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Quarta-feira, 3/11/2010
7º Cordas na Mantiqueira, em São Francisco Xavier

Julio Daio Borges




Digestivo nº 473 >>> A música se transformou muito, neste início de século. O sentido social que a música tinha, no século XX, teve seu apogeu e não sabemos se um dia voltará. A música como mensagem política, como princípio de transformação, hoje parece uma noção longínqua. Até sem sentido. Quando vemos uma entrevista como a recente de Geraldo Vandré, o sujeito que talvez esteve mais perto de incitar as massas no Brasil, concluímos que a imagem dele é a de um "lunático" que se perdeu no tempo e no espaço. (Ou, ao menos, essa é a imagem que a edição da TV Globo deseja passar...) Mesmo Steve Jobs, quando lançou o iPod, disse, numa daquelas suas apresentações míticas, que, com esse aparelho, gostaria que a música voltasse a ocupar o lugar central que ocupara durante sua juventude... Jobs foi fã (e hoje é amigo) de Bob Dylan. Vandré era o nosso Dylan? Não sabemos; e, talvez, nunca saberemos. O certo é que os grandes fenômenos "musicais" de hoje são os de massa, de aglomeração, de dominação de um mercado... e nada mais. Lady Gaga? É a isso que nos reduzimos? O que é isso, afinal? É música? Ou é um fenômeno de alcance global... pura e simplesmente? O mérito de criar essa "bolha" existe... Mas mérito musical... existe? (Pensem bem, fãs.) É por isso que projetos como o Cordas na Mantiqueira, em São Francisco Xavier, aparentemente contra a maré, são importantes. Porque invertem a lógica dos "fenômenos" de hoje e apostam na música em primeiro lugar. Como quase esquecemos de fazer... Sandro e Patrícia, os proprietários do Photozofia (que promove o Cordas anualmente), saíram da capital, se estabeleceram no interior, levaram sua formação, trabalharam a informação local e devolveram a riqueza musical do interior para o mesmo interior, retrabalhando-a, ainda, para o público da capital. Não chegaram em São Francisco Xavier querendo "colonizar" a cidade, mas, pelo contrário, desejando conhecer a cultura local, fortalecê-la e devolvê-la, mais sofisticada, mais saudável, mais resistente para o seu lugar de origem, também para São Paulo, e para o Brasil. O Cordas, neste ano, teve, por exemplo, Índio Cachoeira, da dupla Cacique e Pajé; André Christovam, o eterno guardião do blues no Brasil; Viola Arranjada, um quarteto de violas caipiras; Gustavo Carvalho tocando jazz brasileiro; e teve Débora Gurgel, mãe de Dani Gurgel, acompanhada de Pérsio Sapia, ex-CLAM (Zimbo Trio). Todos os anos no Cordas, o Photozofia procurou combinar "grandes nomes", que serviriam de chamariz, com jovens grupos, às vezes locais, que precisavam de um impulso, que não subiram tanto num palco, não tiveram muito contato com um público. E se o Cordas tem essa ligação, mais profunda, com a melhor música caipira, com a música caipira no melhor sentido, o Photozofia já teve, no seu palco, até Arnaldo Antunes, até Luis Fernando Verissimo, empunhando seu sax e tocando jazz em pleno Festival da Mantiqueira (a Flip de SFX). O Cordas na Mantiqueira não é apenas um festival, é uma política cultural em si; e o Photozofia não é mais um espaço musical, é um centro cultural em São Francisco Xavier. Vida longa ao Cordas, vida longa ao Photozofia!
>>> 7º Cordas na Mantiqueira
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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