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Quarta-feira, 9/12/2009
Um enigma chamado Brasil, 29 intérpretes e um país

Julio Daio Borges




Digestivo nº 444 >>> Embora falar português errado, ostentar ignorância e, quando conveniente, até fingir desinformação estejam muito em moda, houve um tempo em que interpretar o Brasil era, também, um hábito, e algumas das melhores cabeças, do País, se dedicaram a tal. Para quem se acostumou com o desrespeito ao hino (e à bandeira), com o vale-tudo na era da "governabilidade" e com o nível declinante das nossas "lideranças", Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país pode trazer certo alívio, nem que seja para evocar uma época, nem tão distante, de outros homens e de outros "valores". Com organização de Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho, o objetivo, desde o título, é apresentar os principais "intérpretes" do Brasil, que tentaram entender o País a partir das áreas em que atuavam. Logo, desde sociólogos e historiadores, pudemos contar, ainda, com notáveis em campos, aparentemente, menos propensos à "interpretação", como a literatura e as artes. Assim, foram chamados pesquisadores contemporâneos para analisar, em ensaios breves, a vida e as ideias desses nossos "interpretadores". Algumas boas surpresas são Maria Alice Rezende de Carvalho falando de André Rebouças, o companheiro de Joaquim Nabuco na campanha abolicionista; Antonio Dimas ressuscitando o combativo, e muitas vezes barroco, crítico Sílvio Romero; Carlos Augusto Calil devolvendo estatura a Paulo Prado, um dos pais do nosso modernismo; Angela de Castro Gomes reabilitando Oliveira Vianna, um conservador essencial; e Robert Wegner revisitando, com muita originalidade, Sérgio Buarque de Hollanda. Não faltam olhares para outros nomes igualmente "canônicos", como Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, embora nem sempre os respectivos capítulos tragam alguma novidade, seja no conteúdo, seja na forma. São questionáveis as homenagens a contemporâneos como Antonio Candido, Roberto Schwarz e até Fernando Henrique Cardoso, mas sua consagração precoce, digamos, não diminui o esforço de se concentrar 500 anos num volume de menos de 500 páginas. Se os nossos governantes, hoje, se recusam a ler, e se condenam a repetir os erros do passado (por mais que haja pujança econômica), podemos, talvez, esperar que os líderes do futuro se disponham a conhecer os homens que pensaram o Brasil antes.
>>> Um enigma chamado Brasil
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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