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Quarta-feira, 26/12/2007
Samba Meu, de Maria Rita

Julio Daio Borges




Digestivo nº 350 >>> Nove entre dez críticas feitas a Maria Rita abordam "o problema do repertório". Talvez a associação sempre inevitável com sua mãe, Elis Regina, gere inconscientemente o desejo de ouvir Maria Rita cantando, de novo, o "cânone" da MPB. Se já é comparada com a mãe por fazer o que faz, imagine o que aconteceria se ela seguisse a receita dos guardiões do nosso cancioneiro. Maria Rita, na verdade, tenta o mais difícil: estabelecer um novo repertório, revelar uma nova geração. Como, aliás, fez sua mãe. Acontece que a indústria, a mídia e o público, às vezes, parecem tão refratários às novidades que, de repente, se esquecem de que o cânone musical dos anos 60 também já foi... lançamento. Seria muito mais cômodo, para Maria Rita, gravar se inspirando nas efemérides (como os 50 anos da bossa nova, logo ali ao lado); posar de musa cool & inacessível (cantando tatibitates superproduzidos); ou até se lançar numa "carreira" no exterior (fingindo intimidade com Nova York, mas implorando pelos nossos espaços de divulgação). Nesse sentido, seu terceiro disco é talvez seu salto mais arriscado. De compositores efetivamente conhecidos, só Gonzaguinha, com a ótima "O homem falou"; o resto, quase totalmente dominado por Arlindo Cruz (e parceiros variados), nas boas "Num corpo só", "Tá perdoado" e "O que é o amor"; e, ainda, grandes momentos com Rodrigo Bittencourt ("Samba Meu"), Serginho Meriti ("Cria") e Edu Krieger ("Maria do Socorro"). A opção pelo samba, neste terceiro registro em estúdio, talvez tenha tido um poderoso efeito de marketing, mas não deve ser esteticamente ressaltado, porque Maria Rita já havia visitado o gênero antes e porque ela não precisa, necessariamente, apoiar-se na sua "versatilidade" como cantora. Se é verdade o que dizia Schopenhauer — que os grandes espíritos devem assumir seu papel de liderança —, então, em vez de reclamar do repertório não ser justamente aquele que já conhecemos, deveríamos agradecer a Maria Rita por tentar nos mostrar novos caminhos, agora, no samba.
>>> Samba Meu
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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