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Segunda-feira, 25/12/2006
Espirituosidade e sensualidade

Julio Daio Borges




Digestivo nº 309 >>> Em meio a chuvas e alagamentos, túneis inacabados e obras do metrô a céu aberto, falta de planejamento e caos urbano, São Paulo continua, milagrosamente, produzindo arquitetos. Como Isay Weinfeld. Se o nome não é familiar, para quem não é do meio, basta evocar o Clube Chocolate, a Forneria San Paolo e a Disco. Ainda o Hotel Fasano e a loja da Fórum na rua Oscar Freire. Mesmo que com funções completamente distintas, essas edificações levam a assinatura de Isay Weinfeld – e basta evocá-las na memória para perceber que existe nelas, apesar dos desvarios da Paulicéia, a unidade que caracteriza um estilo. Weinfeld, que é também autor de projetos de residências, de intervenções em fazendas e em casas de praia, mereceu um volume da coleção Arquitetura e Design, da Viana & Mosley editora, cujo texto é do jornalista Daniel Piza. Na introdução e no perfil de Piza, Weinfeld aparece como um sujeito despojado, que pode sentar e conversar até num balcão de padaria. Aparece, ainda, como admirador fervoroso de João Gilberto – seria sugestivo pensar na queda de ambos pelo minimalismo –, fora Radiohead (vanguarda roqueira que transcende o rock) e Blossom Dearie (uma intérprete quase obscura de jazz). E é um alívio percorrer as quase 70 páginas de imagens dedicadas aos trabalhos de Weinfeld. O recorte de suas realizações na metrópole, e em outros estados do Brasil, sugere que para a poluição visual, para o kitsch e para o subdesenvolvimento (econômico e cultural) pode haver esperança. Weinfeld aparentemente chegou naquele ponto ótimo em que pode abraçar só as causas que lhe interessam, recusando até clientes ou propostas que não se encaixam no seu portfolio. Num tempo em que a Bienal só provoca menos revolta que a política, em que arte, mercado e espetáculo são sinônimos, em que quase todo artista quer ser, no fundo, celebridade, Isay Weinfeld parece um alienígena recém-desembarcado. Que ele continue, então, criando mundos para salvar nossos olhos de retinas tão fatigadas.
>>> Isay Weinfeld
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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