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Quarta-feira, 28/11/2007
Robert Holl e David Lutz, na Sala São Paulo

Julio Daio Borges




Digestivo nº 349 >>> Não é raro cair no debate sobre o fim da canção. Muitas vezes, porém, mesmo entre os mais informados, a noção, que se passa, é a de que a canção começou, como o american song, do século XX em diante – só que não começou. O registro do som começou nesse ponto, mas a canção, ou mais genericamente a “forma-canção”, é tão velha quanto a escrita (e, logo, a História). Ou mais. No último concerto da Temporada 2007 do Mozarteum Brasileiro, o baixo Robert Holl e o pianista David Lutz forneceram, na Sala São Paulo, uma bela panorâmica da “canção”, no seu sentido mais amplo, de Schumann a Tchaikovsky, portanto desde quase o século XVIII. Schumann, um gênio verdadeiramente atormentado (nada a ver com os pseudogênios que, volta e meia, nos atormentam), iluminou a noite com as canções que escreveu pensando na sua esposa. E Tchaikovsky surpreendeu porque seu “cancioneiro” é, digamos, muito menos conhecido que suas sinfonias e seus balés. No meio do caminho, Rachmaninoff, de quem, ultimamente, lembramos por causa da exigência de virtuosismo em seus concertos para piano, mas que também trabalhou no “formato” canção (e sobre versos de Aliéksei Tólstoi). Para os fanáticos da canção nos 1900s, pode até parecer estranho alguma coisa cantada em alemão, quanto mais em russo – mas basta lembrar que a primeira foi a língua de Schubert, um mestre do gênero; e que a segunda tem sido a última moda entre os tradutores brasileiros, que acreditam trazer a essência de Dostoiévski, Tolstói e Tchekhov, entre outros, mergulhando inclusive na musicalidade do idioma russo. E, ao contrário da canção popular que, do rock pra cá, se ouve aos gritos (ou gritando junto), existe um quê de solenidade, na canção erudita, em parar e ouvir um baixo e um pianista. Robert Holl e David Lutz nos deram, ainda, um exemplo de civilidade – além da aula de civilização.
>>> Mozarteum Brasileiro
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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