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Segunda-feira, 2/3/2009
O Outro, um conto de Jorge Luis Borges

Julio Daio Borges




Digestivo nº 405 >>> "A cegueira gradual não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão", escreveu, ou ditou, Jorge Luis Borges, em um dos diálogos de "O Outro", conto dos anos 70, onde conversa com uma versão cinco décadas mais jovem de si próprio, como num sonho... A ideia — de dar conselhos a si mesmo —, se não era nova, foi copiada, indefinidamente, desde então. Com muita poesia, o velho Borges procurava metáforas que correspondessem a afinidades íntimas, "que a imaginação já aceitou"; enquanto isso, o jovem Borges era ardente, taxativo e, poeticamente, queria "inovar" — ainda que seus "hinos (ou ritmos) vermelhos" remetessem ao verso azul, de Rubén Darío, e à canção cinza, de Verlaine... "O poema ganha se imaginarmos que é a manifestação de um anseio, não a história de um fato", sugere o velho Borges, embora o jovem só quisesse saber de Os Demônios, de Dostoiévski ("o mestre russo [que] mais penetrou[...] nos labirintos da alma eslava")... Idealista, o jovem Borges prometia ser a voz dos que, justamente, "não tinham voz", mas o velho não lhe perdoaria o cacoete ideológico: "Sua massa de oprimidos e párias não passa de uma abstração. Só existem os indivíduos, se é que alguém existe". Rebelde contra os modernismos, era chegada a vez do velho se horrorizar com a contemporaneidade: "Não me surpreenderia se o ensino de latim fosse substituído pelo de guarani"... Perdidos num banco qualquer do tempo, depois de uma conversa (que não poderia ser um sonho), os dois se afastaram, assustados, e combinaram outra no dia seguinte, mas nunca mais voltariam a se encontrar... A história está em O Livro de Areia, relançado ultimamente, dentro da Biblioteca Borges.
>>> O Livro de Areia
 
>>> Julio Daio Borges
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