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Sexta-feira, 15/2/2008
Mário de Andrade pela Agir

Julio Daio Borges




Digestivo nº 354 >>> O pós-modernismo cansou e, como filho bastardo do modernismo (nem que seja só na etimologia), arrastou-o consigo. Para quem mistura tudo — uma coisa tipicamente pós-moderna, aliás —, o modernismo acabou responsável pelo vale-tudo, pelo "no brow" e pela mídia de massas, inclusive. Quando, na realidade, o modernismo foi o último movimento que se preocupava com a tradição, estudando-a, nem que fosse só para romper com ela. Talvez agora, há 100 anos de distância (e aumentando), possamos enterrar o pós-modernismo no que ele teve de pior, com o advento da internet (que nos fornece perspectiva), resgatando o melhor do modernismo e a nossa conexão perdida com a tradição. Nesse sentido, é providencial a reedição das obras de Mário de Andrade, um dos pais do nosso modernismo, pela Agir, justamente no ano em que Macunaíma completa 80 anos. Afinal, apesar do filme (que reduziu tudo ao engajamento, à chanchada e, convenhamos, ao besteirol), qualquer leitor de Macunaíma percebe que a odisséia do "herói sem caráter" é muito mais complicada, erudita e trabalhada do que o tiroteio verbal dos escritores de hoje (que processaram o anti-herói, na sua superficialidade, e nada mais). Junto com a obra que se tornou arquétipo nacional (até Roberto Campos falava no "coeficiente de Macunaíma"), saem, numa caixa, Amar, Verbo Intransitivo e Os Filhos da Candinha (uma edição quase esquecida das crônicas de Mário). Sob os cuidados do Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, há ainda um quarto volume comemorativo (só nessa primeira leva): Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta — com ensaios de contemporâneos de Mário como Antonio Candido, Cícero Dias e Raquel de Queiroz. O pós-modernismo talvez não sobreviva ao julgamento da História, mas o modernismo ainda cala fundo.
>>> Mário de Andrade
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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