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Quarta-feira, 17/11/2010
A Piauí tergiversando sobre o fim dos jornais

Julio Daio Borges




Digestivo nº 473 >>> Em agosto, numa entrevista para a CBN, João Moreira Salles anunciou uma matéria da Piauí sobre o fim dos jornais. O mês de setembro veio, e nada. A edição de aniversário da revista veio, em outubro, e uma chamada, que não era de capa, dizia: "Caro e chato: Branca Vianna investiga a crise do jornalismo investigativo". Era isso? A matéria sobre o "fim dos jornais" era isso? Aparentemente era. E, lendo, era mesmo. João Moreira Salles teria errado no seu anúncio? Ou teria, então, sido mal compreendido? Na CBN — o áudio segue no ar — ele dizia: "A gente vai publicar uma matéria, no mês que vem [setembro], sobre o futuro do jornalismo. Quais são as tendências para o jornalismo, o que é que está acontecendo no jornalismo...". (Não era jornalismo investigativo, era jornalismo mesmo.) Continuando com: "Todo mundo acha que... [o jornalismo] é uma profissão que começa a desaparecer. Do jeito como a conhecemos e, portanto, sem saber como ela será no futuro. É um momento em que seu velho mundo desapareceu e o novo mundo ainda não tem forma." (De novo: jornalismo e, não, jornalismo investigativo.) Para concluir assim: "O que as pessoas dizem é que os Estados Unidos terão [só] um ou dois jornais nacionais. E a informação regional virá de sites e da internet. O papel desaparecerá." Então, era sobre o fim dos jornais (e sobre o "futuro" do jornalismo). Mas o que aconteceu, nesses dois meses, com a matéria da Piauí? Em primeiro lugar: no fim dessa mesma entrevista, João Moreira Salles admitia que o mesmo modelo insustentável, de publicidade, dos jornais, era adotado pela Piauí. E assumia — meio a contragosto — que isso comprometia o futuro da revista. Logo, uma primeira conclusão (para a mudança de rumo na matéria da Piauí) era a de que "falar sobre o fim dos jornais" (ou, se preferirem, "sobre o fim do jornalismo como o conhecemos") soaria como um tiro no pé. Em segundo lugar, João Moreira Salles sugeria, ainda na CBN, o fim do blog Piauí Herald, justificando que o site da revista não poderia consumir recursos da própria revista (impressa). Não por acaso, talvez: no mesmo mês da entrevista, o site da Piauí migrava para o portal do Estadão. Algo que, a princípio, sugeria uma economia de custos, permitindo à revista continuar com o blog Piauí Herald (que, a propósito, segue até hoje). A segunda conclusão, no entanto, seria a de que "levar adiante uma matéria sobre o fim dos jornais", com chamada de capa, não soaria de bom-tom (depois da hospedagem no portal do Estadão — originalmente, um jornal). Para os leitores brasileiros, contudo, foi uma perda irreparável (a matéria da Piauí não sair conforme anunciado pelo dono da revista). Porque seria a primeira vez que um veículo considerado sério, e assumidamente lido pelo mainstream nacional, abordaria um tema que toda a nossa mídia insiste em evitar (como se não existisse). Enquanto a revista Newsweek é vendida, o jornal Le Monde é salvo por investidores e o mesmo El País (modelo para o Estadão na internet, por exemplo) passa pelo mesmíssimo processo de "ressurreição", aqui se finge que o Brasil vive numa "realidade paralela"... A classe C ascende socialmente, as tiragens do papel aumentam, termina-se com a impressão de que, como a crise do subprime, essa crise dos jornais não vai se abater sobre o nosso País. Torce-se, apesar de tudo, pela independência da Piauí. A fim de que pressões similares não comprometam, justamente, o jornalismo investigativo da revista...
>>> João Moreira Salles e o fim | O jornalismo investigativo americano luta para sobreviver
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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