algo de “endiabrado”. Ou, finalmente, que menospreze a obra de contemporâneos como Ernesto Sabato (com o qual Borges teve, a propósito, um encontro – em livro aqui no Brasil...). A justificativa para essas e outras divertidas boutades reside na certeza – compartilhada por Borges e Bioy Casares – de que o escritor deve preservar apenas aquilo que diz respeito a seus temas, o resto deve terminantemente descartar. (Os autores brasileiros, eternamente fazendo média e escrevendo prefácios inócuos, vão se horrorizar.) Para quem não se interessa muito pela língua solta borgiana, o volume, intitulado simplesmente Borges, promete vir recheado de novos juízos literários bem-comportados. Felizmente, Borges ainda pode ser Borges – mesmo que por vias tortas.
>>> Borges, de Adolfo Bioy Casares: dos amigos implacables
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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