busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Quarta-feira, 27/6/2007
A pintura, textos essenciais, volume 9

Julio Daio Borges




Digestivo nº 333 >>> Dos muitos epítetos que Nélson Rodrigues colou no “brasileiro”, essa generalidade ambulante, um dos mais esquecidos e mais exatos é o de “analfabeto plástico”. O brasileiro dá palpites em música como dá em política e futebol, acha que entende de teatro (porque acha que entende de televisão) e, nos anos 2000, deu para escrevinhador e publicador de livros, mas de artes plásticas – portanto, de arte, no seu sentido mais amplo – confessa que não entende patavina. Quando olha para um quadro, uma escultura ou até uma instalação, baba retumbantemente na gravata. Como arte não é “ensinada” nas escolas (“fazer” arte, ser “arteiro”, é outra coisa), uma das maneiras de preencher essa lacuna é se aventurar por qualquer dos volumes, mais especificamente sobre pintura, que a Editora 34 continua soltando (desde 2004), com organização de Jacqueline Lichtenstein. No nono volume, por exemplo, a cinco volumes do final, trava-se a discussão – para o brasileiro médio, talvez, “bizantina” – entre desenho e cor. No nosso País, mesmo entre “artistas” autoproclamados, ninguém nunca soube que o desenho – o traço, o “projeto”, a racionalização – lutou, durante séculos, contra a cor – considerada vívida, violenta, até dionisíaca –, com partidários célebres dos dois lados da questão. Neste volume, que felizmente evita o populismo (e o conseqüente nivelamento por baixo) hoje em voga, assinam os capítulos gente como Goethe, Ingres e Baudelaire – e a sensação, além da do tempo, é de que os séculos estão mesmo falando a nós. Goethe aparece com trechos de seu Tratado das cores que – mesmo sendo poeta (e, não, físico) – soa sublime. Ingres defende o desenho ardentemente, atacando Delacroix, e concordamos com ele (mesmo ele estando errado...). Baudelaire já teve melhores momentos em prosa, mas acerta, como acertou, no atacado, na sua crítica de arte. Para uma época faminta por crítica séria, a coleção, da 34, é um prato cheio. Que contribua para minorar nosso analfabetismo crônico. Plástico, sólido, líquido e gasoso.
>>> A pintura
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês